Times de base aprovam fiscalização do governo para coibir empresários

Para clubes que investem em novos talentos para o futebol, treinamento dos jovens deve priorizar estudo e formação cidadã

Ministério Público do Trabalho vai fiscalizar frequência escolar e acompanhamento médico para jovens atletas (© Juca Varella/Folhapress)

São Paulo – Clubes de futebol do estado de São Paulo que possuem times de base se mostram favoráveis à fiscalização nacional que o Ministério Público do Trabalho inicia em 90 dias para avaliar as condições de vida dos atletas em formação. Para coordenadores da categoria, a medida pode coibir a ação de empresários oportunistas e ajudá-los na formação cidadã e acadêmica dos atletas.

 “Nosso objetivo é formar uma pessoa que exerça sua cidadania, seus direitos e seus deveres, para além do rendimento no esporte”, explica o supervisor das categorias de base da Associação Desportiva São Caetano, na região metropolitana de São Paulo,  Ilton José da Costa. “Ninguém esta livre dos falsos empresários, que cobram dos meninos taxas que não existem. Nossas peneiras são de graça, feitas com autorização dos pais e apresentação de exame médico. Queremos descobrir e desenvolver talentos”, defende.

Da cidade do interior paulista de Américo Brasiliente, o presidente do Américo Esporte Clube, Celso Ferreira, lembra que o empresário de futebol – proibido pela Lei Pelé de representar interesses comerciais de atletas menores de 18 anos – ao negociar o passe com o clube que paga mais, desconsidera que é preciso atenção com as demais necessidades do adolescente, que muitas vezes se vê mudando de cidade em cidade,  na busca de sua realização profissional.

“Assim ele perde a escola. Vira um menino de 17 anos que ainda está no ensino fundamental”, conta Ferreira. “Além disso, com as transferências, nós que iniciamos a formação, perdemos muito do que foi investido. A fiscalização dá segurança para que possamos desenvolver esses talentos”.

A proibição do empresário, a gratuidade das seleções (as chamadas peneiras, organizadas pelos times para detectar talentos esportivos) e a obrigação de apresentar parecer médico para participar das atividades, são deveres dos clubes previstos em lei que serão fiscalizadas pelo Ministério Público do Trabalho. Além disso, o órgão também vai avaliar se os adolescentes frequentam escola, têm acompanhamento médico, vivem em alojamentos seguros e limpos e se os maiores de 14 são contratados seguindo os critérios da Lei de Aprendizagem.

“A fiscalização não vai prejudicar os times. Há três anos já prestamos conta das nossas atividades para o Ministério Público e recebemos visitas de fiscais”, conta Thiago Scuro, gerente executivo do Audax Esporte Clube São Paulo, projeto especializado na formação de jovens atletas, com sede também no Rio de Janeiro. “O esporte proporciona uma série de aprendizados positivos para os meninos, mas nosso objetivo é a formação do cidadão. Por isso queremos eles na universidade e damos encaminhamento profissional para os que não vingarem no esporte”.

Nos três clubes estão meninos que deixaram a família e sua cidade natal e vieram para São Paulo, onde “têm mais visibilidade”, como define Celso Ferreira. Em busca do sonho de se tornarem jogadores profissionais, os maiores de 14 anos migram, sozinhos, de estados como Alagoas, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Paraná e ficam sob responsabilidade integral dos clube e dos técnicos, que têm de acompanhá-los no seu dia a dia. “A gente também é pai”, conta. “Muitas vezes tenho de ir com eles para a escola. Os meninos são uma extensão da minha família”, diz Ilton, do São Caetano.

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