Para governo britânico crime organizado, e não crise, está por trás dos conflitos
Europa teme que acontecimentos de Londres disseminem explosão de violência no continente
Publicado 09/08/2011 - 17h52
Carros queimados, entre os atos de violência da juventude londrina, que incluem saques a lojas e supermercados (Foto: ©Luke MacGregor/Reuters)
São Paulo – Mais de 650 pessoas já foram detidas na Inglaterra por causa dos protestos violentos que sacudiram a capital do Reino Unido nos últimos três dias, desde sábado (6). Outras seis cidades inglesas (Liverpool, Manchester, Nottingham, Leeds, Bristol e Birmingham) também registraram quebra-quebra, incêndios e saques a lojas.
Nesta terça (9), o primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que vai mandar a polícia endurecer a repressão à onda de violência cometida por jovens mascarados, como mostram fotos e imagens das ocorrências. Pelo menos uma vítima fatal foi registrada em confronto com a polícia – um homem, de 26 anos, baleado.
Ainda neste terça, não havia sinais de que o país veria o fim dos protestos. Lojas foram quebradas e saqueadas em Manchester, no noroeste da Inglaterra. O governo e a polícia inglesas insistem em atribuir os distúrbios ao crime organizado. A imprensa local já admite, porém, que as razões para os protestos podem estar ligadas ao crescimento de um sentimento geral de incertezas de boa parcela da juventude do país sobre o futuro.
No rastro da crise financeira internacional, a vizinha Irlanda foi abalada, assim como parte do Velho Continente e da Zona do Euro. Para analistas, diante da ameaça sofrida pela Inglaterra, parte da população se sente alijada de apoio público diante de ajudas bilionárias oferecidas a bancos a partir de 2008.
Relatos de crescimento de tensão chegam de vários pontos da Europa. A Irlanda anunciou medidas para fechar as portas para novos imigrantes. Na Itália, ensaiam-se grandes protestos públicos. A França vive o pesadelo de ver repetidas as contundentes manifestações de 2005, disseminadas pela periferia de Paris.
Em entrevista à BBC, o sociólogo francês Jean-Marc Stébé, autor de diversas obras sobre as periferias das grandes cidades, afirma que “os jovens estão pessimistas” com o cenário econômico europeu. “Eles recebem propostas de trabalhos ruins e salários baixos”, disse ao analisar as possibilidades de os confrontos atualmente na Inglaterra voltarem a acontecer na França.