Cinema

Dia a dia e dramas de tribo do Xingu são mostrados em realidade virtual

'Fogo na Floresta' é o primeiro documentário filmado em 360 graus numa aldeia indígena brasileira. Com estreia no festival É Tudo Verdade, curta denuncia ameaças a essas tribos

Tadeu Jungle/Divulgação

Queimada no sapezal no entorno da aldeia Piyulaga, durante as filmagens de Fogo na Floresta. Os incêndios são hoje grande problema para os povos indígenas

Produzido pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Academia de Filmes, o curta-metragem Fogo na Floresta explora, em sete minutos, o modo de vida e os perigos que rodeiam a tribo Waurá, no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. O curta-metragem filmado em 360 graus foi dirigido por Tadeu Jungle, narrado por Fernanda Torres, estreou nesta quinta-feira (27), no Centro Cultural São Paulo, no festival de documentários É Tudo Verdade. Trata-se do primeiro filme em realidade virtual (VR, da sigla em inglês) feito em uma aldeia indígena no país e o primeiro neste estilo a integrar este festival.

A intenção da obra é aproximar o grande público das causas indígenas, conectando as pessoas que moram nas grandes cidades com a Amazônia e seus povos originários, para estes ganhem mais aliados em suas lutas. Trata-se de uma espécie de “passeio” que transporta o espectador para o meio de uma aldeia da etnia Waurá para mostrar o cotidiano na tribo, como a pesca, o futebol, a arte da cerâmica e a produção da farinha de mandioca.

Também são apresentados uma sala de aula, a “casa dos homens” e o interior de uma maloca, conjunto que, segundo os idealizadores, compõe um cenário atual no qual a cultura tradicional e os hábitos contemporâneos coexistem no cotidiano indígena.

Tadeu Jungle/Divulgaçãowaurá
Apaiyupi Waurá, no making off das filmagens de ‘Fogo na Floresta’

Mas algo de terrível também vem à tona com o filme: o fogo fora de controle. Usado há milênios pelos povos indígenas para a abertura de suas roças de subsistência, ele agora avança sobre as matas de maneira descontrolada por causa das mudanças climáticas e do desmatamento acelerado nos entornos do Xingu.

“Chegamos na aldeia focados em mostrar a rotina dos índios, mas de cara flagramos um incêndio poucos metros de uma maloca. O filme ganhou uma urgência imediata”, afirma o diretor Tadeu Jungle.

“O Parque Indígena do Xingu, casa dos Waurá e de outros 15 povos, é hoje uma ilha de floresta cercada por fazendas de soja por todos os lados. O descontrole do fogo é o resultado direto dos desmatamentos no entorno do Xingu que alteram os padrões de chuva, mudando o clima da região, causando o ressecamento da floresta, tornando-a mais inflamável”, declara André Villas Bôas, secretário executivo do ISA.

Para Paulo Junqueira, coordenador do ISA que trabalha diretamente no Xingu, o curta é importante para que a população conheça também a realidade que ameaça os índios naquela região. “A maioria das pessoas pouco conhece a realidade em que vivem os índios e, olhando para o Parque do Xingu do ponto de vista ambiental, entre os vários desafios que os índios enfrentam hoje, o avanço de incêndios florestais é o maior de todos eles. Desde 2010, os incêndios no parque vêm se intensificando, chegando em 2016 a queimar 221 mil hectares. A experiência de tentar divulgar esses desafios e a vida desses povos em novos formatos, não só Realidade Virtual mas também outras mídias, como foi o caso dos filmes Para Onde Foram as Andorinhas, e, mais recentemente, a campanha Menos Preconceito Mais Índio, vem no sentido de expandir a perspectiva socioambiental para mais gente”, aponta.

Depois do festival É Tudo Verdade, o filme será ativado em uma série de eventos promovidos pelo ISA e pela coprodutora Academia de Filmes nos próximos meses. Ele também estará disponível gratuitamente em meados de junho para exibição em 360 graus na Internet, no canal do ISA no YouTube, bem como via aplicativos Fogo na Floresta (em português) e Fire in the Forest (em inglês) na Apple Store e na Google Play Store.

 

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