Piñera: ‘Gostaríamos de educação grátis, mas nada é grátis nesta vida’

Presidente do Chile, que lançou mão de decreto do ditador Augusto Pinochet para reprimir protestos, acusa estudantes e professores de intransigência

Piñera acusa manifestantes de ação extremista e sectária (Foto: Divulgação)

São Paulo – O presidente do Chile, Sebastián Piñera, reafirmou sua intenção de não aceitar as reivindicações apresentadas por estudantes e professores, que há três meses realizam as maiores manifestações vistas no país sul-americano desde a redemocratização, em 1990. Segundo o jornal argentino Página12, Piñera considera que “alguém tem de pagar” pela educação.

“Todos gostaríamos que a educação, a saúde e muitas coisas mais fossem grátis para todos, mas ao fim e ao cabo nada é grátis nesta vida”, defendeu Piñera. Durante ato no Palácio La Moneda, o presidente conservador formulou ainda a ideia de que oferecer educação gratuita aos 10% mais ricos levaria a um quadro em que a sociedade como um todo estaria, com impostos, financiando a educação dos “mais afortunados”. 

O atual sistema educacional chileno é baseado em subsídios. O governo ditatorial de Augusto Pinochet promoveu incentivos ao setor privado com base no argumento de que as escolas, públicas ou não, deveriam concorrer entre si. Assim, os estudantes podem optar por estudar em uma unidade do Estado ou em uma privada, mantida graças às finanças estatais. No ensino superior, todas as instituições são pagas pelos alunos, em um modelo que faz com que os jovens fiquem endividados para poder estudar, um problema que está no cerne das massivas manifestações dos últimos meses.

Piñera tem apostado no fracionamento do movimento, uma estratégia que até agora não deu resultados. Em julho, ofereceu um pacote que aumentava os subsídios e garantia juros mais baixos aos universitários, o que de pronto foi recusado. Em meio a uma forte queda de popularidade, trocou oito ministros, entre eles o da Educação, Joaquín Lavín, desautorizado pelo próprio presidente nas negociações com os manifestantes. Depois disso, aprofundou sua proposta inicial, apresentando 21 pontos que reiteravam a visão de uma educação subsidiada.

“Gostaria de ver a outra cara destas mobilizações”, desafiou nesta quinta Piñera. “São muito mais coincidências que diferenças em matéria de educação”, garantiu. Em seguida, ele acusou: “Encontrar as diferenças é muito mais fácil. Basta manter atitudes maximalistas, extremistas ou intransigentes”.

Os estudantes pontuaram que nunca se fecharam ao diálogo, mas que esperam que o governo aceite rediscutir o sistema educacional como um todo, acabando com o lucro das instituições e o pagamento do ensino superior, democratizando o acesso às universidades. “Desafiamos o presidente a aceitar o plebiscito para que possa se pronunciar a maioria”, afirmou o vice-presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, Francisco Figueroa.

Na quarta-feira (10), 100 mil pessoas ganharam as ruas de Santiago para pedir que Piñera se disponha a debater um novo modelo para a educação do país. Na última semana, um outro ato havia sido duramente reprimido com base em um decreto de Pinochet que prevê que o Executivo deve autorizar reuniões públicas. Na ocasião, quase mil estudantes foram presos, o que levou a um novo protesto, então puxado pelos pais, pelas ruas da capital chilena.

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