Comunidade internacional condena ataques israelenses a navios

Desproporcionalidade de investida militar contra frota humanitária em águas internacionais fragiliza argumento de 'direito a defesa' do país. Mas dificilmente haverá sanção internacional

São Paulo – O ataque do exército israelense a uma frota de navios de ativistas com ajuda humanitária à Faixa de Gaza, nos territórios da Autoridade Nacional Palestina (ANP), foi condenado por diversos chefes de Estado, incluindo países europeus, os Estados Unidos e o Brasil.

Pelo menos dez pessoas morreram e 30 ficaram feridas. A “Frota da Liberdade” era composta por três embarcações com 750 ativistas e 10 mil toneladas de alimentos e remédios. O governo israelense afirma que os soldados israelenses, da elite do exército nacional, teriam sido recebidos com facas e bastões.

Para o professor de relações internacionais da Pontífice Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Reginaldo Nasser, o ataque deixa Israel em uma posição de mais isolamento internacional. No entanto, as reações de outros países dificilmente representariam algum tipo de sanção efetiva no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Ele observa que é cedo para avaliar em detalhes a situação.

“O fato novo que preocupa os israelenses é o envolvimento da Turquia, há anos um parceiro do país, apesar de ser muçulmano”, afirma o especialista. Os navios eram originários de portos turcos, o que indica que o afastamento entre os países, iniciado em 2009, vem se intensificando. “Não por acaso, a Turquia participou do acordo com o Irã (em maio, com a participação do Brasil)”, exemplifica.

Recep Tayyip Erdogan, premiê do país, acusou Israel de “terrorismo de Estado” por impedir a chegada de ajuda humanitária a palestinos de Gaza. O vice-primeiro-ministro turco, Bulent Arinc, pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança e anulou manobras militares conjuntas com Israel.

Governos de países árabes como Egito e Arábia Saudita, que evitam posturas de conflito pelo menos desde 1973 – Guerra de Yom Kippur –, devem sofrer pressões internas, com protestos e manifestações.

Condenação, sem sanção

Enquanto o Conselho de Segurança prepara-se para apreciar os pedidos de sanção, por iniciativas dos Estados Unidos, contra o Irã, a comunidade internacional insinua levar também Israel ao mesmo fórum. Além da Turquia, a própria ANP defendeu o encaminhamento de resoluções no Conselho.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, mostrou-se chocado com o episódio. Ele pediu a instauração de um inquérito para apurar as causas do ataque e cobrou uma explicação urgente por parte de Israel.

A Alemanha, a França e a Inglaterra também condenaram o ataque. Em Londres, o ministro das Relações Exteriores, William Hague, defendeu o fim às “inaceitáveis e contraproducentes restrições impostas às ajudas encaminhadas ao território palestino”. Ele pediu moderação e respeito a normas internacionais.

“Toda a luz deve ser lançada sobre as circunstâncias desta tragédia, que enfatiza a urgência de reativar o processo de paz israelense-palestino”, afirmou o presidente francês Nicolas Sarkozy. Ele lamentou o uso desproporcional da força.

O porta-voz do governo alemão, Ulrich Wilhelm, também lamentou os acontecimentos. “Os governos da Alemanha sempre reconheceram o direito de defesa de Israel, mas esse direito deve acontecer dentro de uma resposta proporcional”, declarou, em uma entrevista coletiva.

Os Estados Unidos lamentaram a perda de vidas humanas no ataque. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, desmarcou uma visita à Casa Branca nesta terça-feira (1º), para acompanhar as investigações mais de perto. O porta-voz de Washington defendeu apenas investigação sobre o caso.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro manifestou “choque e consternação”. O embaixador israelense foi chamado ao Itamaraty para prestar esclarecimentos sobre o caso. O chanceler Celso Amorim pediu que a ONU tenha uma ação forte em relação a Israel. “Nossa atuação é no sentido de buscar a paz e o entendimento. Somos amigos de Israel, mas não é com esse tipo de ação intempestiva que Israel conseguirá a paz. Mas é vivendo em paz com seus vizinhos, com a Palestina, com os demais países árabes que os cidadãos israelense terão paz em seu território, que também precisa ser assegurada.”

Por fim, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, aproveitou o caso para voltar à carga contra Israel. “A ação desumana do regime sionista contra o povo palestino e para evitar o auxílio humanitário de chegar aos habitantes de Gaza não mostra a força desse regime, mas é um sinal de sua fraqueza, e tudo isso leva esse regime sinistro e falso mais perto que nunca de seu fim”, afirmou, segundo a agência iraniana.

“Israel cada vez extrapola mais os princípios básicos internacionais”, avalia Nasser. “É até meio ridículo, dada a descrição do próprio Haaretz (jornal israelense em inglês), a argumentação de que se trata de direito de defesa. Está claro que se extrapolou na reação”, defende.

Segundo Nasser, apesar da reação, nenhum país empregaria a força contra Israel. E, mesmo que uma sanção fosse levada ao Conselho de Segurança da ONU, a medida seria vetada pelos Estados Unidos. Na prática, isso significa que o padrão seria mantido em relação ao que vem ocorrendo desde a criação da organização.

Com informações da Reuters

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