Metrô de SP e prefeitura de Kassab fizeram opção: informação pública para poucos

Em tempos de democratização da informação e de uma efervescente comunicação virtual, alguns órgãos públicos em São Paulo caminham no sentido contrário. Prefeitura da capital, nas mãos de Gilberto Kassab […]

Em tempos de democratização da informação e de uma efervescente comunicação virtual, alguns órgãos públicos em São Paulo caminham no sentido contrário. Prefeitura da capital, nas mãos de Gilberto Kassab (ex-DEM, rumo ao PSD) e a Companhia do Metropolitano (Metrô) parecem andar em um terreno que pode se mostrar soturno: a recusa em prestar informações públicas.

Numa mesma semana, pedidos de esclarecimentos e posição oficial feitos pela Rede Brasil Atual a esses dois órgãos terminou com sonoras negativas. Ambos mostraram predileção por escolher dois ou três veículos da velha mídia em detrimento de abrir informações de interesse dos cidadãos.

O debate é interessante em um período de discussão sobre a possibilidade de documentos ultrassecretos do governo serem mantidos eternamente em sigilo. E de restrição na divulgação, antes das licitações, dos valores previstos para obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.

Nada claro na Nova Luz

No meio da semana, a prefeitura de São Paulo agendou uma reunião técnica para mostrar a secretários municipais e a jornalistas o detalhamento do projeto Nova Luz. A iniciativa que pretende requalificar os bairros de Santa Ifigênia e Luz, na região central da capital, sofre questionamentos de moradores e comerciantes justamente pela falta de transparência com que são tratados os detalhes do plano. 

No que diz respeito à imprensa, a informação foi reservada a poucos veículos, pelo visto, escolhidos a dedo. Comunicados e entrevistas a jornalistas, para divulgar ações da prefeitura, normalmente são divulgados com antecedência, até porque quem divulga quer tanta cobertura e atenção da mídia quanto possível.

O esforço da reportagem foi tentar obter mais dados e garantir credencial para o evento. A primeira investida para confirmar a realização da reunião seguida de coletiva de imprensa foi encerrada com uma negativa da Secretaria de Desenvolvimento Urbano de que haveria encontro: “Não temos informação sobre o assunto”.

A redação de um outro veículo da imprensa, de distribuição gratuita, entrou em contato direto com a assessoria da prefeitura, que reagiu com supresa: “Como vocês souberam da reunião?”

No evento propriamente dito, poucos veículos acompanharam a apresentação do projeto, cujo impacto alcançará 50 mil pessoas no centro histórico de São Paulo. Além da Rede Brasil Atual e do jornal (quase clandestinos), apenas jornais convencionais e uma rede de TV participaram.

Imprensa diferenciada

Na sexta-feira (17), foi a vez da assessoria de imprensa do Metrô. A estatal ligada à Secretaria de Transportes Metropolitanos o governo paulista, comandado por Geraldo Alckmin (PSDB), decidiu manter uma estação no bairro de Higienópolis da futura linha 6-Laranja. O posicionamento ocorreu depois de inúmeras idas e vindas, manifestações de preconceito por alguns moradores do bairro e protestos por transporte público de qualidade (o Churrascão da Gente Diferenciada).

Ao ser procurada pela Rede Brasil Atual para confirmar com precisão a nova localização da parada e obter detalhes sobre o projeto, a resposta foi curta: “Leiam o que o Estadão escreveu e usem as informações deles”.

Diante do questionamento de outros pontos, novamente: “O diretor deu uma entrevista para o Estadão e outra para uma rede de TV e só. Ele avisou, que quem quiser obter informações leia ou assista esses veículos”.

Por dever de ofício, a conversa continuou, com insistência em se obter, de um órgão público, tratamento igual. Ou, pelo menos, apresentação das informações da fonte oficial — até porque, copiar de veículo alheio protegido por direitos autorais viola a lei. Afinal, não é muito democrático. “Isso quem acha é você”, retrucou a assessoria de imprensa do Metrô, sem muita paciência.

Perguntas sem resposta

Uma série de perguntas ficou sem respostas. Se a moda pega, dois ou três veículos de comunicação serão os intermediários oficiais, porta-vozes mesmo do discurso de certas prefeituras. Se for esse o caso, a imagem dessas empresas de comunicação correm o risco de ficar até chamuscada por tanto privilégio — porque algum tipo de contrapartida precisaria haver para garantir a diferenciação.

Por mais crítico que se possa ser em relação à mídia, é difícil acreditar que esse tipo de padrão lhes seja tão interessante.

Diz um preceito de comunicação, quem não se comunica, ou tem pouco a dizer ou muito a esconder.

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