Entrevista

APLetras tem muitos sonhos e desafios pela frente

Presidente Marcos Caramico quer ampliar o trabalho nas escolas e com a população

Integrantes da Academia Peruibense de Letras

Em 1995, um grupo de moradores de Peruíbe, com interesses culturais em comum, resolveu criar a Oficina Cultural Tom Jobim, para suprir a ausência de atividades artísticas na cidade. A partir desse núcleo, apresentações teatrais, exposições de artes plásticas, encontros de corais começaram a ser realizados. O coletivo eclético possibilitou maior contato entre os escritores locais, que passaram a se encontrar frequentemente. Nove anos mais tarde, em 21 de novembro de 2004, 26 escritores (entre amadores e profissionais) fundaram a Academia Peruibense de Letras (APLetras).

Em entrevista ao Brasil Atual, o presidente da entidade, Marcos Caramico, morador de Peruíbe há 15 anos, conta sobre os trabalhos desenvolvidos, as dificuldades do município na área da cultura, o avanço das novas tecnologias na leitura e na escrita e as projeções para o futuro.

O que é e quais são as principais atividades da Academia Peruibense de Letras?

A APLetras é uma entidade jurídica, privada, sem fins lucrativos. Apesar do nome “academia” ser forte, a ideia é reunir pessoas com o hábito de ler e escrever na cidade. Para fazer parte basta ser morador de Peruíbe e maior de 18 anos. Eu particularmente gosto de poesia.

As reuniões são realizadas todas as últimas quintas-feiras do mês, às 20 horas, na sorveteria B-ICE (na Avenida São João com a Rua dos Pescadores). Elas são abertas e funcionam como saraus, quase sempre temáticos sobre a vida e a obra de escritores. A participação da população ainda é pequena.

A APLetras desenvolve o projeto Literatura na Escola Integrada à Academia (LEIA) nas escolas estaduais. Alguns acadêmicos vão às salas do 6º ou 7º ano e discutem literatura, como e por que escrever, dão dicas de redação, poesia, etc. Após três meses, as crianças participam de um concurso, com prêmios para os três primeiros colocados. No ano passado, oferecemos a coleção do Harry Potter.

A cada dois anos, também lançamos uma publicação com contos, poesias e crônicas dos acadêmicos, tudo custeado por nós mesmos, a partir de uma mensalidade de R$ 15,00. Não recebemos nenhum fomento do poder público, mas estamos abertos à Prefeitura para qualquer parceria.

Quem são os expoentes da literatura na cidade?

Uma de nossas pioneiras de destaque no meio literário é a escritora e tradutora Eugênia Flavian. Ela possui livros publicados pela Editora Ática, além de dicionários de inglês e espanhol. A Eugênia nasceu na Romênia e morou em outros países antes de se radicar em Peruíbe. Recentemente traduziu dois livros do romeno que foram muito elogiados pela crítica literária. Penso que ela coloca a alma dentro da tradução.

Outro acadêmico é o escritor Arthur Meucci. Ele nasceu em São Paulo, mas teve as bases de sua formação cultural em Peruíbe. O professor universitário de filosofia e psicologia estudou em escola pública na cidade e por incentivo do professor Edwaldo de Camargo, também membro da APLetras, conseguiu se tornar um escritor renomado, com livros publicados pela Editora Vozes.

RBACaramico
Marcos Caramico presidente da APLetras

Peruíbe é uma cidade leitora? Os dispositivos móveis, como celulares e notebooks, têm ajudado as pessoas a ler mais? Os jornais e os livros ainda tem espaço nessa nova realidade?

Peruíbe não é leitora. Eu e a minha esposa abrimos a Livraria Caramix até para suprir essa carência da cidade e semear cultura e literatura, porque se eu te falar que dá dinheiro, não dá. Uma cidade sem livrarias favorece a governos que não querem que as pessoas tenham acesso a informação e educação. Eu também acredito que a biblioteca pública, por ser a única, deveria ser maior.

A informação está muito acelerada com as novas plataformas de mídia. Você está com o celular e com o computador e tem informação. A Internet pode estabelecer uma nova forma de leitura, mas depende muito de quem a usa, porque lá as pessoas também se perdem. Muitos ficam conectados apenas no Facebook.

Eu acho que os jornais já estão esquecidos há um tempo. Haja vista Peruíbe, que tem quase 60 mil habitantes, e os assinantes de Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e A Tribuna não chegam a 1% da população. As pessoas vão buscar informação nas novelas, que não induzem a pensar sozinho. Já dizia Castro Alves: “Bendito é aquele que semeia livros e faz o povo pensar”. Maldito é o que semeia informação pronta e deixa o povo burro.

Quais são os sonhos e ambições da APLetras?

Nós temos vários projetos. Como sonhar não paga imposto e não gasta nada, pensamos numa biblioteca ambulante, dentro de uma van, que percorresse os bairros, para levar os livros até as pessoas. Neste trabalho, gostaríamos de manter um contador de histórias, para envolver as crianças. Ter uma sede para a APLetras também seria bom para debater literatura e falar sobre o trabalho dos acadêmicos. O projeto LEIA, ainda, poderia ser implantado em todas as escolas da cidade, para estimular os estudantes a escreverem. Muitos professores já fazem isso e gostam do trabalho. Seria bom ampliá-lo.