São Paulo

Grafiteiros aderem a projeto de arte urbana da gestão Doria ‘para evitar novos equívocos’

Prefeito pretende investir R$ 200 mil na criação de oito museus a céu aberto. Artistas esperam que a gestão não limite o grafite a esses espaços

Zanone Fraissat/Folhapress

Mural da Avenida 23 de Maio foi apagado pela gestão Doria, apesar dos apelos de artistas

São Paulo – O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o secretário municipal de Cultura, André Sturm, lançaram hoje (10) o projeto Museu de Arte de Rua, que pretende criar oito museus de grafite a céu aberto, nas quatro regiões da cidade. Um grupo de grafiteiros, incluindo Mauro Neri, detido em fevereiro por remover a tinta passada pela prefeitura sobre uma obra dele, participou da elaboração da proposta, mas deixou sua posição bem clara no lançamento. “Isso não significa que nós concordamos com todas as decisões da gestão. Nosso compromisso é com a cidade. Entramos nesse processo, sobretudo, para evitar que a gestão cometesse novos equívocos como os que ocorreram antes”, disse Neri.

O grafiteiro faz referência aos episódios em que a gestão Doria determinou que fossem cobertas com tinta cinza inúmeras obras de artistas em várias regiões da cidade. Dentre elas, foi apagado o maior mural de grafite da América Latina, que ficava na Avenida 23 de Maio, região central da cidade. “Nosso maior objetivo foi trazer à gestão o conhecimento sobre as manifestações de rua em São Paulo, lembrando da importância da cidade no cenário nacional e internacional. Se bem utilizado, o grafite pode ser uma ferramenta muito importante no futuro dos jovens”, destacou Neri.

A Avenida 23 de Maio, porém, parece condenada a ser cinza, pelo menos nos próximos quatro anos. Doria descartou qualquer possibilidade de o projeto ser realizado nos muros da via. “Vamos criar museus, porque eles são exaltados, valorizados, respeitados. Seremos a primeira cidade do país a ter um museu de arte urbana”, disse o prefeito, ignorando que a cidade já possui o Museu Aberto de Arte Urbana, na Avenida Cruzeiro do Sul, zona norte da cidade, onde os grafites dão cor às pilastras da Linha Azul do Metrô. Obra do padrinho político de Doria, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o acervo tem 66 painéis de vários artistas.

A proposta do Museu de Arte de Rua é criar quatro grandes áreas de exposição do grafite em cada uma das regiões. Outras quatro áreas menores também serão implementadas, podendo ser nas mesmas regiões ou no centro. Os grafiteiros receberão apoio material e financeiro da prefeitura para executar as obras, que ficarão expostas por pelo menos dois anos, sendo a manutenção delas de responsabilidade dos artistas. Não serão permitidas mensagens políticas, de cunho religioso ou discriminatório. O veto a mensagens políticas causou contrariedade entre os grafiteiros.

Edital

Sturm garantiu que o projeto não vai impedir que se produza grafite em outros espaços. As propostas de artistas para outros equipamentos públicos, fora do Museu de Arte Urbana, serão analisadas pela gestão. “Não vamos limitar o grafite. Quem quiser fazer uma arte em outro espaço ou equipamento público pode procurar a prefeitura regional ou a secretaria e fazer sua proposta. Se não houve nenhum impedimento prático, não tem por que não liberar”, disse.

A Secretaria de Cultura vai lançar o edital na próxima segunda-feira (13). Os interessados terão 30 dias para se inscrever, diretamente na secretaria ou pelo correio. As propostas deverão apresentar um local para as intervenções – só valem espaços públicos –, o tipo de obra, o custo e o número estimado de artistas envolvidos.

Para as áreas grandes, devem ser no mínimo seis grafiteiros, que receberão apoio de R$ 40 mil. Para as menores, no mínimo três, a serem apoiados com R$ 10 mil. O total investido nos oito projetos será de R$ 200 mil. Será formada uma comissão julgadora por artistas e curadores, cujos nomes ainda não estão definidos.

Sturm avaliou que o projeto deve envolver entre 300 e 400 artistas. “Soubemos no diálogo com os grafiteiros que esse tipo de intervenção dificilmente é feito por grupos pequenos. Os artistas sempre convidam outros. Então estimamos em cerca de 400 pessoas participando”, afirmou. A ideia é que em maio todos os museus estejam prontos, entrando para o mapa de locais turísticos da capital paulista. O projeto vai contar com o apoio de patrocinadores, que serão contratados por meio de chamamento público.

A prefeitura pretende ainda lançar em breve a Escola de Grafite, no espaço do Cine Art Palácio, na Avenida São João, centro da cidade, que hoje está fechado. A proposta é que o local tenha aulas de desenho e grafite, além de servir como espaço de encontro e elaboração dos artistas experientes. Também estão previstas ações de grafitagem em cinco casas de cultura, no mês de março, durante a Semana do Hip Hop.