Para professor, projetos diferentes para América do Sul explicam discórdia entre Chávez e Uribe

André Reis da Silva entende que venezuelano e demais países da região não têm qualquer interesse em forte presença militar dos Estados Unidos, cujo principal aliado é a Colômbia

Venezuelanos participam de referendo em outubro para manifestar se aceitavam as bases dos Estados Unidos na Colômbia. O vencedor foi o “Não” (Foto: Wiston Bravo/Governo da Venezuela)

A nova escalada de tensão entre Colômbia e Venezuela dificilmente levará a um enfrentamento militar, na avaliação de André Reis da Silva, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A atual troca de farpas, que começou com mortes na fronteira entre os dois países e teve o episódio mais recente na ameaça do presidente colombiano, Álvaro Uribe, de levar o caso à Organização dos Estados Americanos (OEA), é mais um episódio de um antigo entrevero. Desde que os dois países seguiram caminhos distintos, um em oposição aos Estados Unidos, outro em aliança ao país do Norte, não há ano que passe sem tensões de ambos os lados.

Álvaro Uribe vê Hugo Chávez como uma ameaça a seu plano de reduzir os índices de violência no país assolado há décadas pelos combates entre narcotraficantes, fortemente ligados ao poder, e as guerrilhas. Chávez, por sua vez, vê Uribe como uma ameaça militar devido à estreita relação com os Estados Unidos, que agora oficializaram a presença de seus soldados no território colombiano.

Para André Reis da Silva, o que está em jogo são projetos distintos de concepção das relações sul-americanas. “Chávez tenta, utilizando um pouco de retórica, evitar que um país muito forte, hostil a ele, com um projeto bastante diferente, seja uma ameaça. Não só ele, na verdade, mas nenhum país sul-americano tem interesse em presença militar muito forte dos Estados Unidos”, afirma.

De um lado, os Estados Unidos gostariam de ver a assinatura de tratados de livre comércio (TLCs) com o subcontinente e têm para isso a Colômbia como grande aliada. De outro, o Brasil gostaria da integração sul-americana sem a presença estadunidense, e é essa a visão que interessa à Venezuela.

Na avaliação do professor da UFRGS, a posição de Uribe pode custar um certo isolamento à Colômbia na região e, nesse caso, a tendência é recuar de uma aliança de semiexclusividade com os Estados Unidos para uma maior integração.

Colômbia e Venezuela têm balanças comerciais fortemente dependentes e complementares, mas vêm buscando a ampliação das relações com outros países. Esta semana, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, fez um apelo para que as duas nações aceitem a negociação.

“A reunião bilateral sugerida pelo governo do Brasil no marco do encontro dos países amazônicos em Manaus, no próximo 26 de novembro, se apresenta como uma valiosa iniciativa que pode ajudar na solução de tensões”, avaliou em comunicado.

Em outros momentos, o assunto foi debatido pela União de Nações Sul-americanas (Unasul), como na tensão entre Venezuela e Equador, de um lado, e Colômbia, de outro. O professor André Dias entende que a instituição tem se fortalecido nos últimos tempos e tende a se tornar um Mercosul ampliado. “Unasul é um espaço importante para debater. Para deliberar, ainda é complicado. Agora, promover um debate entre Venezuela e Colômbia pode limitar o espaço para conflito entre os dois”, afirma.

Farc

Grande propaganda do governo Álvaro Uribe, o combate às guerrilhas tem dado mostras de enfraquecimento nos últimos tempos. Além das denúncias de violações de direitos humanos, de abuso de poder e de manipulação de cifras, combates têm voltado a ocorrer.

Como nesta terça-feira (10), em que ao menos 40 pessoas morreram na cidade de Corinto, no sudoeste do país. De acordo com o Exército, guerrilheiros tentaram tomar o poder no município com o uso de granadas.

Em diversos momentos, Uribe acusou Chávez de colaborar com as Farc. Apesar de não esconder simpatia por setores de guerrilheiros que defendem a tomada de poder, o venezuelano nega as acusações. Na opinião de André Reis da Silva, a tentativa de internacionalização do conflito poderia abrir a brecha para uma ação multilateral de OEA, Organização das Nações Unidas ou Estados Unidos.