Somalis ‘sentem fome, mas não pedem comida o tempo todo’, diz médica

Quatro entre dez crianças de até cinco anos que chegam a Dadaab estão desnutridas (Foto: Brendan Bannon/ Médicos Sem Fronteiras) São Paulo – “Os somalis não possuem a mesma noção […]

Quatro entre dez crianças de até cinco anos que chegam a Dadaab estão desnutridas (Foto: Brendan Bannon/ Médicos Sem Fronteiras)

São Paulo – “Os somalis não possuem a mesma noção de fome que temos no Brasil”, conta a pediatra carioca Luana Lima, em uma conversa com o site de CartaCapital, por telefone, do campo de refugiados de Dadaab, no Quênia. O local recebe um intenso fluxo de refugiados da Somália em busca de alimentos e ajuda médica, somando 440 mil pessoas e com previsão para alcançar 550 mil até o fim do ano.

“No hospital, oferecemos alimento oito vezes para uma criança. Então a mãe dela me disse que seu filho não precisava comer tudo aquilo e que deveria dividir com os outros”, lembra a pediatra, que trabalha na unidade de tratamento de desnutrição do hospital da organização internacional Médicos Sem Fronteiras.

“Eles nunca foram acostumados a ter comida e sua dieta é diferente, então não chegam a ter essa noção de que não possuem tanta comida. Logicamente, sentem fome, mas não pedem comida o tempo inteiro”, explica.

Nos campos de Dadaab, após serem registrados em postos de controle, os refugiados recebem alimentos – providenciados pelo Programa Mundial de Alimentação da ONU – de acordo com os casos clínicos: crianças mal nutridas ganham mantimentos específicos com maior valor calórico e acompanhamento de “agentes comunitários”, que visitam as tendas também colhendo dados.

Essas informações serão compiladas em uma pesquisa do MSF, que ainda não tem níveis de mortalidade no campo disponíveis. “Precisamos saber o que está acontecendo, porque acreditamos que mais pessoas do que podemos alcançar estão morrendo. Precisamos nos focar em salvar vidas e nas formas de alcançá-las”, afirma a coordenadora médica da missão da MSF em Dadaab, a espanhola Natalia Cobo.

No local, a organização está fornecendo tratamento médico em dois dos quatro campos de refugiados, mas a condição está piorando. Cobo chega a comparar a situação no Quênia com a dos deslocados internos em Darfur, no Sudão, onde esteve em 2005 e 2008. “Em Darfur, tínhamos apoio psicológico para a população, laboratórios, enfim, era um hospital completo. Aqui, a dimensão das necessidades é muito alta. Estamos falando de quase 400 mil pessoas, é quase uma cidade”.

Uma configuração populacional que traz problemas comuns aos grandes centros urbanos, como a violência, a um local já atingido pela miséria. “Sabemos que há alguns bandidos em volta dos campos e há violência. Sabemos que no caminho homens estupram mulheres, além disso, nos extremos do campo é difícil controlar esses casos”.

Fonte: Carta Capital

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