Pedido de reconhecimento da Palestina é simbólico, mas dá ânimo à população, diz pesquisador

Segundo o pesquisador Giorgio Romano, ida à ONU é para aproveitar a efervescência da Primavera Árabe e mostrar política incoerente de Washington

São Paulo – Com pedido formalizado, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) começa a discutir nesta quarta-feira (27) o reconhecimento da Palestina como estado membro da comunidade internacional. Para Giorgio Romano Schutte, professor da Universidade Federal do ABC, o pedido teve um caráter simbólico, mas dá novo ânimo à população palestina.

 Segundo Romano, é mais provável que a Palestina não seja reconhecida como membro pleno pelo Conselho de Segurança, mas obtenha o status de Estado “observador”. O Comitê de Admissão de Novos Membros deve analisar o pedido na sexta-feira (30), enquanto os debates podem levar semanas até serem concluídos

Palestina como Estado “observador”:

Caso o Conselho de Segurança da ONU não aprove a Palestina como Estado membro,  decisão da Assembleia Geral, quando todos os votos têm o mesmo peso, poderá oferecer à Palestina o status de “observador”. Na prática, a Palestina não teria poder político, mas poderia indicar representantes em algumas das comissões da ONU.

No último dia 23 o presidente da Autoridade Palestina, Mahmaoud Abbas, entregou o pedido de reconhecimento do Estado Palestino para ser apreciado pela ONU. “Em um momento em que o povo árabe afirma sua luta pela democracia (referindo-se à chamada Primavera Árabe), chegou a hora também da primavera palestina, a hora para a independência”, declarou Abbas. 

Segundo Romano, a chamada Primavera Árabe – onda de revoltas contra regimes autoritários no Oriente Médio – abriu as possibilidades para que os palestinos sirvam-se do momento em que todo o mundo direciona os olhos à região. A ideia, diz, é mostrar a incoerência política dos Estados Unidos, já que Washington se diz defensor da democracia, mas apoiam politica e militarmente regimes autoritários, como o do Egito e da Arábia Saudita, além de usarem a democracia como desculpa para bombardear a Líbia.

“A ideia é ganhar força, pois os palestinos sabem que se não se esforçarem agora, a questão da criação do Estado ficaria em segundo plano, porque o mundo está olhando mais para Egito, Tunísia e Líbia. Então o intuito é ‘dar um grito’, mostrando o quão incoerente é a questão da democracia do Ocidente”, ressalta.

Para o professor, ao se criar o Estado Palestino, abre-se um novo patamar na negociação da paz, pois, segundo ele, nenhum dos lados é ingênuo a ponto de achar que a paz “se faz no papel”. Portanto, como Israel é membro da ONU, é necessário que os dois Estados negociem no mesmo nível, ambos como membros da organização. “Para fortalecer a pressão para a criação da Palestina, o pedido deveria ter sido feito agora, nesta ocasião (a Assembleia Geral de 2011)”, pontuou.

Ao entrar com o pedido de reconhecimento do Estado – que deverá ter Jerusalém Oriental como capital -, Abbas pode ter aumentado a pressão sobre o assunto, conquistado mais nações favoráveis à causa palestina e conseguido isolar Israel. Porém, há quem acredite que todo o esforço pode resultar na paralisação das negociações na região, pois os dois lados, possivelmente, não terão nada de novo a oferecer para o avanço das negociações e os EUA serão reticentes a promover ativamente novas conversações.

No entanto, Romano considera que a provável paralisação das negociações ocorra, na maioria da vezes, por que  Israel insiste na construção de novos assentamentos nos territórios ocupados e que fariam parte do território do Estado Palestino. A reivindicação palestina é que se delimite seu Estado a partir das fronteiras de 1967, que incluem a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.

O governo israelense alega, porém, que a intenção dos palestinos, ao ser levada para a ONU, aumenta as tensões bilaterais e não resolve as disputas pendentes entre os dois lados. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu considera que a ida dos palestinos à organização significa uma interrupção indevida e precipitada do diálogo bilateral, feito com mediação dos Estados Unidos.
 

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