Cultura “limpa”

Cinema itinerante movido a energia solar exibe produções nacionais pelo interior do país

Circuito 2017 do projeto Cinesolar percorrerá 75 cidades de 10 estados e do Distrito Federal, permitindo o primeiro encontro com o cinema a alguns milhares de novos espectadores

Cinesolar/Divulgação

Sessão do Cinesolar em Barreirinhas, interior do Maranhão: cinema brasileiro de qualidade em projeto inovador e sustentável

São Paulo – A emoção de ver um filme projetado numa tela de cinema será realidade para alguns milhares de novos espectadores do interior do país, que terão o primeiro encontro com a sétima arte no circuito 2017 do projeto de cinema itinerante Cinesolar. Serão exibidas produções nacionais em 75 cidades de 10 estados e do Distrito Federal, projetadas usando apenas energia solar. Toda a programação será gratuita.

O projeto, realizado pela produtora Brazucah, utiliza energia limpa e renovável para exibições de filmes. As salas de cinema são montadas a partir de uma van equipada com placas solares fotovoltaicas, que possibilitam a projeção dos filmes por meio de um sistema que converte energia solar em elétrica.

Quando chega aos locais de exibição – como periferias de grandes cidades, aldeias indígenas e municípios do interior ainda sem eletricidade – todo equipamento é retirado da van e o cinema é montado em lugares públicos. São organizados 100 assentos, telão de 200 polegadas, sistema de projeção e de som e um estúdio de gravação. Em cada evento haverá também distribuição gratuita de pipoca, para que o público possa ter “uma experiência completa da ida ao cinema”, segundo os organizadores.

“O Cinesolar nasce da união da ideia de democratização do acesso ao cinema e da necessidade de incentivar as pessoas a utilizar energia renovável, promovendo o tema da sustentabilidade. Existem vários níveis de relação com essa tecnologia, desde as coisas mais simples, que passam por conhecimentos dos mais antigos, como compostagem do lixo. A ideia é aproximar e difundir a tecnologia renovável com foco na solar”, diz a coordenadora do projeto, Cynthia Alario.

Cinesolar/Divulgação
A coordenadora do projeto Cinesolar, Cynthia Alario

Um novo circuito teve início no último sábado (12), no município paraense de Primavera, com a exibição de Cine Holliúdy, do diretor Halder Gomes. Nesta sexta (18) a van chegará ao Ceará para percorrer os municípios de Amontada, Itarema e Aracati, onde serão exibidos O Milagre de Santa Luzia, de Sérgio Roizenblit. O projeto segue para os municípios de João Câmara e São Miguel do Gostoso, ambos no Rio Grande do Norte, e para as cidades mineiras de Açucena e Delfim Moreira. Em outubro, esta etapa do circuito estará no Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, percorrendo 32 municípios.

A programação das sessões prevê a projeção de pelo menos três curtas metragens, que em geral abordam o tema da sustentabilidade, e um longa. Estão na grade títulos como Minhocas, de Paolo Conti e Arthur Nunes, As Aventuras do Avião Vermelho, de Frederico Pinto e José Maia, Tudo que aprendemos juntos, de Sérgio Machado e O Palhaço, de Selton Mello.

Além da exibição de filmes, o projeto oferecerá também oficinas de audiovisual para moradores das cidades. Ao final, os participantes desenvolverão um roteiro de cinema e produzirão um curta-metragem, que será exibido à noite, junto com os outros filmes da programação. “A ideia é que eles possam se ver nas telas. Os participantes contarão quais os problemas o município enfrenta em relação à sustentabilidade e quais as estratégias para resolvê-los”, diz Cynthia.

Desde o início do projeto, em 2013, já foram realizadas pelo menos 446 sessões e 130 oficinas em 242 municípios brasileiros, com um alcance de cerca de 70 mil espectadores. A economia de energia elétrica chega 306,9 megawatts, equivalente a mais de cinco mil horas de uma televisão de 20 polegadas ligada ininterruptamente.

“O Brasil tem um incrível potencial em energias renováveis. E por que não se beneficiar disso no campo do entretenimento, das artes e da cultura? Nosso objetivo é, além de democratizar o acesso à produção audiovisual nacional, trabalhar com ações sustentáveis que multipliquem a conscientização ambiental e mostrem a força que a energia solar tem por aqui”, diz a coordenadora do projeto.

O Cinesolar é realizado em parceria com o Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. “Nos últimos dois anos, quando muito se falou sobre crise e dificuldades provocadas pela crise, conseguimos unir forças e superar obstáculos com criatividade, esforço, interação e inovação. Em parceria com o Cinesolar, levamos cinema e atividades de sustentabilidade a diversas cidades do interior paulista”, afirma Mário Mazzilli, diretor-superintendente do Instituto CPFL, patrocinador do projeto, juntamente como o programa de desenvolvimento local da empresa, chamado Raízes.