Em crise, europeus temem concessões à China e até ‘colonização invertida’

Recorrer aos emergentes para superar a crise poderia limitar negociações

São Paulo – Diante da dificuldade em manter o pagamento de suas dívidas soberanas, países europeus dão sinais de preocupação com a possibilidade de terem de recorrer à ajuda de nações emergentes para contornar a crise. Parte da preocupação envolve concessões à China e até o risco de “colonização invertida” da Europa. Embora seja uma das soluções mais cotadas como encaminhamento da reunião do G20 – grupo dos países mais desenvolvidos economicamente – realizada entre esta quinta e sexta-feiras (3 e 4), em Cannes, na França, o temor é de ingerência sobre os governos.

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, que ocupa o comando rotativo do G20 atualmente, descartou esse tipo de ameaça da China à zona do euro. Mas a oposição francesa de centro-direita fez críticas ao apelo feito “a uma ditadura comunista”. “A ajuda da China significa uma perda de independência para a Europa”, disse François Bayrou, presidente do partido MoDem, segundo a BBC. “Sermos obrigados a proclamar ao mundo que vamos recorrer à China para nos reequilibrarmos significa que teremos menos armas para negociar assuntos cruciais com esse país”, avalia.

O que é o G20

O grupo dos 20 países mais desenvolvidos do mundo (G20) foi formado em 1999, como forma de fazer ampliar colegiados mais seletos que despontavam na definição dos rumos da economia mundial – como o G8, das sete maiores potências mais a Rússia, além do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird). Porém, foi a partir de 2008, durante a crise financeira internacional, que o grupo ganhou protagonismo, ao concentrar os debates sobre formas para superar a recessão que se avizinhava.

Atualmente, participam as sete maiores economias do mundo – membros do antigo G7 – mais 12 maiores economias emergentes. Além disso, há uma representação geral da União Europeia, por meio do presidente em exercício do bloco do Velho Continente. O FMI e o Bird também participam.

Sete maiores

  • Alemanha
  • Canadá
  • Estados Unidos
  • França
  • Itália
  • Japão
  • Reino Unido

Emergentes

  • África do Sul
  • Arábia Saudita
  • Argentina
  • Austrália
  • Brasil
  • China
  • Coreia do Sul
  • Índia
  • Índia
  • Indonésia
  • México
  • Rússia
  • Turquia

E ainda:

  • União Europeia
  • FMI
  • Bird

A “guerra cambial”, como definiu o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, é um dos temas da reunião do G20. A China controla a cotação de sua moeda, o iuan, mantendo-a desvalorizada frente ao dólar e ao euro, o que favorece exportações de bens industriais para países ricos. Com isso, os produtos dessas nações tornam-se menos competitivos frente aos do gigante asiático. O tema é motivo de queixas antigas de europeus e dos Estados Unidos ao governo chinês. Outro tema sensível que poderia ser calado pela ajuda é a pressão contra violações de direitos humanos e superexploração de trabalhadores.

Embora veja agora com bons olhos a possibilidade de a China comprar títulos da dívida italiana, o ministro das Finanças do país, Giulio Tremonti, havia cunhado o termo “colonização invertida”, da China à Europa, em um livro publicado há três anos. O país governado por Sílvio Berlusconi é visto como um possível centro da crise, em situação semelhante à que atinge atualmente a Grécia. Além dessas duas nações, Portugal, Espanha e Irlanda do Norte são incluídos na sigla “Pigs” – formada pela inicial dos nomes em inglês desses países.

O francês Daniel Cohn-Bendit, deputado do partido verde no Parlamento europeu, vê o continente se entregando “com os pés e as mãos amarradas aos emergentes”. Isso impediria qualquer negociação de proteção contra efeitos sociais e ambientais da globalização. Para ele, demandar limites aos emergentes não é compatível com pedir que eles paguem a “conta da crise financeira”.

Ajuda

A reunião da cúpula do G20 ocorre em meio a incertezas na Europa. Esperava-se que o acordo obtido entre a União Europeia e a Grécia, na semana passada, com moratória de metade da dívida do país, pudesse aliviar tensões. No entanto, a decisão do primeiro-ministro grego,
George Papandreou, de convocar um plebiscito para que a população aprecie se concorda com o pacote de medidas recessivas esfriou os ânimos.

As exigências dos demais países europeus incluem cortes de gastos públicos, perda de direitos sociais e devem provocar recessão e desemprego. Com isso, é provável que a população rejeite a fórmula.

Independentemente do caso grego, é provável que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira precise de reforço – de 50 bilhões a 100 bilhões de euros – para socorrer outras nações. Esse é uma das formas em que a China poderia entrar. As reservas do governo da nação asiática alcançam US$ 3,2 trilhões, dos quais até US$ 500 bilhões são em títulos de dívida de países europeus.

Com informações da Agência Brasil

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