Tensão entre Colômbia e Venezuela mostra dimensão ideológica do embate, diz professor

Para pesquisador da Universidade de Brasília, conflito é entre suposta tolerância de Chávez com as Farc e apoio de Uribe à presença militar dos Estados Unidos

Os presidentes Lula, Chávez e Uribe durante encontro do Mercosul ao lado de Nicanor Duarte, ex-presidente do Paraguai (Foto: Fabio Pozzebom. Agência Brasil)

A Venezuela quer a união dos países sul-americanos contra o uso de bases colombianas por militares dos Estados Unidos. A retirada do embaixador venezuelano de Bogotá e o congelamento das relações entre as duas nações são “um capítulo a mais de um relacionamento que contém uma dimensão pragmática e uma dimensão político-ideológica que é uma fonte constante de tensões”, avalia o professor Alcides Costa Vaz, vice-diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (Irel-UnB).

Esta semana, Hugo Chávez ameaçou levar o caso à Organização dos Estados Americanos (OEA) por considerar que o tema é uma ameaça à soberania da região. Comercialmente, os dois países são importantes parceiros mas, caso persista o congelamento de relações, tanto Venezuela quanto Colômbia terão de buscar saídas.

Para o professor, a questão comercial é nova e “mostra a dificuldade que o presidente Chávez está tendo de, apenas com recurso de sua movimentação, de sua retórica e de suas ações políticas, manter algum nível de ascendência sobre os vizinhos”.

Antes do atual entrevero, o desentendimento havia sido entre Uribe e Rafael Correa, do Equador. O colombiano acusou Correa de receber recursos das Farc, grupo armado, em sua campanha. Como pano de fundo, a discordância entre visões de mundo. Discordância que faz com que a Colômbia, ao notar uma convergência ideológica entre as Farc e os governos de Chávez e de Correa, acuse-os. Contra a Venezuela, pesa a denúncia de haver doado armamentos ao grupo armado.

O diretor do Irel lembra que “é preciso notar que, tanto no caso do Equador quanto no da Venezuela, há uma negativa reiterada dos governos de apoio a qualquer forma de ação violenta em território colombiano”.

A conduta brasileira

Na quinta-feira (30), o presidente Lula manifestou que “não me agrada” a instalação de bases dos Estados Unidos na Colômbia, mas lembrou que respeita a soberania do país. Ele considera que a próxima reunião da União de Nações Sul-americanas (Unasul), marcada para 10 de agosto em Quito, é o momento adequado para debater o tema.
Ao mesmo tempo, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, costurou com a Espanha o envio de uma manifestação conjunta aos Estados Unidos cobrando explicações ao caso.

Para Alcides Costa Vaz, “o governo brasileiro deve se ater neste momento a acompanhar com atenção os desdobramentos e evitar qualquer tipo de ingerência que signifique de algum modo assumir posições”.

De maneira geral, ele considera acertada a condução da política externa brasileira no governo Lula. O professor aponta que se trata de “um exercício constante, permanente e muito complexo de gerenciar ao mesmo tempo contradições e tensões” e lembra que, “no caso dos nossos vizinhos, são conflitos sociais e políticos que se passam em um ambiente de instituições muito frágeis que muitas vezes não são capazes de administrar conflitos domésticos”.

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