Cinema nacional

Suspense aborda esquizofrenia, homofobia e violência contra a mulher

Longa-metragem 'Quando o Galo Cantar Pela Terceira Vez Renegarás Tua Mãe', de Aaron Sales Torres, acompanha a relação conturbada entre uma mãe ressentida e seu filho esquizofrênico e homossexual

Divulgação

Saúde mental, homofobia, opressão feminina, desigualdade social são alguns dos temas do filme

Zaira (Catarina Abdalla) teve de deixar seu trabalho como costureira para se dedicar integralmente aos cuidados com o filho esquizofrênico Inácio (Fernando Alves Pinto). A família mora na zona sul do Rio de Janeiro porque o pai, Guilherme (Tião D’Ávila), era zelador do prédio e a ele foi cedido um apartamento minúsculo e escuro. Quando o pai fica doente e morre, o medo e a insegurança invadem o ambiente. Este é o ponto de partida do longa-metragem Quando o Galo Cantar Pela Terceira Vez Renegarás Tua Mãe, que estreia nesta quinta-feira (23).

Com a morte de Guilherme, a situação fica insustentável porque mãe e filho se dão conta de que podem ser despejados a qualquer momento. Inácio, esquizofrênico (até então) funcional, conseguiu a vaga de porteiro graças ao trabalho do pai no prédio, mas não se sabe por quanto tempo ele conseguirá manter o emprego, única renda da famíia. Tudo piora quando Inácio fica obsecado por um morador do prédio e a mãe passa a vigiá-lo e persegui-lo na tentativa de frear seu interesse sexual por homens, em especial pelo vizinho.

O primeiro impulso do espectador é se indignar contra a violência emocional de Zaira contra o marido doente e, depois, contra o filho

Zaira é puro ressentimento e agressividade. Antes da morte de Guilherme, ela culpava o marido pela miséria na qual se enfiou; depois é o filho que vira alvo de sua raiva incontida. Afinal, ela foi obrigada a deixar de lado sua vida independente para cuidar de Inácio e da casa. A única coisa que lhe desperta algum carinho e compaixão é o galo que mora em cima da pia – e que ela insiste em chamar de galinha. A ave parece ser o símbolo da solidão dos moradores daquele apartamento sufocante, ela não sai do lugar e vive sempre ameaçada pela fome que ronda a família.

O filme conduz o espectador a indignar contra a violência emocional de Zaira contra o marido doente e, depois, contra o filho. Mas seria um ressentimento gratuito?

O roteiro faz com que o conflito e a tensão – presentes desde os primeiros minutos – sejam crescentes; a fotografia esverdeada transmite uma sensação sufocante dos personagens, tão isolados e solitários dentro de seus mundos interiores. O título do longa foi inspirado em um trecho do conto Feliz Aniversário, de Clarice Lispector, e a música Perigos Razões, composta pelo próprio diretor, é interpretada por Ney Matogrosso.

Inácio fica obsecado pelo vizinho e a mãe passa a vigiá-lo e persegui-lo na tentativa de frear seu interesse sexual por homensSaúde mental, homofobia, opressão feminina, desigualdade social e o despreparo do estado para lidar com situações como a desta família são temas que compõem o primeiro longa-metragem do cineasta sul-matogrossense. Aaron Sales Torres afirma ter se inspirado em personagens reais, seus vizinhos de prédio. “Escutei aquelas discussões do meu apartamento. Por isso demorei três anos para escrever o roteiro, foi muito difícil me distanciar daquilo”, afirma. “Eu também quis falar sobre os marginalizados, seres invisíveis e ao mesmo tempo tão reais e presentes em nossa sociedade.”

Quando o Galo Cantar Pela Terceira Vez Renegarás Tua Mãe
Apresentação:Georgois Filmes
Direção e roteiro: Aaron Salles Torres
Produção: Valeria Amorim e Aaron Salles Torres
Produção executiva: Aaron Salles Torres, Martin D. Johnson, Catarina Abdalla, Sylvia Ramos, Elza Salles Fernandes Silva Torres, Nilton Silva Torres, Nicholas Salles Fernandes Silva Torres e Naymi Salles Fernandes Silva Torres
Elenco: Catarina Abdalla, Fernando Alves Pinto, Tião d’Ávila, Thiago Ristow, Lucas Malvacini, Alice Morena, Silvana Stein, Karine Teles, Marcelo Mello, Robson Santos e Sílvio Guindane
Produção de elenco:Vania Ferreira e Athenea Bastos
Executiva de pós-produção: Sylvia Ramos
Diretor de fotografia: Léo Vasconcellos
Diretor de fotografia adicional:Flávio Borges
Montagem:Paulo Varella
Montagem adicional: Rená Tardin
Direção de arte: Nathalia Siqueira
Figurino: Bella Cardoso
Caracterização e efeitos:Max Vitor
Correção de cor e efeitos especiais:Cristiano Costa
Trilha sonora original: Lucas Vasconcellos
Edição de som: Vinícius Leal e Daniel Vellutini
Mixagem: Vinícius Leal e Jesse Marmo
Distribuição: Elo Company

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