Cinema

Jorane Castro capta cumplicidade feminina com ‘road movie’ paraense

‘Para Ter Onde Ir’ faz uma viagem poética e sensorial por estradas amazônicas acompanhando três mulheres que buscam algo profundamente importante

Fotos: Divulgação

Keithy deixou a carreira de dançarina para ser mãe-solo. O pai de sua filha as abandonou para ir atrás dos próprios sonhos

As estradas paraenses e uma praia afastada são o pano de fundo para a história de três mulheres completamente diferentes entre si e que viajam juntas em busca de respostas para questões que não ficarão necessariamente evidentes. Este é o mote de Para Ter Onde Ir, primeiro longa-metragem ficcional da diretora Jorane Castro, que estreou nesta quinta-feira (10) no Rio, Niterói, Belém, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Palmas e Goiânia. A estreia nas salas de cinema de São Paulo está prevista para a próxima quinta (17).

Eva, Keithylennye e Melina partem para uma viagem feminina (e, por que não, feminista) e deixam um cenário urbano rumo a lugares onde prevalece a natureza bruta. Cada uma com sua forma de ver a vida, de entender o amor e ávidas por desvendar imbrólios internos, essas mulheres fazem uma road trip em que pouco importa a estrada, mas sim as respostas para suas perguntas mais secretas. A rota é toda permeada pela cumplicidade silenciosa – por vezes até áspera – entre elas.

Eva, interpretada pela atriz, bailarina e cantora Lorena Lobato é uma mulher prática, dura e movida pela razão. Responsável por orientar navios de grande porte a atracar na barra de Belém do Pará, é ela que conduz o carro da viagem e boa parte da história do filme. Tudo que ela quer com este trajeto íntimo é encontrar alguém e pedir perdão. A cantora do grupo Gang do Eletro, Keila Gentil, é Keithy, uma ex-dançarina e cantora de tecnobrega que mora sozinha com a filha pequena em uma comunidade da Vila da Barca, em Belém. E a atriz Ane Oliveira assume o papel da idealista Melina, uma sonhadora que quer viver plenamente a utopia de um grande amor perfeito.

cumplicidade

Para Ter Onde Ir foi rodado entre abril e maio de 2015 em Belém e em parte da Amazônia Atlântica, mais especificamente no município de Salinópolis, no Pará. A fotografia assinada pelo recifense Beto Martins mergulha o espectador em águas profundas, sejam elas metafóricas ou literais, nos rios e praia paraenses, e apresenta toda a beleza da luz invernal da região. Densos e contemplativos, roteiro e fotografia se conectam (também) por não serem óbvios nem de fácil absorção, porém intensos e cheios de melancolia.

Este é um filme de estrada sobre deslocamento, mas também uma história de busca pessoal, de questionamentos sobre para onde você vai, o que você vai deixar de legado e a que você se propõe nesta jornada”, declara a diretora paraense que percorreu longas distâncias durante as filmagens do road movie. “Usamos de dez a 15 carros e chegamos a nos deslocar 35 quilômetros da base por dia. Encaramos contratempos de clima e longas distâncias, optando por filmar na luz de inverno amazônico, que é uma luz muito especial, difusa e clara. Cerca de 90% da equipe é inteiramente do Pará”, completa.

Um dos temas levantados pelo longa-metragem é a angústia e solidão de ser mãe-solo. Keithylennye vai atrás do pai de sua filha, um DJ que, em nome de seu sonho, abandona mulher e criança e propõe que a ex-dançarina que teve de abdicar da carreira faça a mesma coisa. “Eu sou é mãe”, diz Keithy às amigas com a voz embargada de frustração.

O amor no filme passa bem longe dos contos de fadas. “O amor é narrativa, invenção”, Eva diz, irritada com a sonhadora Melina. “Você só fala de homem? Só sabe falar de homem? Porque eu tô a viagem toda ouvindo tu só falar [sic] de homem. É só esse assunto?”, questiona. E Keithy pondera: “Mas homem é bom, dona Eva”. “É muito pouco, muito pouco. Muito pouco amor. Porque amor, a gente ama todo mundo: eu amo você, a Keithy, eu amo esse cara que passou aqui, eu amo aquele cachorro…”

As histórias dessas três mulheres são embaladas pelos sons amazônicos e pelo cancioneiro brega paraense (Amor, Amor, sucesso na voz do cantor Magno, e Fim de Festa, de Manoel Cordeiro), além de participações de Lia Sophia e Felipe Cordeiro. A trilha sonora original do longa está disponível nas plataformas digitais Spotify, Deezer, iTunes e Youtube.

CartazPara Ter Onde Ir
Roteiro e direção: Jorane Castro
Produção: Cabocla Filmes / Rec Produções
Distribuição: O2 Play
Elenco: Lorena Lobato, Keila Gentil, Ane Oliveira
Ano: 2016
País: Brasil
Duração: 100 minutos

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