Honduras: Brasil e Venezuela manterão posição contrária à dos Estados Unidos

Presidente deposto Manuel Zelaya refuta possibilidade de voltar ao poder, e apuração dá o esperado: vitória do candidato conservador

O conservador Pofírio Lobo pretende negociar governo a governo a legitimação do processo eleitoral de Honduras (Foto: Oscar Garrido. Reuters)

O Brasil reafirmou nesta segunda-feira (30) que não vai mudar de posição em relação a Honduras, rejeitando o reconhecimento das eleições no país centro-americano. Em Portugal, o presidente Lula alertou que legitimar a votação em meio ao golpe de Estado pode ser um convite a novas derrubadas de governo.

“O Brasil não tem por que repensar a questão de Honduras. É importante ficar claro que a gente precisa, de vez em quando, firmar convicção sobre as coisas, porque isso serve de alerta para outros aventureiros”, disse o presidente.

A posição brasileira diverge da adotada pelo governo dos Estados Unidos, rapidamente seguida por Panamá, Colômbia e Peru, nações que com maior dependência econômica da maior potência mundial. O governo Barack Obama, sob críticas da gestão lulista, considera legítima a eleição hondurenha. Na visão do Departamento de Estado, trata-se de passo fundamental para encerrar a crise iniciada com o golpe de Estado de 28 de junho.

Até o momento, a maioria dos países latino-americanos está em dúvida quanto ao reconhecimento do processo eleitoral. Na América do Sul, no entanto, à exceção de peruanos e colombianos, as nações seguiram a linha defendida pelo Brasil. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou que não dará aval à “farsa” hondurenha.

Como esperado, a posição de Barack Obama sobre a questão centro-americana encerrou a fase de elogios ao novo presidente estadunidense. “O governo dos Estados Unidos já disse que vai reconhecer o resultado. Se dão conta do que é a moral dupla do império ianque e o discurso duplo de Obama?”, indagou Chávez.

O presidente Lula evitou críticas abertas a Obama e afirmou que, se não há discordância alguma entre dois líderes, “não tem graça”. Ao mesmo tempo, ele admitiu a possibilidade de países sul-americanos mudarem de lado com o passar dos meses.

Resultados

Deixada em segundo plano em meio ao golpe, a apuração dos votos de domingo consagrou a vitória do conservador Porfírio Lobo. Sem nenhuma surpresa, o fazendeiro de 61 anos do Partido Nacional obteve 56% dos votos, contra 38% de Elvin Santos, do Partido Liberal, ex-vice do deposto Manuel Zelaya.

“Sem temor a ameaças, sem deixar-se levar por presságios negros, hoje Honduras decidiu seu próprio futuro para terminar de uma vez por todas a crise que tanto nos afetou e prejudicou os mais necessitados”, disse Lobo a simpatizantes após declarar vitória.

Lobo havia dito, na semana passada, que depois da vitória iria bater à porta de todos os presidentes da região, incluído o Brasil, em busca de apoio para seu governo. Derrotado por Zelaya na eleição anterior, o futuro presidente é defensor da pena de morte e de endurecimento na política de segurança pública.

O regime liderado por Roberto Micheletti conseguiu exatamente aquilo que precisava anteriormente, que era ganhar tempo até as eleições. Agora, passada a votação e com apoio dos Estados Unidos, a expectativa é garantir que Honduras volte aos trilhos de um país com alto índice de pobreza, poder concentrado nas mãos de poucas famílias e alinhamento aos Estados Unidos.

O deposto Manuel Zelaya, por outro lado, afirmou que não aceita mais ser restituído ao cargo. O Congresso decide esta semana se determina a recondução. Mas parlamentares devem apoiar-se em parecer da Suprema Corte, cujos integrantes são nomeados pelos próprios políticos e, em muitos casos, são ex-deputados ou ex-senadores, para negar o direito a Zelaya. A essa altura, o presidente entende que voltar ao cargo à espera do início do próximo mandato seria legitimar o golpe.

Com informações da Reuters e da Agência Brasil.

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