editorial

Acusações contra Lula indicam ‘golpe de Estado do colarinho branco’

Diário 'La Jornada' diz que crise política brasileira é uma operação em duas fases: legislativa, com a destituição de Dilma, e agora judicial, contra Lula

Paulo Pinto/Agência PT

Jornal mexicano também julga a acusação contra o ex-presidente Lula como ‘pouco verossímil’

Opera Mundi – O jornal mexicano La Jornada publicou  ontem (15) um editorial em que afirma que as acusações do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresentadas na quarta-feira (14), parecem confirmar que no Brasil “se operou um golpe de Estado de colarinho branco”, em referência à destituição de Dilma Rousseff da presidência do país no fim de agosto.

Intitulado Lula, perseguido, o editorial do periódico mexicano afirma que embora as investigações da Operação Lava Jato tenham dado fim à carreira de vários políticos do agora governante PMDB, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – principal impulsor da destituição de Dilma Rousseff, o objetivo prioritário do Poder Judicial brasileiro são a direção histórica do PT, e particularmente o ex-mandatário, agora imputado.

O jornal explica que o próximo passo é que o magistrado Sérgio Moro decida se as acusações contra Lula são procedentes, “coisa que pode ser dada como certa, tendo conta de que o juiz é inimigo declarado” do ex-presidente, diz o La Jornada.

“É significativo que a acusação ocorra dias depois de Lula anunciar sua intenção de se apresentar como candidato nas eleições presidenciais de 2018”, o que dá à causa contra o ex-presidente “um aspecto político inocultável”. O La Jornada também julga a acusação “pouco verossímil”, já que “contrasta com o nível de vida do velho dirigente operário, muito distante do enriquecimento súbito”. Já “os numerosos integrantes da classe política tradicional que foram envolvidos na Lava Jato – o exemplo mais grotesco sendo Cunha – ostentam, por regra geral, fortunas dificilmente explicáveis se não pela corrupção”, diz o jornal.

Para o La Jornada, a crise política brasileira consiste em “uma operação em duas fases”: uma legislativa, concluída com a destituição de Dilma Rousseff, e uma judicial, “que agora aponta contra seu mentor e antecessor no cargo”. Esta seria uma “reação de uma oligarquia que apenas conjunturalmente tolerou o exercício da Presidência por um ex-sindicalista metalúrgico e por uma ativista social que participou do movimento guerrilheiro” contra a ditadura militar brasileira.

“O afã por destruir o governo do PT”, diz o periódico mexicano, “obedecia também ao desígnio de mudar o rumo socioeconômico do poder público na maior nação da América Latina, suprimir os traços soberanos e populares da administração e operar uma regressão ao neoliberalismo, tarefa que já realiza Michel Temer, presidente imposto após a queda de Dilma”.

“A acusação contra Lula parece confirmar que no Brasil se operou um golpe de Estado do colarinho branco e que, como ocorria após os golpes militares de outrora, começou a etapa de perseguição aos derrotados”, conclui o La Jornada.

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