Zelaya cruza a fronteira, mas recua e retorna à Nicarágua

Minutos depois de entrada, golpistas emitem comunicado afirmando que aceitam negociar e que proposta intermediada pela Costa Rica é boa

Durante as últimas horas, Zelaya tem negociado para poder avançar para o interior do país (Foto: Rádio Mundial de Venezuela)

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, chegou a cumprir a prometida ação de passar a fronteira de seu país com a Nicarágua, mas achou prudente recuar. Ele permanece em Las Manos, cidade que tem território dos dois lados, e espera que a esposa, a filha e a mãe possam passar pelas barreiras policiais para encontra-lo.

“Eu, como presidente, quero falar com o Estado maior. Está claro que não podem governar sem o povo e com o presidente exilado. Tiveram de assassinar pessoas para isso. Eu também não posso governar sozinho. É melhor chegar a um acordo que respeite a vontade soberana do povo”, afirmou Zelaya, que prosseguiu : “o que não quero é provocar que disparem contra mim e depois não tenham como resolver o problema. Estou disposto a fazer o esforço. Não tenho temor de ficar frente aos militares, mas também tenho consciência. Não quero ser causa de uma violência. Venho sem armas, com o peito descoberto, para mostrar-lhes que sou um homem de respeito”.

Minutos depois que ele entrou no país, o governo golpista de Roberto Micheletti divulgou um comunicado afirmando que considera boa a proposta do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que entre outras coisas prevê o retorno de Zelaya ao poder. Antes da atitude do deposto, no entanto, Micheletti e seu gabinete negavam-se a aceitar a intermediação costa-riquenha e chegaram a pedir que a conversa fosse conduzida pelos Estados Unidos.

A poucos quilômetros da fronteira, no departamento (estado) de Paraíso, as imagens da teleSur mostraram militares reprimindo manifestantes. Em San Pedro Sula ocorreu uma marcha a favor dos golpistas que é transmitida pelos veículos locais.

Falando com a teleSur, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel D’Escoto, ponderou que gostaria de estar com o presidente e lembrou que a propria assembleia aprovou uma resolução sem precedentes condenando o golpe e exigindo a restituição do presidente: “Foi muito firme e categórico e espero que os golpistas se deem conta da seriedade das violações que estão provocando ao povo hondurenho”, destacou, apontando que os “golpistas sempre são assassinos e nunca se importam com o povo. A direita é igual em toda parte do mundo, é assassina”.

Além disso, ele elogiou a atitude do hondurenho. “Está fazendo o correto. Com uma política pró-ativa para defender o direito do povo de ser governado. Lamento comentários que escutei de que esta havia sido uma ação temerária. Parece uma ação correta e heróica”, declarou D’Escoto.

Trata-se de uma crítica direta à secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, para quem a tentativa de retorno foi “imprudente” e “temerária”. “Pedimos de forma consistente a todas as partes que evitem qualquer ação provocativa que possa gerar violência”, disse Hillary.

Antes das declarações da secretária, a primeira-dama hondurenha havia acusado o presidente dos Estados Unidos de omissão: “se (Barack) Obama permite que essas coisas ocorram em Honduras, está permitindo que as forças armadas tomem os países e se restrinjam a liberdade e a Justiça que existem nesta terra”. Xiomara de Zelaya acrescentou que “sentimos angústia, tristeza do que está ocorrendo em nosso país, essa é a verdade. Tristeza de ver como os próprios hondurenhos estão golpeando os hondurenhos”.

A filha Xiomara Hortênsia Zelaya afirmou que as barreiras colocadas nas estradas são “uma mostra de como este governo imposto pelas armas está reprimindo nosso povo, está impedindo de passar, impedindo a livre-circulação, que é um direito constitucional”.

Emocionada, a mãe de Zelaya afirmou aos repórteres que se sente fortalecida neste momento. “Prevalece o amor a Deus, o amor ao povo, a dignidade, os valores que ostenta o presidente Zelaya. Eu peço ao senhor Micheletti que recorde que nunca atuamos contra ele e que não tem porque haver represália”, afirmou.

Erasto Reyes, coordenador do bloco popular, pensa que esse “é o momento de refletir. Nós, como integrantes de movimentos sociais, entendemos que nosso povo não pode renunciar à condição de um país mais justo. É um momento histórico em que o mundo tem os olhos sobre Honduras”.

O ministro de Governo boliviano, Alfredo Rada, apontou que “a América Latina observa atentamente o que está ocorrendo em Honduras. Um presidente que retorna ao seu país como presidente constitucional, eleito pelo povo e que é protegido pelo povo. A partir deste momento, o que quer que ocorra em Honduras é responsabilidade do governo golpista”.

Durante toda a tarde, pelo twitter http://www.twitter.com/redebrasilatual e nesta página, a Rede Brasil Atual acompanhou os desdobramentos dos fatos em Honduras em tempo real.

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