Dois consórcios disputam gestão do Maracanã e seu entorno sob protestos

Consórcio liderado por empresa de Eike Batista e Odebrecht terá concorrência de pool que reúne OAS a empresas da França e da Holanda; oposição quer anular licitação na Justiça

Cerca de 250 manifestantes ocuparam a entrada do Palácio Guanabara em protesto contra privatização do Maracanã (© Celso Pupo/Fotoarena/Folhapress

Rio de Janeiro – Considerado favorito para vencer o processo de licitação do Maracanã à iniciativa privada, o empresário carioca Eike Batista terá concorrência na disputa pela gestão do complexo esportivo e seu entorno nos próximos 35 anos. Como era de se esperar, a IMX, empresa de Eike que já havia sido responsável pelo estudo técnico que embasou o projeto de concessão, apresentou hoje (11) uma proposta para a administração do estádio. A IMX forma o Consórcio Maracanã S/A ao lado das empresas Odebrecht Participações e Investimentos e AEG Administração de Estádios. O segundo concorrente será o Consórcio Complexo Esportivo e Cultural do Rio, composto pela construtora brasileira OAS e pelas internacionais Stadion Amsterdam (Holanda) e Lagardère Unlimited (França).

O secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, condutor do processo de licitação, festejou a formação dos dois consórcios: “São empresas muito fortes, com capacidade comprovada e grande experiência nacional e internacional. As duas propostas serão minuciosamente analisadas, mas o governo está certo de que a concessão será um sucesso”, disse. Fichtner, que já havia negado “com indignação” as insinuações de favorecimento do governo à empresa de Eike, negou também que o consórcio liderado pela IMX saia na frente do concorrente pelo fato de já ter realizado o estudo de viabilidade técnica: “As outras empresas também participaram das visitas técnicas ao Maracanã e seu entorno e podem perfeitamente apresentar estudos próprios com valores distintos dos obtidos pela IMX. Caberá ao governo analisar”.

Realizada no auditório do Palácio Guanabara, a cerimônia de abertura dos envelopes dos consórcios concorrentes, logo após ter sido iniciada por volta de 10h30, foi interrompida por mais de uma hora em conseqüência do protesto realizado por alguns parlamentares que exigiam a entrada no auditório de uma comissão formada por integrantes da manifestação que ocorria no mesmo momento em frente à sede do governo fluminense. A tensão cresceu e, em dado momento, a deputada estadual Janira Rocha (Psol) chegou a bater boca com Fichtner e outros integrantes do governo.

Antes da entrega dos envelopes, o deputado federal Marcelo Freixo (Psol), que foi candidato à prefeitura do Rio nas eleições do ano passado, qualificou o processo de concessão do Maracanã à iniciativa privada como “viciado”. Freixo criticou a participação da IMX que, segundo ele, não poderia ter feito o estudo técnico para, em seguida, participar da licitação: “O Maracanã é um espaço do povo do Rio de Janeiro, mas será entregue a um amigo do governador sem que haja justificativa para isso. O Rio está sendo assaltado”, disse.

Após o resultado, Freixo afirmou que o Psol entraria ainda hoje com novo pedido de liminar na Justiça para pedir a suspensão do processo de concessão do complexo esportivo: “A consumação da entrega dos envelopes e o fato de haver dois concorrentes não altera nada. As razões que embasavam as ações anteriores, que são o desrespeito à vontade da população e a destruição de equipamentos públicos esportivos e culturais de reconhecida capacidade, permanecem”, diz o deputado.

Manifestação

O início do processo de licitação do Maracanã mexeu direta ou indiretamente com a vida de milhares de cariocas durante toda a manhã de hoje. A partir das 7h, um grupo composto por estudantes, atletas, indígenas e militantes de partidos políticos e organizações dos movimentos sociais começou a se reunir no Largo do Machado, na zona Sul do Rio, para um ato contra a privatização do estádio.

Às 9h, cerca de 250 pessoas seguiram em passeata até os portões do Palácio Guanabara. O movimento ocupou por cerca de uma hora as duas pistas da rua Pinheiro Machado, o que acabou interditando o túnel Santa Bárbara, que liga as zonas Norte e Sul da cidade, e provocando um engarrafamento que se estendeu por diversos bairros cariocas. Na tentativa de liberar as pistas, policiais militares usaram spray de pimenta contra os manifestantes e houve um princípio de confusão, logo contornado. Após negociações, os manifestantes concordaram em liberar uma parte das pistas, o que permitiu a fluência do trânsito.

Investimentos e outorga

Além de cuidar da gestão e manutenção do Maracanã e do ginásio do Maracanãzinho, o consórcio vencedor ficará responsável por obras como a reforma do antigo Museu do Índio, que será transformado em museu olímpico, as demolições do estádio de atletismo Célio de Barros, do parque Aquático Júlio Delamare e da Escola Municipal Friedenreich e a construção em outros locais no entorno do estádio de novos centros de treinamento para atletismo e natação, além de um novo prédio para a escola.

Também caberá ao consórcio a demolição do presídio Evaristo de Moraes e a posterior construção de quatro novas unidades prisionais na cidade. Os investimentos necessários à realização dessas intervenções, segundo o estudo feito pela própria IMX, se aproximam de R$ 600 milhões. A outorga anual a ser paga pelos futuros administradores do Maracanã ao governo do Rio de Janeiro será de R$ 7 milhões.