Cinema nacional

Filme retrata cotidiano do trabalho de agentes carcerários

No documentário 'A Gente', o cineasta Aly Muritiba volta ao seu antigo emprego para mostrar em que condições o poder público mantém funcionários para cuidar de uma unidade prisional

Olhar Distribuição/Divulgação

O filme acompanha de perto o agente Jefferson Walkiu, quando assume a chefia da inspetoria do grupo Alfa

São Paulo – Cores cinzentas, ambientes claustrofóbicos, falta de estrutura, de pessoal e de segurança compõem o cenário do documentário A Gente, de Aly Muritiba, que estreia nesta quinta-feira (14) nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador e Porto Alegre. O longa-metragem fecha a trilogia que o diretor fez sobre o cotidiano das prisões brasileiras.

Em A Fábrica (2011) e Pátio (2013), Aly voltou seu olhar para as famílias dos presos e para a vida dos próprios detentos e agora ele retorna ao seu antigo emprego para registrar o dia a dia daqueles que já foram seus colegas de trabalho: a equipe Alfa, um grupo de agentes carcerários formado por 28 trabalhadores, homens e mulheres de origens e formações distintas, que fazem a guarda e custódia de aproximadamente mil presos de uma penitenciária paranaense.

A Gente é um documentário de observação em que o diretor acompanha silenciosamente as reuniões de chefia, as relações entre os trabalhadores e a tensão dos corredores da penitenciária a partir do ponto de vista dos funcionários. Apesar de não vermos nem escutarmos o diretor, sua presença é o tempo todo evidente porque talvez ninguém alheio a este universo conseguiria tanta intimidade naquele ambiente. Em alguns momentos, o espectador talvez até se questione sobre o quanto daquelas conversas e situações tiveram de ser “encenadas” para representar a realidade.

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Falta água, algemas, cadeados e travas. Mas mais que isso, não há sequer um médico na penitenciária.

Choca bastante não apenas a precariedade das condições de trabalho dos agentes, mas sobretudo acarência de recursos que eles dispõem para a ressocialização dos detentos. Falta água, algemas, cadeados e travas. Mas mais que isso, não há sequer um médico na penitenciária. Em certo momento, um detento reclama que na cela há pessoas com dor de dente ede garganta há 15 dias sem que ninguém tenha prestado qualquer tipo de atendimento ou prescrição. “Só que aqui é uma cadeia com 940 presos e só tem uma enfermeira, no máximo; às vezes, duas. Médico, não tem”, o carcereiro retruca para o preso.

Em sua maior parte, o filme acompanha de perto Jefferson Walkiu a partir do momento em que ele assume o cargo de chefe da inspetoria do grupo Alfa e começa, esperançoso, este trabalho que, mais tarde, descobrirá ser impossível. Se a narrativa inicia com uma ponta de esperança de que as coisas podem melhorar na penitenciária, logo torna-se evidente que as mãos de Walkiu estão “algemadas” pelas instâncias superiores – mais precisamente, pelo governo estadual paranaense, liderado desde 2011 pelo tucano Carlos Alberto Richa. É no meio de situações completamente fora de controle que a possibilidade de greve se instala na equipe e que Walkiu acaba tendo de tomar uma difícil decisão.

No filme todo, só não fica muito clara qual era a intenção de Aly Muritiba ao decidir acompanhar a “vida civil” de Jefferson Walkiu, que é um fervoroso pastor nas horas vagas. Por várias vezes, o diretor mostra os cultos e as orientações que o pastor dá a um jovem que será batizado por ele. O que, talvez, fique implícito nesta abordagem é que o agente lida com tanta falta de esperança no sistema que precisa apegar-se à religião como forma de abrandar a dureza da vida.

O longa-metragem também está disponível na plataforma Videocamp para exibições públicas e gratuitas.

A Gente
Direção: Aly Muritiba
Produção: Grafo Audiovisual e RPC TV
Distribuição: Olhar Distribuição
Classificação Indicativa: 12 anos

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