Cúpula do G20 termina sem referendo da Grécia e sem solução para a Europa

Economia do Brasil é citada em documento final entre aquelas que têm capacidade de garantir o crescimento mundial e de socorrer as demais nações em caso de agravamento da crise

A presidenta do Brasil, Dilma Rouseff, aposta que é mais interessante promover aportes no FMI (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – Acabou sem uma proposta concreta para a solução da crise europeia a Cúpula do G20 realizada em Cannes, na França. O encontro, que durante dois dias mobilizou os chefes de governo das maiores economias globais, é mais uma das reuniões multilaterais que terminam sem claros avanços em meio a discordâncias sobre como resolver os problemas que afetam o mundo.

A zona do euro, principal foco de preocupação econômica neste momento, obteve apoio formal para levar adiante os planos de redução do endividamento. Os países da região se comprometeram a adotar algumas medidas para a recuperação local e para garantir a estabilidade da moeda única. Por outro lado, houve relutância em investir no Fundo Europeu de Estabilização (EFSF, na sigla em inglês), montado para que se colabore financeiramente para reverter o atual quadro. “Quase não há países aqui que disseram estar prontos para reforçar o EFSF”, afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel. 

O Brasil foi um dos que apostaram que segue mais interessante promover aportes no Fundo Monetário Internacional (FMI). A presidenta Dilma Rousseff afirmou em Cannes que é a maneira mais segura de dar a contribuição do país aos europeus. “Faço a contribuição para o FMI porque dinheiro brasileiro de reserva é dinheiro que você protege, foi tirado com suor do nosso povo, então, não pode ser usado de qualquer jeito. Aportamos no FMI pelo fato de que o fundo nos dá garantias”, disse.

A forma como esses novos investimentos serão feitos, no entanto, restou em suspenso, e não deve haver novidades até a reunião do próximo ano. Chegou-se a trabalhar com a expectativa de que o FMI passasse a contar com 1 trilhão de dólares em caixa para emprestar aos países em dificuldades, o que significaria um montante adicional de 300 bilhões em relação ao disponível atualmente, mas a proposta não avançou.

“Foi uma reunião que teve o mérito de colocar na ordem do dia, mais uma vez, a força do G20 no que se refere ao apoio, ao auxílio e à sustentação de políticas anticrise imediatas, de políticas que se dispõem a dar sustentação ao conjunto do sistema. É um sucesso relativo, na medida em que os países da zona do euro deram um passo à frente na forma de enfrentar a crise”, contemporizou Dilma. A presidenta havia manifestado mais uma vez antes do início da reunião que esperava que os europeus encontrassem uma solução para seus problemas, que têm resultado em ajustes fiscais drásticos que levam a um aprofundamento da recessão, à redução dos recursos investidos em proteção social e, como consequência, ao aumento das insatisfações populares. 

O documento final do encontro cita Brasil, Austrália, Canadá, China, Alemanha, Coreia e Indonésia como as economias sólidas, com contas públicas em dia, que estão em condições de estimular o crescimento mundial, de acordo com a agência de notícias BBC. Mais que isso, o relatório indica que estas nações devem adotar medidas de incentivo ao mercado interno caso a crise se agrave. 

Ainda é preciso esperar para saber como o povo grego vai reagir ao recuo na ideia de promover um referendo que os consultaria sobre o pacote de medidas imposto pela União Europeia e pelo FMI. A nação europeia, cuja taxa de desemprego atinge 15% da população economicamente ativa, é a que tem a pior relação dívida-Produto Interno Bruto, ou seja, é a que tem menos condições de honrar os débitos contraídos ao longo de anos. “A Europa precisa colocar sua própria casa em ordem”, pontuou a primeira-ministra australiana, Julia Gillard.

O primeiro-ministro George Papandreou sugeriu que a sociedade grega fosse chamada a opinar sobre o ajuste fiscal, que prevê uma forte redução de investimentos sociais ao longo dos próximos anos, e pode deixar o país em recessão durante parte desta década, com redução de salários. A Cúpula do G20 começou com esta questão pendente. França e Alemanha ameaçaram a Grécia com a expulsão da zona do euro caso o referendo definisse pela rejeição ao pacote. No fim, Papandreou foi obrigado a recuar e perdeu força dentro do país. 

Sem solução, a reunião terminou ainda com a Itália sendo pressionada a restaurar sua credibilidade nos mercados financeiros. Envolvido em denúncias de corrupção e em escândalos sexuais, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, não parece gozar da força política para levar adiante reformas no mercado de trabalho e na previdência. Agora, ele aceitou a supervisão trimestral de inspetores do FMI como forma de demonstrar aos investidores de mercado que terá como implementar as medidas. 

Devido ao tamanho de sua economia, a Itália apresenta um risco muito mais grave à zona do euro do que a Grécia. Com seus crescentes custos de endividamento e seu nível de dívida travado em 120% do PIB, a Itália é dona da terceira maior economia da zona do euro e do maior mercado de títulos públicos.

Com informações da Reuters e da Agência Brasil.

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