Irã entrega detalhes de acordo sobre combustível nuclear à Aiea

Expectativa é impedir a aprovação de sanções contra iranianos no Conselho de Segurança da ONU

Brasília – O Irã entregou nesta segunda-feira (24) à Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) a carta com os detalhes do acordo de troca de material nuclear assinado na última segunda-feira (17) com Brasil e Turquia – cumprindo mais uma etapa dos termos do acerto firmado entre os três países.

Em nota, de acordo com a BBC Brasil, a Aiea confirmou que o diretor-geral da instituição, Yukiya Amano, se reuniu com representantes dos três países nesta segunda-feira. A carta é assinada pelo chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Salehi.

O documento agora deve ser avaliado por Estados Unidos, França e Rússia. O acordo, assinado há uma semana, prevê que o Irã troque 1,2 mil quilos de urânio levemente enriquecido a 3,5% por 120 quilos do produto enriquecido a 20%.

Com isso, a expectativa dos governos do Irã, Brasil e da Turquia é impedir a aprovação de sanções, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, contra os iranianos. No entanto, os Estados Unidos atuam paralelamente, levantando dúvidas sobre o eventual cumprimento do acordo e seus efeitos por parte do Irã, e mantêm a defesa das sanções.

Rússia

Antes de formalizar a entrega do documento à AIEA, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, apelara, no domingo (23) às autoridades da Rússia para que sejam “mais cautelosas” em relação à análise sobre o programa nuclear iraniano e o acordo que prevê a troca de urânio. As informações são da agência iraniana oficial de notícias, a Irna.

Ahmadinejad lembrou a relação antiga e pacífica que une a Rússia e o Irã. Mas o presidente evitou citar o fato de os russos terem apoiado o esboço de resolução em defesa das sanções econômicas apresentado pelos norte-americanos no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Ahmadinejad classificou a Rússia de um país “grande e honesto”. “Se eu fosse um oficial russo, eu seria mais cauteloso sobre o que eu digo e como eu ajo sobre esse vizinho grande e honesto”, disse. “O Irã nunca agiu contra o povo da Rússia”, ressaltou.

O apelo de Ahmadinejad ocorre uma semana depois de os Estados Unidos terem obtido, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o apoio da Rússia, França, Inglaterra e China em favor do esboço de resolução que define pelas sanções contra o Irã. Para os norte-americanos, o programa nuclear iraniano esconde a produção de uma bomba atômica.

“A Declaração de Teerã foi transparente e é uma nova chance para a cooperação internacional e interação construtiva”, disse o presidente. “Esperamos que os nossos países vizinhos e amigáveis apoiem firmemente a declaração e permitam que não ocorram desculpas para evitar sua execução”, acrescentou.

Irã e Bolívia

Ahmadinejad disse, ainda no domingo que seu país e a Bolívia conseguiram estabelecer uma posição diferenciada na comunidade internacional para lidar com o que chamou de “conspiração global” e, assim, ter condições de reivindicar direitos legítimos.

“O imperialismo está à beira do colapso”, afirmou Ahmadinejad, referindo-se sobretudo aos Estados Unidos, durante reunião com o embaixador da Bolívia no Irã, Jorge Miranda Luizaga, que entregou ontem suas credenciais.

O objetivo do presidente do Irã é reforçar a cooperação entre iranianos e bolivianos. Para Ahmadinejad, os Estados independentes e defensores da liberdade deveriam contribuir para promover a justiça, a paz e a segurança no mundo. “Todos devem ser respeitados com base no que determina a Justiça”, disse o líder político do país.

Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a entrega da carta à Agência de Energia Internacional de Atômica (Aiea) pelo Irã será o primeiro passo para o cumprimento do acordo sobre a troca de material nuclear.

“Tudo aquilo que foi acordado conosco, está começando a ser cumprido agora. Depois da carta vem as conversas com a agência, vem o depósito do urânio na Turquia, e depois, aí, o prazo para que o Irã receba o urânio já enriquecido”, avaliou Lula durante o programa de rádio Café com o Presidente desta segunda-feira.

Lula disse que o acordo foi a “abertura para começar as negociações” sobre o programa nuclear iraniano, que preocupa as potências ocidentais. “Nós não fomos lá para negociar acordo nuclear. Fomos lá para tentar convencer o Irã a aceitar uma proposta feita pela Turquia e pelo Brasil, de sentar à mesa de negociações, e isso nós conseguimos”, disse Lula.

Com isso, a expectativa dos governos do Irã, Brasil e da Turquia é impedir a aprovação de sanções, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, contra os iranianos. No entanto, os Estados Unidos atuam paralelamente, levantando dúvidas sobre o eventual cumprimento do acordo e seus efeitos por parte do Irã, e mantêm a defesa das sanções.