Temores

Japão alivia estado de emergência, mas Jogos ainda preocupam especialistas

Cenário passa a ser de restrições mínimas para a capital e sede da Olimpíada. Grupo de especialistas favorável ao cancelamento recomenda que não haja público

twitter / @sugawitter
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Primeiro-ministro do Japão recebeu apoio do G7 para seguir com os Jogos

São Paulo – O estado de emergência imposto pelo governo do Japão para conter a pandemia de covid-19 termina quase que por completo neste domingo (20), a um mês do início das competições dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A capital é uma das nove prefeituras que poderão relaxar as restrições durante a Olimpíada, mantidas apenas em Okinawa até 11 de julho. Outra medida, revelada pelo primeiro-ministro, Yoshihide Suga, foi a intenção de colocar público nas arenas de disputas. Os especialistas, porém, discordam. E reforçam posição pelo cancelamento do evento, acrescentando que se realmente for realizado, que seja sem presença de espectadores.

O estado de emergência começou no dia 25 de abril e já havia sido prorrogado por duas vezes. Além de Tóquio e Okinawa, era válido para Hokkaido, Aichi, Kyoto, Osaka, Hyogo, Okayama, Hiroshima e Fukuoka. As principais restrições são o fechamento de bares e restaurantes que servem bebidas alcoólicas e de alguns comércios, como grandes lojas e shopping centers. A partir de agora, Tóquio e mais seis delas mantém apenas algumas, ligadas ao consumo de álcool e horário de atendimento de restaurantes.

Com ou sem público?

A argumentação para o relaxamento das restrições está nos números. Na última quinta (17), a média móvel de novas infecções estava em 1.638 casos, bem menor do que os 6.505 de 15 de maio. O mesmo indicador, mas de mortes, mostrou redução de 115 em 24 de maio, pico da pandemia no país, para 61 na quinta. Está abaixo de 100 desde 26 de maio, de acordo com o Worldometers. Na vacinação, o país, segundo o Our World in Data, tem cerca de 15% da população com pelo menos uma dose tomada. “Enquanto é verdade que as infecções estão tendendo para baixo no país inteiro, também é verdade que o ritmo diminuiu”, declarou Suga, segundo o Kyodo News. “Vamos seguir com a vacinação e tomar as medidas para prevenir a disseminação das infecções.”

A decisão do governo mexe com as regras de público em eventos esportivos no Japão. Permitiria que o Estádio Nacional de Tóquio, por exemplo, recebesse 34 mil pessoas na cerimônia de abertura dos Jogos, ou em qualquer outro evento. Sendo assim, o governo decidiu que o limite geral para eventos será de 10 mil espectadores ou 50% da capacidade, o que for menor. Para amanhã (21), está marcada uma reunião dos organizadores dos Jogos para decidir sobre a presença ou não público local. Torcida estrangeira está vetada desde março.

Alerta de perigo

Apesar da melhora, ainda há muita preocupação. Uma delas é que a Olimpíada dê impulso a novas infecções, especialmente da variante indiana Delta. Um grupo de infectologistas, incluindo Shigeru Omi, chefe do sub-comitê do governo para o vírus, entregou à presidente do comitê organizador, Seiko Hashimoto, recomendações para que não seja liberado público. O grupo submeteu opinião voluntária sobre riscos para a saúde caso o evento ocorra conforme o programado. Além de Omi, é composto por 25 especialistas, incluindo Takaji Wakita, chefe do instituto nacional de doenças infecciosas, e Hiroshi Nishiura, pesquisador da Universidade de Kyoto especializado em modelagem matemática de epidemias. Eles chegaram a debater a inclusão de pedido formal de cancelamento, mas desistiram após reafirmação de continuidade feita por Suga e referendada pelo grupo dos G7.

Um dos maiores especialitas no país sobre a covid-19, Omi já declarou não ser normal seguir com os Jogos durante a crise sanitária. “(Os organizadores) deveriam considerar mitigar os riscos quando decidirem qual cenário exige medidas contundentes, e rapidamente apresentar a decisão ao público”, afirmou, em entrevista coletiva na última sexta (18).

Omi ainda classificou como “difícil” o cenário de assistência médica em Tóquio, pior do visto em Osaka antes do epicentro da onda de infecções de abril. Estima-se, hoje, que cerca de 80 mil de pessoas passem pela capital japonesa durante a Olimpíada. Os 26 que assinam as recomendações dizem, ainda, que o estado de emergência deve ser reativado “sem hesitação”, se necessário.

Cartilha e vacinação

Para tentar evitar a disseminação do vírus, foram distribuídas para atletas, delegação, imprensa e todos os que vão aos Jogos, cartilhas robustas com os detalhes de funcionamento dos protocolos sanitários. “Haverá consequências em caso de violação das medidas, incluindo a revogação de permissão de permanência no Japão”, dizem as autoridades. Ou seja, qualquer um, até mesmo atletas medalhados, ficam sujeitos a serem retirados do evento. Não perdem o resultado, nem uma eventual medalha, mas podem não estar no pódio para recebê-la. “A questão que fica, aqui entre nós, é se as regras irão valer para todo mundo”, comenta o jornalista Marcelo Laguna, em seu blog Laguna Olímpico.

Há também um esforço de vacinação. O programa japonês para quem vai trabalhar diretamente nos Jogos começou na sexta. A previsão é de aplicar cerca de 2,5 mil doses por dia até completar 40 mil pessoas imunizadas. Os atletas já estão em processo de finalização de vacinação, e a previsão é de que a Vila Olímpica tenha 80% de imunização geral quando a competição começar, em 23 de julho.




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