Costa do Marfim está à beira de um genocídio, alerta embaixador do país na ONU

Enviados da ONU acompanharam a votação em novembro: crise pós-eleição deixou 170 mortos (Foto: Onuci / divulgação) São Paulo – Em crise política após a realização de eleições em novembro, […]

Enviados da ONU acompanharam a votação em novembro: crise pós-eleição deixou 170 mortos (Foto: Onuci / divulgação)

São Paulo – Em crise política após a realização de eleições em novembro, a Costa do Marfim está à beira do genocídio, disse Youssoufou Bamba, novo embaixador do país na Organização das Nações Unidas (ONU). Ele alertou que os conflitos internos no país geraram uma série de graves violações de direitos humanos que podem se agravar.

A Costa do Marfim está à beira da guerra civil por causa da incerteza política gerada pelas eleições presidenciais de novembro, em que os dois principais candidatos alegam ter vencido. Cerca de 17 mil pessoas já fugiram do país para escapar da violência que se seguiu ao pleito, segundo a agência de refugiados da ONU (ACNUR). A Libéria foi o destino de 14 mil deles, enquanto o restante se dividiu entre outros países da região.

Bamba foi indicado por Alassane Ouattara, o candidato vencedor nas urnas e reconhecido internacionalmente como presidente eleito, e assumiu o posto na quarta-feira (29). Em entrevista coletiva, disse que 172 pessoas foram mortas nas últimas semanas “simplesmente porque queriam protestar, queriam falar, queriam defender a vontade do povo”.

“Achamos que isso é inaceitável. Logo, umas das mensagens que eu tento passar nas conversas que conduzi até o momento é que estamos à beira de um genocídio”, disse Bamba. Segundo ele, algumas casas foram marcadas de acordo com a origem tribal do morador.

Em seguida, Bamba afirmou: “Esperamos que as Nações Unidas sejam confiáveis e que as Nações Unidas impeçam violações e impeçam que as eleições sejam roubadas da população”.

O chefe das Forças de Paz da ONU na Costa do Marfim, Alain Le Roy, criticou a conduta da rede estatal de televisão do país, a RTI – sob controle de Laurent Gbagbo, atual presidente que recusa-se a deixar o cargo.

“As declarações que ouço na RTI nos deixam preocupados e chocados porque elas claramente incitam a população contra a Onuci (Missão das Nações Unidas na Costa do Marfim)”, disse ele.

Le Roy afirmou que o incidente em que um de seus homens foi ferido com um facão quando seu carro foi cercado por uma multidão “foi consequência direta de todo o incentivo ao ódio, mentiras e propaganda anti-Onuci”.

Intervenção estrangeira

Uma delegação de líderes do oeste africano foi à Costa do Marfim nesta semana para tentar persuadir o atual líder do país, Laurent Gbagbo, a deixar a Presidência. A delegação é constituída pelos presidentes de Benin, Cabo Verde e Serra Leoa, segundo anúncio da chancelaria beninense.

A visita de líderes à Costa do Marfim se segue a um comunicado do bloco regional de nações oeste-africanas (Ecowas), que na sexta-feira (24) ameaçou usar a “força legítima” caso Gbagbo se recuse a deixar o cargo e não aceite a vitória de seu adversário, Alassane Ouattara, reconhecido internacionalmente como o vencedor do pleito de novembro.

Até o momento, Gbagbo não tem dado sinais de que vá ceder. Na segunda-feira (26), um assessor do presidente, Yao Gnamien, disse à rede Al-Jazeera que os líderes estrangeiros têm primeiro de “ver a situação antes de decidir que ação deve ser tomada”.

“A ONU não pode usar a força contra o presidente. A União Africana não pode usar a força contra o presidente. Devem, primeiro, identificar claramente qual o motivo desta crise. Por que precisamos usar a força em algum momento?”, disse o assessor.

Gbagbo alega que a votação do dia 28 de novembro – que tinha como objetivo unificar o país após a guerra civil iniciada em 2002 – foi fraudada em áreas do norte do país, controladas por rebeldes aliados a Ouattara.

A comissão eleitoral do país declarou Ouattara vencedor do pleito, mas o Conselho Constitucional deu a vitória a Gbagbo, a despeito de queixas da comunidade internacional.

Apesar do apoio de países estrangeiros, Alassane Ouattara e seu primeiro-ministro, Guillaume Soro, continuam presos em um hotel em Abidjan, protegidos por tropas da ONU. Partidários de Gbagbo conhecidos como “jovens patriotas” ameaçaram invadir o hotel.

Com informações da Agência Brasil

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