resistência

Na rua, artistas realizam performance em protesto à censura de Witzel

Ato, que critica a tortura na ditadura civil-militar, foi realizado em frente à Casa França-Brasil, no centro capital fluminense

MÍDIA NINJA

Artista deitou-se sobre um bueiro com baratas de plástico. Ao lado dela, uma caixa de som reverberava discursos de Bolsonaro

São Paulo – O coletivo de artistas És uma Maluca, realizou a exposição Literatura Exposta, nessa segunda-feira (14), em protesto à censura promovida pelo governador Wilson Witzel (PSC), que determinou à Secretaria de Cultura que cancelasse o última dia da exposição do grupo. O ato foi realizado em frente à Casa França-Brasil (CFB) – instituição do governo estadual na qual seria promovida a atividade –, no centro da capital fluminense.

Por volta das 18h, a performance tomou conta da calçada em frente à CBF, onde os artistas faziam a exposição desde o dia 4 de dezembro do ano passado. A obra faz referências à tortura durante a ditadura civil-militar, mais precisamente ao depoimento da ex-presa política Lucia Murat. Em 2013, ela contou à Comissão Nacional da Verdade que os torturadores “puseram baratas passeando” pelo seu corpo e colocaram uma barata na sua vagina.

Durante a exibição nessa segunda, uma das artistas deitou-se sobre um bueiro repleto de baratas de plástico. Ao lado dela, uma caixa de som reverberava discursos do presidente Jair Bolsonaro (PSL), inclusive um exaltando o coronel Brilhante Ustra, ex-chefe DOI-Codi SP durante a ditadura. Em seguida, um ator jogou açúcar para as baratas. “Viva as baratas, fodam-se os ratos”, gritou ele. A Polícia Militar chegou a ameaçar a proibição do ato na rua, mas não interveio.

A obra A Voz do Ralo É a Voz de Deus foi vetada pelo diretor da Casa França-Brasil, Jesus Chediak, por conta do uso dos discursos do presidente. Nas mostras seguintes, uma receita de bolo entrou em seu lugar – recurso utilizado pela imprensa quando matérias eram censuradas pelo regime militar.

Ao fim da exibição, foi avisado aos presentes que a performance era uma resposta à reverberação da violência que tem ocorrido no país e ao silenciamento, especialmente de mulheres e das artes. “Precisamos nos responsabilizar sobre o que gente fala, pensa e age”, disse ela.

O fim da exibição na CFB foi criticada. O curador Álvaro Figueiredo publicou em sua rede social que a ordem para fechar a mostra antecipadamente veio do governador Wilson Witzel (PSC). “Como curador da exposição demonstro meu repúdio total a esse tipo de censura”, afirmou.

*Com informações da Folha de Pernambuco.

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