Gabinete Jundiaiense de Leitura, tradição literária

Sob nova direção, Gabinete Ruy Barbosa completou 103 anos no dia 28 de abril

A fachada atual do Gabinete Jundiaiense de Leitura (Foto: Divulgação)

No dia 1º de abril foi eleita a nova presidente da instituição, a jornalista Mônica Tozzeto de Barros Leite, 43 anos, dona de uma agência de publicidade e notícias na cidade. Mônica, ex-diretora de biblioteca do Gabinete, assume a presidência da entidade tendo como principal meta aumentar o número de sócios, que um dia chegou a dois mil, mas hoje não passa de 450.

Para estimular a adesão, ela pretende, em junho, iniciar uma campanha para conseguir novos sócios. De idosos, alunos e professores, ela vai cobrar 50% da mensalidade. Outro chamariz será a abertura de um circuito cultural, a preços populares,  com palestras, filmes, saraus e reuniões no auditório do Gabinete.

As mudanças até a sede própria

A primeira sede do Gabinete foi em uma casa próxima ao extinto Cine Ipiranga – hoje a têxtil Fabril –, na Rua Barão de Jundiaí. Em 1912 ele se muda para o antigo Teatro São Luiz, o primeiro teatro da cidade. O local torna-se ponto de encontro. Os sócios não param de crescer. 

Em 5 de janeiro de 1924, é inaugurado o novo prédio do Gabinete, na Rua Cândido Rodrigues, 301, onde reside até hoje. Por sugestão do prefeito da cidade em 1923, Olavo Guimarães, o nome da instituição é mudado para Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, homenagem ao político, jurista e escritor baiano falecido naquele mesmo ano.

Só há três no País

Além do Gabinete Ruy Barbosa, sobrevivem apenas mais dois gabinetes de leitura no Brasil. Um deles, no Rio de Janeiro, é o Real Gabinete Português de Leitura, fundado em 14 de maio de 1837; o outro, em Sorocaba, é o Gabinete de Leitura Sorocabano, fundado em 13 de janeiro de 1867. 

O Gabinete Jundiaiense, de 1908, possui uma biblioteca de 50 mil volumes. Há obras de livre circulação entre os associados e obras exclusivas para pesquisas acadêmicas específicas. Uma quantidade de volumes é destinada ao público infantil, na sala chamada “Ruyzinho”, onde a criançada encontra edições originais da década de 1930 dos quadrinhos de Flash Gordon e Tarzan e a coleção completa de Monteiro Lobato. Outra fonte de pesquisa é a sala de internet com sete computadores. O gabinete também disponibiliza leitura de jornais e revistas de tiragem periódica – atualmente ele assina 43 revistas e 14 jornais.

A preocupação é que não falte obra alguma para o associado. “Caso o Gabinete não tenha o título, ele solicita à biblioteca e, em duas semanas, o livro estará em suas mãos” – diz a presidente Mônica. Professores e alunos também podem solicitar títulos acadêmicos ou de grande raridade que o Gabinete tenta localizar o livro ou adquiri-lo para a biblioteca.

Gabinete

Do café à cultura

Com a expansão da produção de café no Brasil no fim do século 19, muitos europeus imigraram para trabalhar na lavoura de cidades paulistas, Jundiaí entre elas. O crescente volume de imigrantes fez com que a cultura deles se misturasse à cultura local. 

Em 1882, aos 14 anos, o educador José Feliciano de Oliveira propôs à Câmara Municipal a fundação de um gabinete de leitura para dar abertura à nova cultura que se desenvolvia entre as culturas europeia e brasileira. Ele conseguiu o apoio de quarenta  sócios contribuintes, todos eles da elite econômica e intelectual da cidade – família Queiroz Telles, o Barão do Japi, Inácio Arruda e Miguel Brito Bastos, entre outros.

Enfim, o Gabinete de Leitura de Jundiaí foi fundado em 28 de abril de 1908, pelos membros da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em reunião realizada num prédio na Rua do Rosário, 153, no centro da cidade. A biblioteca contava com 104 obras, em 184 volumes. Está registrada no jornal O Gabinete a frequência da população à biblioteca na época de lançamento. Apenas no primeiro mês, foram requisitados 75 títulos. O local possuía 17 folhetos informativos e assinava cinco jornais: dois locais e três de fora. 

Leituras históricas

O Gabinete aguarda o fim do trabalho de recuperação e catalogação, realizado por uma empresa terceirizada, para receber alguns livros de grande valor cultural, além de documentos históricos do início do século 20 – o acervo não está disponível devido a seu estado de fragilidade e decomposição. 

Neste grupo de livros antigos encontram-se revistas de literatura francesas e peças de teatro (nacionais e internacionais) das décadas de 1910 e 1920 e diversos jornais de  Jundiaí, de 1910 a 1960.

Os mais lidos

Os cinco livros mais procurados pelos sócios são: A Volta para Casa, de Bernhard Schlink; O Ouro de Sharpe, de Bernard Cornwell; Índio Vivo, de Julieta de Godoy Ladeira; Tempo para a Paz, de Mikhail Gorbachev; e Globalização: O que É Isso, Afinal?, de Cristina Strazzacappa e Valdir Montanari.

Horário de funcionamento

Segunda a sexta, das 8 h às 20 h; sábado, das 8 h às 17 h; domingo, das 8 h às 12 h.