arte e política

‘Cine Birita’ chega à quarta edição com alerta para riscos contra democracia

'Acho que todo estudo histórico parte da famosa premissa de que quem não conhece seu passado está condenado a repeti-lo', afirma cineasta que compilou depoimentos sobre a ditadura

arquivo/ebc

Curta ‘Aquele 31 de Março’ traz 20 relatos sobre os tempos sombrios

São Paulo – O projeto Cine Birita chega a sua  4a edição na quarta-feira (24), com exibição de cinco curtas-metragens, acompanhados de cervejas e petiscos no Café dos Bancários, no centro de São Paulo. A ideia é apresentar a pluralidade e dar vazão à ampla produção audiovisual brasileira.

Nesta edição, destaque para Aquele 31 de Março,  dirigido por Daniel Mata Roque. Na obra, 20 pessoas que viveram sob a ditadura civil-militar (1964-1985) contam suas experiências sob diferentes óticas. “Acho que todo estudo histórico parte da famosa premissa de que quem não conhece seu passado está condenado a repeti-lo. Daí a importância de conhecer a história do Brasil: para conhecer, viver e evoluir o próprio Brasil. Só assim, conhecendo nosso passado recente, será possível viver bem o presente e ajudar a construir um futuro produtivo e libertador”, afirma o diretor.

Um dos organizadores do Cine Birita, Danilo Motta, reafirma a importância de rechaçar o autoritarismo para que o país não passe novamente por uma experiência tão sombria. É um pensamento central em um momento em que as pesquisas de intenções de voto mostram o candidato da extrema-direita, apoiador de torturadores confessos e defensor da volta da ditadura, Jair Bolsonaro (PSL), à frente. “Acredito que nenhuma manifestação artística combina com um ambiente de autoritarismo”, diz Danilo.

O produtor lembra ainda que cinema, e outras formas de expressão artística, não combina com repressão e censura. Para ele, a expectativa de uma vitória do ex-capitão do Exército não condiz com a evolução do mercado audiovisual brasileiro que, nos últimos 15 anos, vem crescendo de importância, sempre figurando com prestígio em festivais internacionais. “O resultado das eleições terá interferência direta na cena cinematográfica brasileira, assim como na produção artística em geral.”

Além da ameaça que representa uma ditadura, Bolsonaro propõe um plano econômico radicalmente neoliberal, que pretende “secar” o Estado. “Bolsonaro já cogitou tirar o status de ministério da Cultura – sem contar que seu grupo político faz constantes críticas, mesmo sem saber exatamente do que se trata, à Lei Rouanet e demais mecanismos estatais de incentivo à cultura. Em um cenário com Bolsonaro eleito, teremos um setor da nossa economia – não podemos esquecer  que cultura também é indústria – ainda mais fragilizado”, explica Danilo.

Esse enfraquecimento da indústria audiovisual significaria “de imediato, impactos econômicos e financeiros, ao dificultar a captação de recursos para contratação de atores, fotógrafos, figurinistas, maquiadores e toda uma leva de profissionais envolvida no processo de realização de um filme. Mas eu iria além: é uma afronta à própria soberania nacional, uma vez que este cenário praticamente impossibilitaria o nosso cinema fazer frente aos filmes euro-ianques, que têm um potencial econômico esmagador o suficiente para sufocar a nossa produção”, completa.

Serviço

Cine Birita – quarta-feira, a partir das 17h, no Café dos Bancários, Rua São Bento, 413 (Edifício Martinelli)

Veja os filmes que serão exibidos:

Tendência
 – dir. Jonathan Costa – Lucio é um pai de família que vive em segredo uma crise consigo mesmo relacionada à sua sexualidade. Vivendo anos de agonia, decide então assumir para sua família e seus amigos sua verdadeira condição sexual.

A alma ainda fica – dir. Bruna Guido – Retirante vindo de longe à procura de água e abrigo encontra casa intacta, mas aparentemente abandonada. Nela, encontra um baú de lembranças que desperta nele interesse para descobrir a história do local. Com a chegada do vizinho, uma série de situações anormais começa a acontecer, e o jovem sente dificuldades para distinguir o que é real e o que é fruto de seu medo.

Alice – dir. Adriana Gaeta Braga – O que acontece com Alice quando seu subconsciente passa a dominá-la? Esse filme é baseado na hipótese de que Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas, criava suas histórias para atrair meninas para serem fotografadas seminuas pelo autor. E se a menina Alice, agora adulta, percebesse que foi vítima de um abuso em sua infância? E quantas Alices existem na cidade de São Paulo? Para o filme foram usados elementos presentes na obra Alice no País das Maravilhas como o tempo como personagem e os animais como elementos do subconsciente humano.

O Canto – dir. Elisa Aleva – Lia, uma professora de 36 anos, vive uma rotina entediante até se ver totalmente confusa e obcecada por uma casa. Até que ponto se consegue ir atrás de respostas?

Aquele 31 de Março  – dir. Daniel Mata Roque. O diretor convidou 20 pessoas que viveram o período do regime militar e dar seus relatos sobre o período, apresentando óticas bastante diversas sobre este momento histórico.