BaixoCentro arrecada fundos para festival colaborativo em São Paulo

Mais de 500 atividades foram apresentadas em chamada pública para segunda edição do evento. Objetivo é arrecadar R$ 62.578 até o dia 30

Festival é um “grito” contra desmando e acontece entre 5 e 14 de abril (Foto:ferligabue/Flicker)

São Paulo – A campanha de arrecadação de fundos para a realização do 2º Festival BaixoCentro, em São Paulo, começou ontem (5). As doações podem ser feitas por qualquer pessoas por meio do Catarse (site especializado em financiamento coletivo) O valor mínimo para doação é de R$ 10.  O objetivo é que sejam arrecadados R$ 62.578 para financiar 530 atividades propostas – cinco vezes mais do que na edição anterior – todas produzidas por produtores independentes e propostas em chamada pública. As doações podem ser realizadas até o dia 30 de março. O festival irá acontecer entre os dias 5 e 14 de abril.

“A ideia do financiamento coletivo é justamente para manter o caráter independente do festival e não envolver os cidadãos apenas na hora de ver uma atividade como público, mas engajá-los desde o começo para a realização. Se eles não apoiarem, não há festival. Então, o processo de engajamento e construção desta ocupação começa por aí, na passada de chapéu”, explica Thiago Carrapatoso, um dos membros do BaixoCentro, via correio eletrônico enviada no grupo de e-mails do coletivo. É por esse grupo de emails que boa parte das ações são discutidas.

Idealizado por um coletivo homônimo apartidário, o festival surgiu como resistência a processos excludentes na cidade, principalmente na região que concentra suas atividades, ruas próximas à praça Marechal Deodoro, sob  e sobre o viaduto Presidente Costa e Silva, o Minhocão, no centro da cidade. 

“Há dois anos, havia uma disputa pelas ruas da região por causa das catastróficas ações policiais na cracolândia. Havia ainda a ameaça do Nova Luz de demolir mais de 30% da região e expulsar todo mundo que está morando no centro. A especulação imobiliária, a falta de políticas públicas urbanísticas e ações policiais autoritárias fizeram com que emergisse o grito de que as ruas também são nossas. Enquanto uns vêm com drogas, outros com armas, nós, da sociedade civil, disputaremos com dança. ‘A arte é uma arma carregada de futuro’, como diz o filme Noviembre”, explica Carrapatoso.

A falta de cores partidárias, no entanto, não faz do grupo apolítico. “Se o primeiro festival foi aquela experimentação, em que a gente estava tateando os territórios e vendo os limites que poderíamos chegar, neste, queremos dar um passo seguinte. Depois de ocupar as ruas, e aí? O que fazemos? A ideia é não somente promover a ocupação em si, mas levantar o questionamento sobre a falta de mobiliário urbano, de infraestrutura para realizar atividades coletivas, de que a cidade foi projetada para ser apenas de passagem, e por aí vai. Só frisando que o primeiro festival foi bem político também pelo marco na cidade”, argumenta Carrapatoso. “A nossa ideia é conseguir ressignificar essa região, de um lugar que precisa ser revitalizado para um lugar que foi oprimido e, agora, pode participar da elaboração de políticas públicas para a região”.

O dinheiro arrecadado para financiar as atividades do festival, que vão de aprestações musicais a mapeamentos colaborativos (veja a programação completa no site),  não remunera os envolvidos, apenas custeia a infraestrutura e materiais necessários para a realização das atividades como purpurina, equipamentos de som, geradores, narizes de palhaço e chocalhos. 

“Eu, sinceramente, não consigo ver como a nossa estrutura de trabalho do BaixoCentro agora possa entrar como qualquer tipo de economia. Não estamos criando o festival apenas para ter o festival. A ideia de troca de trabalho por uma outra ideia de remuneração é mais focada na simbologia da ocupação do que qualquer outra coisa. Não estamos estruturando uma equipe que recebe ordens, outra que executa, outra que explora o artista e por aí vai. É um movimento voluntário da sociedade civil. Ninguém recebe aqui (ou, se recebeu, é um valor simbólico que não condiz com a realidade do serviço). Não há fluxo de caixa (qualquer que seja, até criativo). Um dia ainda eu (outras pessoas do movimento acreditam diferente) queria que a gente achasse um meio de conseguir remunerar os artistas pelas apresentações. Mas sendo um movimento da sociedade civil para a sociedade civil, é muito complicada a equação”, afirma Carrapatoso, na entrevista por e-mail.