O dia em que Roger Waters enfrentou a escalada fascista no Brasil

São Paulo – O músico britânico e ex-Pink Floyd Roger Waters viu de perto a escalada do ódio no Brasil. Em uma apresentação impecável na noite de ontem (9), na […]

São Paulo – O músico britânico e ex-Pink Floyd Roger Waters viu de perto a escalada do ódio no Brasil. Em uma apresentação impecável na noite de ontem (9), na capital paulista, usou a imensa estrutura de seu palco da turnê “Us + Them” para denunciar o avanço da extrema-direita e do neofascismo.

Projetou em um telão uma lista de políticos autoritários que se destacam no mundo e, entre eles, estava Jair Bolsonaro (PSL). A hashtag #EleNão projetada mais tarde foi o estopim para fazer seu show entrar para a história. As vaias ganharam dos gritos de apoio, enquanto a mensagem de Waters fazia frente com a #Resist.

Waters foi um dos fundadores do Pink Floyd em 1965, e estava presente em seu LP de estreia, Pipes at Gates of Dawn, em 1967. Os mais de 50 anos de carreira do artista foram marcados pelo ativismo e posicionamento político. Seu show na noite de ontem não foi diferente. O ícone da música mundial fez um espetáculo grandioso em todos os sentidos. Estrutura de palco e som, qualidade musical e engajamento na luta contra a ascensão do fascismo.

O posicionamento do britânico contra o autoritarismo que a extrema-direita representa, no Brasil personificado por Bolsonaro, incendiou a Arena Allianz, estádio do Palmeiras. Música e política sempre caminharam juntas, mas parte do público não quis ver assim.

O que se via no rosto dos que resistiram durante as vaias era um misto de emoções. Alguns choravam com a indignação expressa nos rostos. Outros, especialmente as mulheres, mais uma vez mostraram que não vão se calar. Gritaram de forma incessante, em coro, “ele não” e revelaram uma plateia dividida.

Waters chegou a dizer que esperava de certa forma a reação negativa, mas que não poderia deixar de se posicionar contra alguém que defende abertamente ditaduras militares.

Alguns poucos foram embora antes do fim do show. Entre aqueles que se posicionaram a favor do músico, a conversa na saída ironizava os que vaiaram. “Será que nunca ouviram uma letra do Pink Floyd? Acham que Another Brick in The Wall é sobre construção civil?”.

Logo, frases no mesmo sentido circulavam nas redes sociais. A composição do clássico álbum The Wall, de 1979, faz uma crítica ao modelo autoritário do ensino, com evidente oposição ao modelo militarista. “Acham que o Animals é sobre uma fazenda?”, sobre o álbum de 1977 que norteou a apresentação de Waters e faz duras críticas ao modelo de produção e exploração capitalista.