Especialista propõe transparência para coibir ‘máfia dos ingressos’ na Copa 2014

Para jornalista escocês que investiga a Fifa há 12 anos, mercado negro abastasse sistema de propinas da entidade

São Paulo – O jornalista escocês Andrew Jennings afirmou ontem (8) em São Paulo que, se o governo brasileiro exigisse mais transparência na venda de ingressos para a copa de 2014, que será disputada no Brasil, seria possível acabar com a “máfia de ingressos”.  

“Toda confederação nacional recebe alguns ingressos e alguns deles são vendidos no mercado negro. Isso poderia não acontecer se tudo isso fosse transparente, se fosse colocado na internet. Apenas isso já é suficiente para destruir o poder de [Joseh] Blatter, [presidente da FIFA]”, afirmou.

O escocês esteve presente ontem no encontro Copa Pública, realizado em uma parceria entre a Agência Pública de Jornalismo Investigativo e o coletivo Fora do Eixo como parte do Preliminares, evento que debate uma série de aspectos do Direito à Cidade até o dia 16. Veja a programação completa na página do evento

Jennings é jornalista, autor do livro Jogo Sujo – O mundo secreto da Fifa. Hás 12 anos, investiga a Federação Internacional de Futebol (Fifa). Anteriormente, ele investigava a máfia italiana e, com conhecimento de causa, garante: a instituição que organiza o futebol internacionalmente funciona como uma verdadeira máfia. Reportagens feitas por ele apontando o pagamento e recebimento de propina são responsáveis pela queda de Ricardo Teixeira do cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em março. “Eu ensinei um novo esporte para o Teixeira. Se chama fugir”, diz, sem falsa modéstia.

Jennings explicou que a venda de ingressos no mercado negro é usada para alimentar um sistema de propinas que mantém as engrenagens da organização funcionando em todo o mundo.

Informações obtidas pelo jornalista no ano passado durante uma entrevista exibida na rede britânica BBC com um cambista  indicam que cerca de 40% dos ingressos disponíveis durante o maior evento esportivo do mundo são negociados ilegalmente, depois de saírem por “uma porta dos fundos da Fifa”.

O jornalista afirmou que a entidade privada internacional, assim como fez com outros países, “sequestrou” o governo brasileiro, usando a paixão pelo futebol e falando “aquela baboseira de sempre de que a Copa do Mundo vai trazer o Brasil para o mapa mundial”. “Porque eles [a Fifa] precisam de locais que façam o trabalho sujo por eles, aí que entra a ‘gangue do Teixeira’”, avalia. 

Ainda assim, ele acredita que a mobilização dos brasileiros pode evitar que isso se repita. Para ele, o Brasil está  em uma posição “muito poderosa”. “Vocês têm reputação no futebol. O mundo ama vocês por causa disso. A Fifa simplesmente não pode tirar a Copa do Mundo de vocês. Ela vai acontecer aqui. Se o governo der uma instrução de que todo os ingressos para a Copa e para as Olimpíadas sejam colocados na internet com o nome do comprador e sua nacionalidade, isso mataria o mercado negro”, sugere.

Com isso, ele acredita que seria possível garantir condições mínimas de acesso a ingressos para o evento, atualmente restrito a poucos em função de preços exorbitantes, e “limpar a Fifa”. “Vocês podem ir atrás dos soldados que estão nas ruas, mas Blatter é o poderoso chefão”, insiste. 

A Copa de 2014 foi orçada inicialmente em cerca de R$ 10 bilhões, que seriam pagos totalmente pela iniciativa privada, como garantiu o então presidente da CBF. Mas  atualmente faltando pouco mais de 18 meses para o início do torneio e com a maioria  das obras ainda inacabadas, o orçamento saltou para quase R$ 28 bilhões, já é possível afirmar que cerca de 95% do dinheiro aplicado sairá dos cofres públicos.