Com gripe e crise, Argentina tem eleições legislativas domingo

Pesquisas mostram vantagem apertada de Néstor Kirchner na principal província do país e resultado é indicativo do que vai ocorrer nas presidenciais de 2011

A presidente Cristina Kirchner pode perder domingo a maioria na Câmara e no Senado. Oposicionistas têm falado nos últimos meses que ela precisa antecipar saída do governo (Foto: José Cruz. Agência Brasil)

A maior província argentina, Buenos Aires, tem cenário indefinido para as eleições legislativas de domingo. A liderança apertada cabe a Néstor Kirchner e Daniel Scioli, respectivamente ex-presidente e governador bonaerense, que dificilmente terão como dar à Frente para a Vitória os mesmos percentuais obtidos em outros tempos.

Atrás deles, mas próximos, vêm os PROperonistas, coalizão de direita encabeçada por Maurício De Narváez, empresário de origem colombiana que usou os próprios milhões para entrar na política – a chapa tem o apoio do prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, e do peronista Felipe Solá, ambos pré-candidatos a presidente em 2011.

A briga com o setor rural, que se arrasta há mais de um ano, e os indicadores de que a crise mundial chegou com relativa força à combalida economia argentina desgastam o kirchnerismo, que dificilmente terá como manter a maioria na Câmara e no Senado.

Além disso, um fator “apolítico” deixa o cenário mais complexo. O avanço do vírus influenza A H1N1, causador da gripe suína, pode afetar o índice de comparecimento às urnas e os cuidados vão até mesmo com a orientação de não usar a saliva na hora de manusear a cédula de papel. Medidas de orientação e prevenção estão sendo adotadas na capital, na província de Buenos Aires e na região Sul, principalmente na Terra do Fogo, onde há uma recomendação da Justiça para que a votação seja adiada.

De qualquer maneira, o dado principal estava dado meses antes do avanço da doença: os próprios políticos concordam que as eleições de domingo são uma espécie de plebiscito para o governo. Caso saiam derrotados, Cristina e Néstor Kirchner têm de torcer para que a lista encabeçada pelo ex-piloto de Fórmula 1 Carlos Reutemann em Santa Fé também perca. Se vencer e Kirchner perder, Reutemann larga como favorito às eleições presidenciais de 2011.

Na história recente argentina, nenhum governo que tenha perdido as legislativas conseguiu vencer as presidenciais seguintes. De qualquer maneira, o Partido Justicialista (PJ), conhecido internacionalmente como “peronista”, é o favorito para definir o próximo ocupante da Casa Rosada. Com integrantes que vão de uma ponta a outra do espectro político, a sigla consolidou-se como a principal da política argentina ao longo da década de 90 e da atual.

A União Cívica Radical (UCR), ainda que tenha revigorado parcialmente com a morte do ex-presidente Raul Alfonsín este ano, não tem feito frente ao justicialismo. Na província de Buenos Aires, por exemplo, a UCR comandada pelo filho de Alfonsín deve ficar em terceiro lugar, atrás de duas coalizões encabeçadas pelo PJ.

Nas três últimas eleições, duas presidenciais e uma legislativa, as distintas frentes peronistas enfrentaram-se como favoritas e, somadas, sempre passaram dos 50% dos votos. “O peronismo é a força política hegemônica da Argentina e todas as contradições do país se refletem no interior do peronismo”, sustenta Pascual Albanese, vice-presidente do centro de estudos Instituto de Planejamento Estratégico.

Na primeira votação depois da crise vivida pelo país entre 2001 e 2002, prevaleceu o caráter pessoal dos candidatos e o PJ lançou três nomes, saindo Kirchner o vencedor. “Isto mostra a debilidade dos partidos políticos, que não podem solucionar com eleições internas democráticas suas disputas e acabam socializando seus problemas em uma eleição nacional”, afirma Pablo Secchi, diretor da área de Instituições Políticas e Governo da organização Poder Cidadão.

A presidência derrubada nos últimos dias de 2001 era de Fernando de la Rúa, político da UCR que pediu o apoio justicialista, mas ficou sem a resposta que esperava e acabou deixando a Casa Rosada de helicóptero. O guru econômico de De la Rúa, no entanto, era o mesmo dos dez anos peronistas de Carlos Menem (1989-99). Domingo Cavallo, em última instância, foi apontado como o grande culpado pela crise de então.

Nos últimos anos, os argentinos passaram do “que se vayan todos” ao “que se quede quien sea”, ou seja, da agitada ordem para que saíssem todos os políticos ao conformado e desiludido “fique quem seja”. 

Com informações da Reuters.

Leia também

Últimas notícias