Ex-diplomata admite que EUA sabiam do roubo de bebês durante ditadura argentina

Elliott Abrams, ex-funcionário do Departamento de Estado norte-americano, afirma que se sabia do plano de entregar crianças sequestradas a famílias 'leais' ao regime militar

São Paulo – O ex-subsecretário de Direitos Humanos do Departamento de Estado norte- americano Elliott Abrams afirmou que os Estados Unidos tinham conhecimento de que a ditadura militar na Argentina (de 1976 a 1983) matinha um plano organizado de roubos de bebês de presos políticos. Ele ocupou o cargo durante o governo Ronal Reagan (de 1981 a 1989).

Abrams confirmou que, durante os anos em que os militares estiveram à frente do governo argentino, ele tomou conhecimento de que “muitas crianças” estavam sendo sequestradas ilegalmente e entregues a “famílias leais” ao regime militar. Abrams disse que ele mesmo sugeriu aos militares que a Igreja Católica poderia ajudar a resolver o “terrível” problema.

O diplomata afirmou que, das muitas juntas militares que governavam países da América Latina, ele não se lembra de outro caso que envolvesse o sequestro de bebês. Para Elliot Abrams, a Argentina promoveu o pior tipo de violações a direitos humanos com crianças em todos os países da América do Sul.

Abrams disse ter se encontrado com o embaixador argentino nos Estados Unidos, Lucio García del Sola, no dia 3 de dezembro de 1982, da sede do Departamento de Estado. Foi naquela ocasião, segundo ele, que García del Sola qualificou o caso como “um problema complicado de resolver”.

“Sabíamos que os bebês estavam sendo tirados de suas famílias e entregues a outras famílias quando seus pais estavam presos ou mesmo já mortos”, afirmou Abrams, segundo o jornal argentino Pagina 12.

O americano confirmou que o embaixador argentino prometeu-lhe conversar sobre esse assunto na capital, Buenos Aires, e que ele estava completamente de acordo para que o problema fosse resolvido com um comissão formada pela Igreja e também por médicos.

Quando questionado sobre o número exato de bebês sequestrados pelos militares ou mesmo por cúmplices civis, Abrams respondeu: “Sabíamos que não eram só um ou dois bebês, mas sim que existia um plano, porque havia muita gente que estava sendo assassinada ou presa”.

 

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