Retorno de Cuba à OEA mostra disposição dos EUA em ceder nas negociações

Para professor de Relações Internacionais da USP, processo de reingresso foi mais acelerado do que se esperava

O retorno de Cuba à Organização dos Estados Americanos (OEA) depois de quase cinco décadas é uma mostra da capacidade de articulação dos países latinoamericanos, de acordo com Rafael Villa, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais (Nupri) da USP. Para o professor, a diplomacia dos Estados Unidos não teria obtido sucesso se insistisse em impor condições para ceder, como a existência de uma democracia nos moldes pretendidos pelo país. Ele considera que não fazia sentido que o governo de Barack Obama mantivesse obstáculos a decisões que cabem aos cubanos, e não à OEA.

O governo de Honduras, logo após a resolução, manifestou a satisfação por ter sediado uma decisão histórica. A chanceler Patrícia Rodas considera que começou a ser escrito um novo capítulo “de solidariedade, de compreensão das diferenças, de respeito a nossas formas de organizar-nos, de organizar nossa sociedade, de organizar nossos direitos políticos”. Para ela, é possível lutar “pela transformação das circunstâncias adversas que golpeiam a um de nossos povos”.

A condição de membro da OEA garante a participação em acordos regionais e o direito a integrar debates sobre saúde e direitos humanos no continente. O governo de Cuba, no entanto, tem manifestado reiteradas vezes o repúdio à organização, considerada por Fidel Castro como uma cúmplice de crimes cometidos pelos Estados Unidos. Segundo Rafael Villa, a retórica logo encontrará um limite e a ilha deve protocolar “a médio prazo” o pedido de reingresso na OEA. “Há um ganho político em estar dentro da organização. A OEA mostrou que quer se adequar aos novos tempos. Sem dúvida, vem dando mostras de certo revigoramento na América latina, é um importante fórum ao qual Cuba na prática não pode dar-se o luxo de desprezar”, analisa.

Durante a 39ª Assembleia Geral da OEA, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, quis impor condições para o reingresso, o que fez com que muitos considerassem impossível algum desfecho positivo para o caso – ela deixou o encontro antes do fim. Agora, com o retorno de Cuba aprovado, é de se esperar que o governo de Barack Obama dê novos acenos para o fim do bloqueio que há décadas prejudica a economia da ilha. O coordenador do Nupri aponta que, neste caso, os Estados Unidos têm como fazer pressão por considerar que Cuba viola os direitos humanos de seus cidadãos, mas acredita que as negociações deveriam ser realizadas no âmbito exclusivamente comercial: “se os termos da barganha entre Estados Unidos e Cuba vão pelo caminho político, é um beco sem saída, fica muito difícil negociar. São condições das quais os cubanos não vão abrir mão”.

Na realidade, os Estados Unidos estão conscientes de que, durante o governo George W Bush, perderam a capacidade de iniciativa política em quase toda a América Latina, exceção feita a México e Colômbia. Ainda assim, não se pode deixar de lado a maior economia do mundo. Por isso, para o professor Rafael Villa, a proposta liderada por Rafael Correa (Equador) e Hugo Chávez (Venezuela) para fazer uma organização interamericana sem a presença estadunidense é “pouco realista. É difícil imaginar que um país com tanta influência no hemisfério possa ficar fora [da nova entidade]. É uma proposta mais ideológica do que prática”.

Leia também

Últimas notícias