Dieese avalia que benefícios da Copa para o Brasil são superestimados

Instituto vê 'situação não muito alentadora' em relação ao legado da competição

São Paulo – O Dieese avalia que há, “aparentemente”, superestimação dos benefícios que a Copa do Mundo de futebol poderá trazer ao país, particularmente na melhoria da infraestrutura urbana nas cidades-sede da competição. “Não se trata de questionar se a Copa deveria ou não ser realizada no Brasil, mas o que interessa à população é saber se esses investimentos vão efetivamente propiciar melhorias à vida dela. E isso depende, em certa medida, de controle social sobre esses investimentos no sentido de monitorar a aplicação dos recursos, pois disso dependerá o tipo de legado que ficará”, afirma o instituto, em nota técnica. A julgar pelas exigências da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e pela Lei Geral da Copa, conclui o Dieese, “pode-se prever uma situação não muito alentadora”.

A experiência da África do Sul, país que sediou a Copa de 2010, mostra alguns dos desafios a serem enfrentados, aponta o Dieese: número de turistas aquém do esperado, subutilização dos estádios após o campeonato e poucos investimentos em infraestrutura. O instituto destaca ainda outro impacto social, com remoção de pessoas de vários locais. Cita dados da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, que fala em 150 mil a 170 mil famílias removidas, “em sua maioria de baixa renda”, de imóveis em áreas urbanas das cidades-sedes, para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016, que serão disputados no Rio de Janeiro. 

Na primeira Copa realizada no continente africanos, acrescenta o Dieese, a previsão inicial de gastos era de R$ 2,1 bilhões. Mas as despesas com construção e reforma de nove estádios chegou a quase o dobro (R$ 4,1 bilhões). “Atualmente, apenas um dos cinco estádios construídos para o torneio – estádio Soccer City, em Johannesburgo, administrado pela iniciativa privada – não é subutilizado.” Do legado, o instituto cita o Gautrain, linha de trem de luxo que liga o aeroporto de Joahannesburgo a Pretória, mas lembra que a obra só foi concluída, com 11 estações e 80 quilômetros, após a realização do campeonato. “As linhas de Bus Rapid Transit (BRT) também se expandiram após o evento, assim como aeroportos e estradas. Mas a situação atual é que o transporte público continua a ser uma grande carência no país.”

O Dieese também fala da experiência dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio. “Do ponto de vista social, houve a concentração de intervenções urbanas em regiões habitadas pela população de mais baixa renda, o que acarretou diminuição dos espaços de moradia popular, elevação dos preços imobiliários, maior concentração privada em áreas urbanas e aprofundamento da desigualdade social e da concentração da renda”, afirma.

A nota destaca ainda as “20 mobilizações, paralisações e greves” já ocorridas nas obras dos 12 estádios das cidades-sede, por aumento salarial e melhoria nas condições de trabalho. Somados às manifestações em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os protestos resultaram, neste ano, em acordo nacional para aperfeiçoamento das condições de trabalho na indústria da construção, envolvendo governo, trabalhadores e empresários.

 

 

 

Leia também

Últimas notícias