‘África será ponto de partida e prioridade para a FAO’, diz Graziano

Mãe somali segura criança com carência alimentar severa; fome em países africanos acende alerta da ONU (Foto: CC/UN Photo/Stuart Price) São Paulo – O novo diretor-geral da Organização das Nações […]

Mãe somali segura criança com carência alimentar severa; fome em países africanos acende alerta da ONU (Foto: CC/UN Photo/Stuart Price)

São Paulo – O novo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva prometeu nesta terça-feira (3) dar prioridade à erradicação da fome na África como ponto de partida na luta para eliminar a fome no mundo. A declaração foi dada à Rádio ONU, em sua primeira entrevista à frente do órgão, assumido por ele no domingo (1).

“A África continuará como prioridade de meu mandato. Vamos aumentar os recursos destinados ao continente, mas a distribuição será feita de forma desigual, vamos favorecer os países em situação mais crítica”, disse, assinalando que participará no fim deste mês da reunião da União Africana. “Não há mais tempo a perder se quisermos reduzir o número de pessoas que sofrem com a fome.”

No chamado “chifre da África” (Etiópia, Quênia, Somália, Djibouti), a pior seca das últimas décadas vitima cerca de 13 milhões de pessoas com a escassez de água e de alimentos, em uma tragédia que exige ajudas humanitárias rápidas, mas também eficientes.

Segundo Graziano, é preciso que a comunidade internacional, além de financiar uma intervenção emergencial para a região, também invista na agricultura a longo prazo, de forma a evitar novas crises alimentares, tanto na África, quanto em outros continentes. “Não há mágica para combater a fome”, observou.

Graziano ressaltou ainda que a solução do problema não é exclusividade dos governos do mundo, mas também da sociedade civil e do setor privado. “Todos têm um papel a desempenhar para erradicar a fome dos menos favorecidos.”

Sul-Sul

O executivo da FAO falou também, em sua primeira entrevista coletiva, que planeja estimular a cooperação Sul-Sul na área agrícola, como forma de ampliar a produtividade das áreas agrícolas e conquistar a segurança alimentar. 

“Neste momento de turbulência financeira no mundo desenvolvido, os países emergentes têm de assumir maiores responsabilidades. E é no Sul que temos atualmente o maior elenco de tecnologias ecologicamente adaptadas para o desenvolvimento da agricultura em outras partes do mundo”, disse Graziano. Ele citou a Argentina como exemplo de país que alia a tecnologia ao cultivo eficaz de alimentos. “Ela (Argentina) produz mais de 95% de seus grãos – trigo, milho e soja – pelo cultivo direto, sem provocar erosão do solo. Este é só um exemplo de tecnologia moderna e revolucionária, que pode ser estendida a outros países (por meio da Cooperação Sul-Sul).”

Graziano, que foi ministro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e comandou o Fome Zero, disse ser “muito importante que cada país encontre seu próprio caminho para sair da fome”. O caso brasileiro, lembrou, “deve ser adaptado para os sistemas locais para funcionar”.

Etanol

Graziano fez um alerta também sobre a destinação de áreas agriculturáveis para a produção de biocombustíveis. Ele citou um estudo realizado pela Comissão Econômica Para a América Latina e Caribe (Cepal) sobre os impactos da produção do etanol na região.

“Nós precisamos ver que países podem ou não produzir biocombustível sem afetar a segurança alimentar, porque a segurança alimentar deve ter sempre prioridade. Na América Latina, a conclusão a que se chega é que somente quatro países da região podem expandir a produção de biocombustível sem colocar em risco a segurança alimentar: Argentina, Brasil, Colômbia e Paraguai”, comentou.

Segundo o dirigente, o biocombustível produzido pela cana-de-açúcar, feito no Brasil, não impacta na produção de alimentos, em contraponto ao biocombustível baseado no milho, e produzido largamente nos EUA.

Mercado

Por fim, Graziano alertou que os preços dos alimentos devem continuar voláteis, o que pode ser um complicador no combate à fome do mundo. “Acreditamos que os preços não vão subir, mas também não devem descer rapidamente, haverá reduções, mas não será uma queda drástica, a volatilidade vai continuar”, afirmou.

A FAO previu, em relatório publicado em novembro do ano passado, que, por força das leis de mercado, os preços dos alimentos deverão ser mantido em níveis elevados em 2012. O estudo salientava que o custo dos alimentos subiu mais de um terço durante 2011 justamente nos países mais pobres.

Com agências internacionais e Agência Brasil