Uribe desmente ministro e afirma que Colômbia não deixa Unasul

Para professor da UnB, posição adotada durante reunião desta semana em Quito é reafirmação de que, entre ajuda dos Estados Unidos e aproximação da região, Uribe fica com a primeira

Ao mesmo tempo em que desmentiu seu ministro, Álvaro Uribe pediu muita paciência nas próximas reuniões da Unasul ao discutir as bases dos EUA na Colômbia (Foto: Antônio Cruz. Agência Brasil)

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, desmentiu nesta quinta-feira (17) as declarações de seu ministro de Defesa, Gabriel Silva, que havia dito que o país poderia deixar a União de Nações Sul-americanas (Unasul). Para Uribe, “o fato de que se discuta nestas instituições e que um país como a Colômbia apresente seus pontos de vista me parece bom porque é esta a razão de ser das instituições, que devem ser fóruns de muita sinceridade”.

Esta semana, o ministro havia dito que seu país poderia abandonar a Unasul por não encontrar sensibilidade para temas como a instalação de bases dos Estados Unidos no subcontinente. A declaração foi dada durante a reunião de Ministros de Relações Exteriores e de Defesa do bloco, durante a qual a Colômbia acabou isolada ao negar-se a assinar uma declaração afirmando que as bases estadunidenses em seu território não serão usadas para ataques aos vizinhos.

Alcides Costa Vaz, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), considera que a posição colombiana é apenas uma reafirmação. “A Colômbia sempre teve uma perspectiva de ter buscado apoio dos vizinhos para a questão interna e de não ter obtido. A partir de então, ela se vê legitimada na sua decisão de contar com ajuda dos Estados Unidos e de aprofundar isso”, afirma, acrescentando que, entre o apoio financeiro e militar estadunidense e a aproximação com a região, o governo de Uribe fica com a primeira opção.

Para o pesquisador, a Unasul tem oferecido espaço para o tratamento político das questões. “Mas dizer que ela tem se consolidado é diferente. Essa consolidação implicaria a capacidade de ter ou de definir linhas de ação e de ter uma influência importante na consecução dessas linhas, e isso não se verifica”, afirma.

Durante a reunião desta semana em Quito, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não escondeu a irritação com a posição da Colômbia, definida como inaceitável e como demonstração de que o governo Uribe resiste a uma “posição totalmente aberta e transparente com a região”. Frente ao que foi apresentado, um acordo feito e pronto para ser assinado, a atuação brasileira no caso resume-se ao que ainda era possível, afirma o professor, lembrando que cabe apenas exigir que a atuação dos militares dos Estados Unidos será restringida ao território colombiano.

Sobre os gastos crescentes de toda a região em equipamentos de defesa, com compras de caças, submarinos e armamentos, Alcides Costa Vaz considera que, ainda que não haja uma declaração de confiança entre os vizinhos, não é necessário ter grandes receios. “As decisões de gastos militares não têm sido tomadas na lógica de um país procurando equiparar ou superar as capacidades militares de outro, o que configuraria uma corrida armamentista. São necessidades individuais que não estão propriamente vinculadas a uma necessidade de superar vantagens de vizinhos no campo bélico”, pondera.

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