Parlamentar norueguês indica Wikilealks ao Nobel por ajuda na luta por valores democráticos

Assenge sofre processo de extradição da Grã-Bretanha para a Suécia. Segundo seus aliados, ele é perseguido pelas revelações do Wikileaks (Foto: Andrew Winning/Reuters) São Paulo – O parlamentar norueguês Snorre […]

Assenge sofre processo de extradição da Grã-Bretanha para a Suécia. Segundo seus aliados, ele é perseguido pelas revelações do Wikileaks (Foto: Andrew Winning/Reuters)

São Paulo – O parlamentar norueguês Snorre Valen anunciou, em seu blog, a indicação do Wikileaks para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz de 2011. Em artigo publicado nesta quarta-feira (2), ele sustenta que o site teve importantes contribuições na defesa de valores democráticos, de denúncias de violações de direitos humanos e até ajudando a derrubar o governo da Tunísia, em janeiro deste ano.

As indicações para o Nobel foram encerradas na terça-feira (1º), quando o Comitê do Nobel norueguês encerra o prazo. Os cinco membros do painel têm até o fim do mês para sugerir seus concorrentes. Parlamentares da Noruega, professores de direito ou de ciência política e pessoas laureadas pelo prêmio em edições anteriores podem fazer indicações. O comitê, historicamente, não comenta a disputa nem confirma “inscrições” na disputa do prêmio.

“Tenho orgulho de indicar o Wikileaks para o Prêmio Nobel”, escreveu Valen. “Seria um crime banir e se opor ao direito de publicar informações assim. Deveria, em vez disso, ser protegido, independentemente do que nós pudéssemos pensar do conteúdo de alguns (ou mesmo todos) os documentos publicados”, opinou.

O principal porta-voz do site, o australiano Julian Assange, é alvo de um processo de extradição da Grã-Bretanha para a Suécia para ser interrogado num caso de suposto abuso sexual que, segundo ele e seus simpatizantes, é uma campanha destinada a fechar o WikiLeaks, uma organização sem fins lucrativos fundada por grupos de direitos humanos e pela sociedade civil.

O governo dos EUA deu diversos sinais de estar furioso com o WikiLeaks e seu fundador pela divulgação de dezenas de milhares de documentos secretos e telegramas diplomáticos que, segundo Washington, prejudicou os interesses norte-americanos no exterior, incluindo os esforços de paz.

Em 2010, o ativista chinês pró-democracia Liu Xiaobo foi o laureado. No ano anterior, o presidente dos EUA, Barack Obama, foi o vencedor. Em ambos os casos, houve polêmica e críticas ao Comitê do Nobel.

O prêmio foi criado pelo sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite, que disse em seu testamento que o laureado deveria ser aquele “que fez o melhor e maior trabalho para a fraternidade entre as nações, para a abolição ou redução dos Exércitos existentes e para a manutenção e promoção dos congressos da paz”.

Leia o artigo do parlamentar norueguês

Por que indiquei o Wikileaks para o Prêmio Nobel da Paz

Publicado originalmente no blogue de Snore Valen (em inglês)

Sempre é mais fácil apoiar a liberdade de expressão quando quem fala concorda politicamente com você. Este é um dos “testes” para valores liberais e democráticos no qual os governos tendem a falhar. No caso, os governos ocidentais têm uma longa história de tolerância a regimes opressivos que são “amigáveis” politicamente. As empresas de internet auxiliam a China a censurar mecanismos de busca. E muitos países respondem ao direito óbvio do Wikileaks de publicar material de interesse público, buscando “atirar no mensageiro”.

Publicar material considerado sigiloso pelo governo é um direito óbvio que qualquer jornal e veículo de mídia tem praticado por muitas, muitas décadas. Nesse sentido, o público se deu conta de abusos do poder pelo qual os governos deveriam prestar contas. A internet não muda isso – ela apenas faz a informação mais acessível, mais fácil de distribuiur e mais democrática no sentido de que virtualmente qualquer um com uma conexão de internet pode contribuir.

No entanto, muitos procuram redesenhar o mapa da liberdade de informação com o surgimento de instituições como o Wikileaks. Poderes políticos e instituições que ordinariamente protegem a liberdade de expressão de repente alertam contra o perigo, a ameaça à segurança, sim, até mesmo o “terrorismo” que o Wikileaks representa. Ao fazer isso, eles falham na defesa dos valores democráticos e dos direitos humanos. De fato, eles contribuem para seus opostos. Não é – e nunca deveria ser – privilégio de políticos regular quais crimes contra o público devem ou não ser discutidos, e por meio de quais meios de comunicação esses crimes deveriam se tornar conhecidos.

Liu Xiabao foi agraciado com o Nobel da Paz no ano passado por sua luta por direitos humanos, democracia e liberdade de expressão na China. Da mesma forma: o Wikileaks contribuiu para a luta global por esses valores ao expor (entre outras coisas) a corrupção, crimes de guerra e tortura – algumas vezes mesmo conduzidos por aliados da Noruega. E, mais recentemente, ao expor o arranjo econômico adotado pela família do presidente da Tunísia, o Wikileaks deu uma pequena contribuição para levar abaixo uma ditadura de 24 anos de duração.

Seria um crime banir e se opor ao direito de publicar informações assim. Deveria, em vez disso, ser protegido, independentemente do que nós pudéssemos pensar do conteúdo de alguns (ou mesmo todos) os documentos publicados. Tenho orgulho de indicar o Wikileaks para o Prêmio Nobel.

Snorre Valen, membro do Parlamento Norueguês

Tradução: Anselmo Massad

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