Reunião do G20 começa com dúvida sobre Europa e crescimento menor dos EUA

Ativista no acampamento do movimento Ocupe Wall Street, em Nova York; protestos diante do impasse do capitalismo (Foto: © Lucas Jackson/Reuters) São Paulo – Os líderes das maiores economias mundiais […]

Ativista no acampamento do movimento Ocupe Wall Street, em Nova York; protestos diante do impasse do capitalismo (Foto: © Lucas Jackson/Reuters)

São Paulo – Os líderes das maiores economias mundiais dão início nesta quinta-feira (3) em Cannes, na França, à tentativa de resolver uma das crises mais profundas do capitalismo. A reunião do G20, o grupo dos países mais desenvolvidos ocorre em um contexto em que União Europeia e Estados Unidos se veem novamente afetados pelo baixo crescimento, um problema iniciado em 2008 e que neste ano ganhou novos contornos.

Se há três anos os bancos estavam no centro do impasse, agora a capacidade dos Estados pagarem suas dívidas soberanas é colocada em questão. É justamente a origem os recursos que socorreram as instituições financeiras e ajudaram a reaquecer a economia que agora concentra as preocupações.

Uma das dúvidas que pairam sobre o encontro, que será concluído nesta sexta (4), diz respeito à possibilidade de se encontrar uma saída conjunta para o problema. Os “remédios” impostos até agora pela União Europeia às nações mais afetadas do bloco têm suscitado revoltas populares e despertado críticas dos países emergentes, como o Brasil. Mesmo em outros países ricos, como os Estados Unidos, protestos como o Ocupe Wall Street mantém o tom da contestação aos efeitos das medidas sobre os 99% da população que não se beneficia do mercado financeiro.

O que é o G20

O grupo dos 20 países mais desenvolvidos do mundo (G20) foi formado em 1999, como forma de fazer ampliar colegiados mais seletos que despontavam na definição dos rumos da economia mundial – como o G8, das sete maiores potências mais a Rússia, além do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird). Porém, foi a partir de 2008, durante a crise financeira internacional que o grupo ganhou protagonismo, ao concentrar os debates sobre formas para superar a recessão que se avizinhava.

Atualmente, participam as sete maiores economias do mundo – membros do antigo G7 – mais 12 maiores economias emergentes. Além disso, há uma representação geral da União Europeia, por meio do presidente em exercício do bloco do Velho Continente. O FMI e o Bird também participam.

Sete maiores

  • Alemanha
  • Canadá
  • Estados Unidos
  • França
  • Itália
  • Japão
  • Reino Unido

Emergentes

  • África do Sul
  • Arábia Saudita
  • Argentina
  • Austrália
  • Brasil
  • China
  • Coreia do Sul
  • Índia
  • Índia
  • Indonésia
  • México
  • Rússia
  • Turquia

E ainda:

  • União Europeia
  • FMI
  • Bird

“Nunca vi tanta determinação para agir de uma forma coordenada”, garantiu a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, a respeito do compromisso dos líderes da zona do euro em dar um fim à crise. “Claro que há obstáculos no caminho, às vezes grandes obstáculos, mas o que importa é o que foi acordado em 26 de outubro.”

O pacote fechado em 26 de outubro é fruto de discordância por parte da população. A Grécia, principal afetada pelas medidas impostas recentemente, que preveem cortes de investimentos, de direitos sociais e de salários, pretende convocar um referendo para consultar a sociedade, uma medida que não é vista com bons olhos por chefes de governo das maiores nações europeias e por investidores financeiros.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, pretendem demover o primeiro-ministro grego, George Papandreou, de sua ideia, por temerem que o povo vote contra medidas impostas pela cúpula do Velho Continente. Na quarta-feira (2), líderes do bloco econômico anunciaram congelamento da ajuda financeira até que haja definição, sugerindo ainda que a rejeição ao acordo significaria para os gregos deixar a zona do euro.

Enquanto isso, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, revisou para baixo a projeção de crescimento da economia nacional para este ano. Agora, a expectativa é fechar 2011 com uma expansão de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB), contra um intervalo entre 2,7% a 2,9% na estimativa anterior. “Há riscos significativos sobre o panorama econômico, incluindo as tensões nos mercados financeiros globais”, apontou o comunicado da instituição, que, no entanto, manteve inalterada sua política monetária. 

Emergentes

A presidenta Dilma Rousseff deve reafirmar no encontro aquilo que disse na abertura da última sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, e do último giro pela Europa, no mês passado. Nessas ocasiões, ela repetiu aquilo que tem dito nos discursos feitos dentro do país, que não acredita que a crise irá se solucionar com cortes que provoquem recessão.

O governo brasileiro considera que os emergentes devem apresentar propostas em bloco. Na quarta-feira (2), primeiro dia de agenda oficial em Cannes, Dilma se encontrou com o presidente da China, Hu Jintao. Nesta quinta, estão previstas reuniões com o presidente da Indonésia e com o primeiro-ministro de Cingapura. 

Dilma pensa que o caminho é seguir os passos do Brasil, que em 2008 apostou na força do mercado interno e no aumento dos investimentos públicos como forma de assegurar um impacto menor sobre a economia, criando empregos e ampliando a arrecadação da União. “Não por uma soberba em que olhamos para o mundo e dizemos ‘ainda bem que não somos eles’, mas pela certeza de quem passou por enormes desafios e os superou”, afirmou a presidenta em discurso feito nesta semana.

Quando pontuou, durante a viagem à Europa, que faltava uma coordenação política e a adoção de medidas antirrecessivas para dar fim à crise, ela foi criticada por setores da imprensa brasileira, que viram na sugestão um gesto de arrogância.

Agora, um dos relatórios que serão analisados na reunião do G20 sugere que injetar mais dinheiro na economia mundial de maneira ordenada é a solução. Tidjane Thiam, organizador do documento e presidente do Painel de Infraestrutura do grupo, acredita que líderes mundiais aprovarão um plano para impulsionar o investimento em infraestrutura em países em desenvolvimento, o que inclui a reforma do Banco Mundial e seus pares regionais, mas não atinge os contribuintes.

“Precisamos de crescimento. Não vamos sair dessa apenas com a redução dos déficits”, disse à agência Reuters, defendendo que as nações mais ricas têm um enorme caixa acumulado que está parado por conta dos quadros recessivos internamente. “Em um momento era importante convencer todos de que precisávamos cortar déficits, e chegamos lá, mas agora todo mundo está pensando ‘qual é a mensagem positiva disso e como é que vamos tirar as pessoas dessa situação pensando apenas em cortes e cortes?'” 

Com informações da Reuters

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