Futebol

Bom Senso FC ironiza Marin: ‘Não está acostumado com essa tal democracia’

Em carta, grupo de jogadores sobe tom contra 'genialidade' do presidente da CBF, lamenta tapetão pró-Fluminense e afirma que confederação é que deveria ser rebaixada para a quarta divisão

Danilo Verpa/Folhapress

A resposta de Marin não agradou os jogadores, que querem solução definitiva para o calendário

São Paulo – O movimento Bom Senso FC decidiu subir o tom hoje (17), em carta encaminhada ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin. No documento, os jogadores lamentam o desdém com que vêm sendo tratados pela entidade e que o Campeonato Brasileiro tenha terminado dentro do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que ontem decidiu rebaixar a Portuguesa pela escalação irregular de um jogador, posição que garantiu a permanência do Fluminense na Série A.

“Talvez o senhor não saiba, mas não somos apenas um grupo de jogadores. Somos mais de mil, reunidos em apenas três meses, em prol de um futebol melhor para todos”, inicia a carta, permeada de ironias. “Um grupo democrático, onde todos os envolvidos têm poder de votar, opinar e participar. Sabemos que o senhor não está acostumado com essa tal democracia e até entendemos que seja difícil se adaptar, faz pouco tempo…” Marin foi colaborador da ditadura (1964-85), tendo exercido os cargos de deputado e de governador de São Paulo (1982-83).

Na semana passada, em texto publicado no site da CBF, a entidade divulgou que um jogador não poderá atuar em mais de sete jogos em um período de 30 dias, exceto se ele estiver envolvido nas disputas das quartas de final, semifinais e finais da Copa do Brasil e da Copa Libertadores. Esta foi a maneira encontrada pela organização para garantir uma das cobranças centrais dos jogadores, que querem um calendário mais racional, com menos partidas por ano e mais espaço entre um jogo e outro.

“O senhor tem razão quando diz que existe um calendário permanente desde 2003. E um calendário ruim desde então. Porque antes disso ele era péssimo”, continua o documento do Bom Senso. “Mas o senhor conseguiu resolver todos os problemas do calendário do dia para a noite. Foi só limitar o número de jogos dos jogadores e não dos clubes e pronto, eis que melhoraremos a qualidade no espetáculo. Ou seja, a saída escolhida é o mesmo que encontrar um burro dentro de sua sala e pedir para trocarem o sofá, pois algo lhe parece estranho.”

As críticas passam inclusive pelo fato da não paralisação dos torneios nacionais para os jogos da data Fifa, e pelo regulamento deste ano do futebol brasileiro, em especial ao critério de classificação para um dos torneios continentais que os clubes do país disputam. “Desconfiamos até que o êxtase o atinja quando o senhor percebe a extraordinária estratégia de um time precisar ser desclassificado de uma competição nacional (Copa do Brasil) para se classificar para um torneio internacional (Copa Sul-Americana). Quanta genialidade!”

Na carta, os jogadores aproveitam para criticar o desfecho do Campeonato Brasileiro. Sem tomar partido da Portuguesa, lamentam que o torneio tenha tido uma “rodada extra” e avaliam que a confusão extracampo ajuda a mostrar a necessidade de que se atenda aos pedidos apresentados pelos atletas. “A justiça desportiva se torna protagonista e o resultado de campo fica para trás. Sem discutir o mérito de quem está certo ou errado, a conclusão final é de que a CBF é que deveria ir para a segunda, terceira, quarta divisão.”

Sobre as divisões inferiores do Campeonato Brasileiro, as Séries C e D, que envolvem 60 equipes por ano, o grupo sugere que sejam totalmente financiadas pela entidade. “Caro presidente, a fonte de receita da CBF é a seleção brasileira, fruto final do futebol jogado no país. Logo, usar parte desses recursos para subsidiar as competições para as quais a confederação não consegue receita, não é caridade, é uma simples obrigação. Afinal, assim como os direitos sobre a nossa Seleção são da CBF, os deveres sobre o futebol brasileiro também devem ser.”

A carta ainda volta a cobrar a implantação do Fair Play Financeiro, com críticas à proposta feita pela entidade e assinada por alguns clubes. Na nota emitida na última semana, a CBF lava as mãos para problemas trabalhistas, afirmando que devem ser tratados entre jogadores e entidades. A proposta dos jogadores é de que seja criada uma punição esportiva para aqueles que atrasem o pagamento de salários ou cometam infrações na relação com os funcionários. “Mesmo cortando na nossa própria carne, continuaremos lutando pelo bem do futebol. Porque quem regula o salário pago aos jogadores é o mercado e se o gestor for obrigado a gastar apenas o que o clube arrecada, pagará menos a todos. O que gera salários astronômicos (e atrasados) é a falta de um dispositivo punitivo (esportivo e civil) a quem gasta mais do que ganha”, finaliza o Bom Senso.

Com informações da Agência EFE


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