Trabalhadores rurais em Cordeirópolis/SP festejam mobilização e posse da terra

Grupo de mulheres trabalha na cozinha do assentamento 20 de Novembro, em Cordeirópolis (Foto: Ana Lúcia R. Pinto) São Paulo – Em 1997, 200 famílias de trabalhadores rurais, em busca […]

Grupo de mulheres trabalha na cozinha do assentamento 20 de Novembro, em Cordeirópolis (Foto: Ana Lúcia R. Pinto)

São Paulo – Em 1997, 200 famílias de trabalhadores rurais, em busca de terra para plantar e lugar para viver e criar seus filhos, se reuniram e foram à luta. Homens, mulheres e crianças saíram de Araras (SP) e passaram por Estiva Gerbi e Espírito Santo do Pinhal (idem). Participaram de doze ocupações e sofreram doze despejos. Do grupo inicial restaram unidas 40 famílias, que chegaram a Cordeirópolis no dia 20 de novembro de 1998. 

Nas  andanças, as dificuldades foram muitas: falta de água  e comida, dormir sob a lona, com frio, chuva, vento. Muitas vezes, eles perdiam o pouco que tinham. Dona Expedita Saldanha dos Santos, 48 anos, mulher  que está desde o início na luta, conta que em Estiva Gerbi eles não tinham mais o que comer.

Então, um diretor do Sindicato da Alimentação de Mogi Mirim, que ela apenas lembra ser o “senhor Morelli”, parceiro na jornada, propôs às famílias: “Vamos com um carro de som pelas ruas da cidade anunciando a coleta de alimentos, e vocês vão batendo de porta em porta, pegando as doações”. Alguns contribuíam, mas outros ofendiam os sem-terra. A vergonha era grande. Mas o objetivo de conquistar uma pedaço de  terra fez que eles continuassem. 

Em 1998, em Cordeirópolis, eles ocuparam uma área do Horto Florestal, pertencente ao Governo do Estado, destinada à reforma agrária. Mas para ficar na terra havia uma batalha a ser vencida, a conquista de sua posse.

Foi aí que o Sindicato dos Bancários de Limeira se juntou às famílias e procurou outros parceiros: o Instituto da Terra do Estado de São Paulo (Itesp), os representantes locais da Igreja, o Sindicato Rural de Limeira e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outras entidades que colaboraram na organização e na comissão de seleção. A posse definitiva da terra veio em julho de 1999, com o sorteio dos lotes. Assim foi fundado o assentamento 20 de Novembro, lembrando o dia em que aqueles trabalhadores chegaram a Cordeirópolis.

Nesses 12 anos, foram muitas as dificuldades. Além do trabalho para melhorar a qualidade da área reservada ao plantio, era preciso implantar os projetos e captar recursos para produzir alimentos e criar animais. Mas, como dizia o poeta português Fernando Pessoa: tudo vale a pena quando a alma não é pequena. E valeu. 

As conquistas
Dona Marta Aleixo dos Santos Lino, presidente da Associação do Pequenos Produtores Rurais do Assentamento 20 de Novembro, lista, uma a uma, as lutas e as conquistas que vieram com a mobilização e a organização do pessoal.

• Construção dos poços artesianos
• Encanamento da água 
• instalação da energia elétrica
• Abertura e manutenção da estrada
• Retirada do lixão de dentro da área do assentamento
• Habitabilidade (projeto de melhoria e reforma das casas)
• Criação do Centro de Convivência das Crianças e Adolescentes
• Alfabetização de jovens e adultos
• Inclusão Digital, um desafio para os assentados, que nunca tinham acessado um computador

Os projetos e parcerias que dão vida ao campo
1 – O projeto Ponto de Cultura, primeiro na área rural, vai contribuir para a inclusão digital e proporcionar cursos de dança, teatro e sala de cinema para as crianças e jovens. 

2 – O grupo de mulheres – em parceria com a Instituto Consulado da Mulher, da empresa Cônsul, que equipou a cozinha industrial com geladeira, freezer, fogão etc. – produz delícias para vender, como banana chips, doce ou salgada. 

3 – O Projeto Merenda Escolar, do Governo Federal, determina que o município adquira da agricultura familiar 30% da merenda escolar 

4 – O PAA – Projeto Aquisição de Alimentos – trata da aquisição de alimentos para entidades assistenciais e ajuda as famílias do Assentamento 20 de Novembro. A esperança é de futuro muito melhor.

5 – Para Dona Marta, viver no assentamento é ser mais feliz. “Muitas batalhas vêm pela frente, porque muito foi feito, mas há muito por fazer” – diz.