Irã diz querer cooperação de potências em programa nuclear

Novas sanções não mudam programa, alerta governo iraniano. ONU pode discutir tema em 10 dias

São Paulo – O ministro das Relações Exteriores do Irã pediu nesta quarta-feira (2) que as potências mundiais cooperem com o país em relação ao seu programa nuclear e afirmou que novas sanções não convencerão Teerã a abandoná-lo. Apesar das declarações, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) pode apreciar a questão em 10 dias, segundo o embaixador mexicano na entidade.

Em relação ao plano de enriquecemento de material nuclear a níveis mais altos, o país alega tratar-se de um plano de emergência diante da possibilidade de não receber do exterior combustível para um reator usado para pesquisa médica. A afirmação foi feita por Ali Asghar Soltanieh, enviado de Teerã à agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em  Bruxelas, onde discutiu a atividade iraniana com o Parlamento Europeu, o ministro Manouchehr Mottaki afirmou que o Irã estava pronto para seguir o plano de troca de combustível fechado por Irã, Turquia e Brasil, que recebeu críticas das potências ocidentais. De acordo com o plano, o Irã receberia urânio altamente enriquecido, que diz precisar para usos médicos, em troca dos estoques de gradação mais baixa.

No entanto, Mottaki afirmou que o projeto iraniano de refinar o urânio em níveis mais altos, seria ampliado pelo governo caso o país não conseguisse obter o material de outra forma. “Definitivamente continuaremos com nossa produção de urânio (de grau mais elevado)”, afirmou Mottaki durante um encontro no Centro de Política Europeia em Bruxelas.

Ao comentar as críticas sobre o programa de troca de combustível, Mottaki afirmou que Washington está relutante em buscar uma solução diplomática. “Queríamos passar da postura com base no confronto para uma postura cooperativa. Agora acreditamos que há duas opções”, disse ele a jornalistas.

 

Mottaki encontrou-se com integrantes do Parlamento Europeu durante sua visita de dois dias, mas não com a chefe de política externa da UE, Catherine Ashton, que não se encontrava em Bruxelas.

Um porta-voz de Ashton disse neste mês que ela acredita que os esforços feitos pela Turquia e pelo Brasil poderiam ser um passo na direção correto, mas ainda permaneciam dúvidas sobre a proposta. Grã-Bretanha, França e Alemanha fazem parte de um grupo de potências globais que negociam com o Irã, que inclui ainda EUA, Rússia e China.

Fins médicos

A necessidade de manter o plano de enriquecimento em função da falta de garantias de fornecimento internacional é o argumento defendido pelo Irã também em relação a uso médico de material radioativo. “Temos de fazê-lo, já que estamos diante da falta de garantias legais de suprimento”, disse Ali Asghar Soltanieh.

O enviado de Teerã a Bruxelas sustenta que o país abandonaria os planos de enriquecer urânio a 20% caso a troca de combustível fosse confirmada.  “Temos de ser muito cuidadosos para não criar precedentes”, disse. Ele acredita que é preciso cuidado para não criar precedentes ruins ao país.  

De acordo com uma proposta redigida pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em outubro, o Irã entregaria 1.200 quilos de seu estoque de urânio pouco enriquecido – o suficiente para uma bomba atômica, caso fosse enriquecido a níveis mais altos – em troca dos bastões especiais de combustível.

No mês passado, Brasil e Turquia retomaram parte do plano, o que foi considerado uma forma possível de aliviar as tensões com o Ocidente, e o Irã anunciou ter concordado com a proposta.

Autoridades dos Estados Unidos e da Europa têm dúvidas em relação ao plano, por causa do início de um projeto de enriquecimento a uma escala maior no Irã e do crescimento dos estoques no país de urânio pouco enriquecido.

Conselho de Segurança

O enviado mexicano Claude Heller, que preside o Conselho neste mês, disse que especialistas dos 15 países-membros têm discutido o esboço, elaborado pelos Estados Unidos, e que o painel de 10 membros não permanentes está aguardando anexos que listam o nome de indivíduos e empresas que seriam incluídos na lista negra da ONU.

“Meu entendimento é que os copatrocinadores da resolução gostariam de ter uma ação imediata do Conselho de Segurança, para ter um voto (…) nos próximos 10 dias”, disse ele a repórteres. “Não temos uma data precisa ainda”.

A resolução, se adotada, irá impor a quarta rodada de sanções da ONU ao Irã. O esboço foi acertado no mês passado por EUA, Grã-Bretanha, França e Alemanha, junto com China e Rússia, que têm laços comerciais fortes com o país islâmico.

A tendência é de que até 12 dos 15 membros votem pela resolução. Turquia e Brasil, que mediaram um acordo de troca de combustível com o Irã em maio, e o Líbano devem se abster ou ser contrários ao texto.

Com informações da Reuters

 

 

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