Uribe desmente ministro e afirma que Colômbia não deixa Unasul
Para professor da UnB, posição adotada durante reunião desta semana em Quito é reafirmação de que, entre ajuda dos Estados Unidos e aproximação da região, Uribe fica com a primeira
Publicado 17/09/2009 - 17h09
Ao mesmo tempo em que desmentiu seu ministro, Álvaro Uribe pediu muita paciência nas próximas reuniões da Unasul ao discutir as bases dos EUA na Colômbia (Foto: Antônio Cruz. Agência Brasil)
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, desmentiu nesta quinta-feira (17) as declarações de seu ministro de Defesa, Gabriel Silva, que havia dito que o país poderia deixar a União de Nações Sul-americanas (Unasul). Para Uribe, “o fato de que se discuta nestas instituições e que um país como a Colômbia apresente seus pontos de vista me parece bom porque é esta a razão de ser das instituições, que devem ser fóruns de muita sinceridade”.
Esta semana, o ministro havia dito que seu país poderia abandonar a Unasul por não encontrar sensibilidade para temas como a instalação de bases dos Estados Unidos no subcontinente. A declaração foi dada durante a reunião de Ministros de Relações Exteriores e de Defesa do bloco, durante a qual a Colômbia acabou isolada ao negar-se a assinar uma declaração afirmando que as bases estadunidenses em seu território não serão usadas para ataques aos vizinhos.
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Alcides Costa Vaz, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), considera que a posição colombiana é apenas uma reafirmação. “A Colômbia sempre teve uma perspectiva de ter buscado apoio dos vizinhos para a questão interna e de não ter obtido. A partir de então, ela se vê legitimada na sua decisão de contar com ajuda dos Estados Unidos e de aprofundar isso”, afirma, acrescentando que, entre o apoio financeiro e militar estadunidense e a aproximação com a região, o governo de Uribe fica com a primeira opção.
Para o pesquisador, a Unasul tem oferecido espaço para o tratamento político das questões. “Mas dizer que ela tem se consolidado é diferente. Essa consolidação implicaria a capacidade de ter ou de definir linhas de ação e de ter uma influência importante na consecução dessas linhas, e isso não se verifica”, afirma.
Durante a reunião desta semana em Quito, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não escondeu a irritação com a posição da Colômbia, definida como inaceitável e como demonstração de que o governo Uribe resiste a uma “posição totalmente aberta e transparente com a região”. Frente ao que foi apresentado, um acordo feito e pronto para ser assinado, a atuação brasileira no caso resume-se ao que ainda era possível, afirma o professor, lembrando que cabe apenas exigir que a atuação dos militares dos Estados Unidos será restringida ao território colombiano.
Sobre os gastos crescentes de toda a região em equipamentos de defesa, com compras de caças, submarinos e armamentos, Alcides Costa Vaz considera que, ainda que não haja uma declaração de confiança entre os vizinhos, não é necessário ter grandes receios. “As decisões de gastos militares não têm sido tomadas na lógica de um país procurando equiparar ou superar as capacidades militares de outro, o que configuraria uma corrida armamentista. São necessidades individuais que não estão propriamente vinculadas a uma necessidade de superar vantagens de vizinhos no campo bélico”, pondera.