Especial Bolívia: sem mar há 130 anos

Mais do que uma briga histórica, a saída para mar é uma questão de soberania nacional para os bolivianos que reivindicam seu quinhão de terra até o Pacífico

Jovens marinheiros circulam uniformizados em La Paz (Fotos: Paula Sacchetta)

Copacabana – A Bolívia não é banhada ao longo de seu território por nenhum oceano, mas na Capitania dos Portos às margens do Lago Titicaca a inscrição “O mar é nosso por direito e recuperá-lo é nosso dever” revela mais do que uma questão histórica para o país que perdeu sua saída para o mar na Guerra do Pacífico contra o Chile entre 1879 e 1893.

O sub-oficial da Capitania de Copacabana, Victor Aranibar Mancilla, disse à Rede Brasil Atual: “temos saída para o mar sim, a Hidrovia Paraguai-Paraná, ali perto de Corumbá.”
No entanto só é viável chegar ao mar por rios navegáveis que passam por outros países. Mancilla explica que o problema é latente na consciência de todo e qualquer boliviano e que continuará assim até que tenha solução.

“O pior de tudo é que perdemos nosso mar injustamente para o Chile. O país vizinho não declarou guerra, simplesmente entrou em nosso território e nos surpreendeu”, afirma.

Em maio deste ano arquitetos chilenos pensaram em uma possível ‘solução’ para a questão: um túnel de 150 quilômetros que correria da fronteira do Chile ao Peru desembocando em uma ilha artificial no Pacífico construída com a própria terra retirada do túnel.

Capitania dos Portos em Copacabana (Foto: Paula Sacchetta)

Segundo a proposta o túnel e a ilha seriam território boliviano e as águas em volta, internacionais. A Bolívia ainda não se pronunciou oficialmente.

Mancilla diz que a proposta “é só mais uma entre tantas outras feitas pelos chilenos” e que o ideal seria um trecho de terra que interligue seu país ao Pacífico. “Não estamos cobrando nada do Chile, mas reivindicando um pedaço de terra que nos pertence e retirado de nós injustamente”, desabafa.

Bolívia mantém sua Marinha  no Lago Titicaca com aproximadamente 170 embarcações. Na Nova Constituição, promulgada em outubro de 2008, o tema é abordado. “É objetivo nacional da Bolívia recuperar sua saída ao mar” e “o Chile deve estar disponível para dar saída ao mar à Bolívia”, diz o texto.

O presidente Evo Morales ainda insinuou que poderá levar sua reivindicação à corte de Haia caso o Chile não atenda suas exigências.

Museu do Litoral BolivianoMuseu do Litoral Boliviano
Em La Paz, o Museu do Litoral Boliviano é prova da importancia da questão para o país. O local conserva pinturas e recriações das passagens históricas e objetos dos atores que protagonizaram a guerra contra o Chile. No site Bolivia.com há um especial de 2006 sobre a chamada Guerra do Pacífico sob o título “Sem mar há 127 anos”.

A Marinha no Titicaca

Ronald Jimenez

 Marinha Boliviana mantém sua frota de embarcações no lago navegável mais alto do mundo, 3800 metros acima do nível do mar, com profundidade média de 360 metros e 8.562 km².

O serviço militar na Bolívia é obrigatório para homens e dura um ano. Quem escolhe a Marinha estuda aproximadamente nove meses em La Paz e faz os treinos práticos durante três meses no Lago Titicaca, a partir do porto de Copacabana ou de Tiquina. Por isso é comum ver jovens marinheiros uniformizados em La Paz.  É o caso de Ronald Jimenez, 19 anos. “Mal posso esperar a hora de ir treinar no Titicaca”, diz.


A jornalista Paula Sacchetta acompanha um grupo formado por pesquisadores, professores, estudantes e militantes políticos brasileiros interessados em melhor compreender o processo de transformação por que passa a Bolívia e fará uma série de matérias especialmente para a Rede Brasil Atual reportando os acontecimentos no país de Evo Morales.

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