Minoria chinesa diz que 10 mil sumiram em uma noite de repressão

China condenou o governo japonês por não tomar medidas para impedir atividades separatistas

Rebiya Kadeer, líder uigur, acusa governo chinês (Foto: Yuriki Nakao/Reuters)

Tóquio – Quase 10 mil uigures envolvidos em distúrbios na região de Xinjiang, no noroeste da China, desapareceram em apenas uma noite de repressão, disse na quarta-feira (29) a líder uigur exilada Rebiya Kadeer, que pediu uma investigação internacional sobre o caso.

Kadeer deu essas declarações em Tóquio, que ouviu uma reclamação formal da China por sua visita. Pequim convocou o embaixador japonês para manifestar sua “forte insatisfação” e “exigir que o governo japonês tome uma ação efetiva para impedir atividades separatistas anti-China no Japão”, segundo a chancelaria chinesa.

Como parte da pior onda de violência étnica das últimas décadas em Xinjiang, uigures atacaram em 5 de julho membros da etnia han, a principal da China, em Urumqi, a capital regional. Os incidentes foram uma reação a ação policial contra manifestantes que protestavam contra o assassinato de operários uigures numa fábrica do sul da China.

Na semana passada, os hans de Urumqi começaram a realizar ataques para se vingar. “As quase 10 mil pessoas (uigures) que estavam no protesto desapareceram de Urumqi em uma noite”, disse Kadeer a jornalistas em Tóquio, com auxílio de um intérprete. “Se eles estão mortos, onde estão os corpos? Se estão detidos, onde estão eles?”

A ativista pediu à comunidade internacional que envie uma equipe independente de investigadores a Urumqi para apurar o que ocorreu. O número oficial de mortos dos distúrbios está em 197, a maioria dos quais eram chineses da etnia han. Quase todos os demais eram uigures, um povo islâmico, nativo de Xinjiang, mas que tem vínculos culturais com a Turquia e a Ásia Central.

Mais de mil pessoas foram detidas logo depois dos distúrbios, e outras 200 foram presas nos últimos dias, de acordo com a imprensa estatal. Não houve acusações formais contra nenhuma delas.

A China acusa Kadeer, que vive exilada em Washington, de promover distúrbios e espalhar boatos. O governo exultou ao apontar que fotos apresentadas por ela como sendo dos distúrbios de Urumqi na verdade vinham de um outro incidente, sem qualquer relação, em outra parte do país.

Kadeer, que rejeita as acusações chinesas, disse suspeitar que haja um número muito maior de mortes, pois recebeu relatos de disparos indiscriminados com armas de fogo durante a noite, quando a eletricidade da cidade foi cortada.

Um jornal chinês disse que o governo local desmentiu rumores, que vinham assustando a população han, de que os uigures estariam sequestrando hans para trocá-los por manifestantes presos.

Pequim não quer de modo algum perder o controle sobre Xinjiang. Esse vasto território faz fronteira com Rússia, Mongólia, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Afeganistão, Paquistão e Índia. Ali há abundantes reservas de petróleo, além de ser a maior região produtora de gás natural da China.

Fonte: Reuters

Reportagem adicional de Ben Blanchard e Lucy Hornby em Pequim