Depostos e golpistas iniciam diálogo com mediação da OEA
Em rede nacional, líder do regime golpista dá nome a outro acordo, descartando o proposto pela Costa Rica, e tenta colocar-se no comando da situação
Publicado 07/10/2009 - 19h05
Representantes do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, dos golpistas que assumiram seu lugar e uma missão diplomática da Organização dos Estados Americanos (OEA) iniciaram nesta quarta-feira (7) um novo diálogo para tentar resolver a crise desencadeada pelo golpe de Estado ocorrido no dia 28 de junho.
O encontro foi convocado na noite de terça (6), em redes de rádio e televisão, pelo regime golpista encabeçado por Roberto Micheletti.
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Porém, a denominação utilizada por ele foi “Acordo de Guaymuras”, o que indicou uma recusa ao Acordo de San José, proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, e que contempla entre seus doze pontos a restituição de Zelaya.
“Considero o momento como oportuno para intensificar o caminho do diálogo nacional no Acordo Guaymuras. Meu governo convoca uma mesa de diálogo para abordar temas cruciais que já foram trabalhados no diálogo de San José, como o respeito aos poderes do Estado e a anistia”, declarou Micheletti.
Como exigiu o próprio golpista, participam das negociações três representantes de seu governo e o mesmo número da parte de Zelaya, que está hospedado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde o dia 21 de setembro, quando voltou a Honduras de maneira inesperada.
Os representantes de Zelaya são dois de seus ministros: Victor Meza (Interior) e Mayra Mejía (Trabalho), além de Juan Barahona, coordenador da Frente Nacional de Resistência contra o Golpe de Estado.
Já do lado de Micheletti, participam Vilma Morales, ex-presidente da Corte Suprema de Justiça, Armando Aguilar Cruz, um dos diretores do Banco central, e o empresário e político Arturo Corrales.
A missão da OEA, encabeçada pelo chileno José Miguel Insulza, secretário geral da entidade, conta com os ministros das Relações Exteriores do Canadá, Peter Kent; da Costa Rica, Bruno Stagno; do Equador, Fander Falconí; de El Salvador, Hugo Martínez; da Guatemala, Haroldo Rosas; da Jamaica, Ronald Robinson; do México, Patricia Espinosa; e do Panamá, Juan Carlos Martinez.
Além deles, também fazem parte da comitiva o subsecretário de Estado norte-americano para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon — indicado pelo presidente Barack Obama para ser o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil –, o secretário de Estado para a região ibero-americana da Espanha, Juan Pablo de Laiglesia, e os representantes permanentes perante a OEA de Argentina e Brasil, Rodolfo Gil e Ruy Casaes, respectivamente.
Na embaixada brasileira, Zelaya concedeu uma entrevista coletiva e revelou que advertiu o grupo de diplomatas para que não se deixassem manipular pelos representantes de Micheletti.
“Pedi à OEA que se mantenham firmes, e que de nenhuma maneira cedam a alguém que dá um golpe de Estado e é cúmplice de assassinatos”, afirmou.