Artistas querem retomada de atividades culturais nos CEUs de São Paulo

Na periferia de São Paulo, CEUs instalados em escolas devem ser polos de desenvolvimento e espaço de convivência (CC/Fernando Stankhus) São Paulo – Cooperativas e coletivos de artistas aproveitam o […]

Na periferia de São Paulo, CEUs instalados em escolas devem ser polos de desenvolvimento e espaço de convivência (CC/Fernando Stankhus)

São Paulo – Cooperativas e coletivos de artistas aproveitam o início da nova gestão da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo para reivindicar a reestruturação dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) como polos produtores e difusores de cultura, após constatarem que os equipamentos foram “sucateados” pelas últimas gestões da cidade. A ideia foi proposta durante reunião entre representantes da classe teatral e o secretário da pasta, Juca Ferreira, na última sexta-feira (1º).

Um dos principais eixos apresentados é a retomada de um programa para a formação de público nas comunidades em que haja um CEU instalado – abrangendo linguagens como dança, teatro, música e cinema – a partir de uma agenda de eventos que contemple a produção artística e cultural destes grupos. Monitoração nas escolas, divulgação dos projetos para a comunidade e debates entre o público e os artistas, após as apresentações, estão entre os eixos da proposta.

“O equipamento já existe, mas deve haver um programa bem pensado, que não se limite a descarregar atividades ‘picotadas’. E tudo isso deve ser feito de maneira transparente, com edital”, disse o presidente da Cooperativa Paulista de Teatro (CPT), Ney Piacentini, após a reunião. Segundo ele, Ferreira mostrou-se favorável ao projeto.

Um dos principais problemas para a retomada dos CEUs como polo criador e difusor de cultura na periferia é a programação, cuja gestão é feita atualmente pela Secretaria Municipal de Educação – depois que um ato administrativo alterou as diretrizes iniciais do programa. O presidente da Cooperativa de Música de São Paulo, Luis Felipe da Gama Pinto, alerta que a desvinculação da Secretaria de Cultura em relação aos CEUs é justamente uma das razões que levaram o equipamento público à beira do sucateamento. “Ambas as secretarias devem pensar uma política de cultura em consonância. Sozinha, a Secretaria de Educação não tem condições e conhecimento para fazer a gestão da programação, nem orientar a criação cultural. Tirar a Secretaria de Cultura da gestão é corromper uma das vocações mais importantes dos CEUs.”

Para o presidente da Cooperativa Paulista de Dança, Sandro Borelli, as administrações José Serra/Gilberto Kassab não priorizaram os CEUs como deveriam: “Eles foram sucateados. A última gestão não aprimorou a estrutura nem fomentou atividades culturais. É um equipamento público que está praticamente parado.”

Para Piacentini, o propósito e a localização dos CEUs são estratégicos para o sucesso de uma política cultural na capital paulista. “Eles estão em áreas onde a população mais precisa desses aparelhos públicos. Colhemos testemunhos de professores alegando que, depois das atividades culturais, a convivência e a sociabilidade dos alunos melhoravam na sala de aula. Dá um importante retorno econômico e social.” 

Criação da gestão de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo (2001-2004), os CEUs foram projetados como um polo de desenvolvimento das comunidades da periferia e da renovação de experiências educacionais, articulando os projetos de interesse de cada local a partir de telecentros, teatros, bibliotecas, ginásio, piscinas e salas de música. Além de abranger escolas, a ideia é organizar oficinas, ateliês e reuniões em espaços abertos à comunidade, inclusive nos fins de semana. Hoje, São Paulo conta com 45 CEUs, em regiões como Capão Redondo, Cidade Dutra, Brasilândia, Cachoeirinha, Perus e Paraisópolis.

Em cena

No encontro foram abordadas questões como a ocupação dos teatros distritais da cidade. Leis de fomento à música e à dança também foram debatidas. Segundo Piacentini, a ideia é abrir editais para que grupos e companhias apresentem projetos para ocupar os teatros municipais durante um ano, com oficinas, espetáculos e outras atividades. Os projetos seriam avaliados por uma comissão apresentada pela secretaria. “Para o artista teatral, ocupar o espaço durante um ano é mais eficaz do que ficar em cartaz por algumas semanas e depois ir embora. Dá mais tempo para o grupo ter contato com a comunidade, além de conhecer a realidade, as peculiaridades do bairro”, justificou.

Mesmo contando com o Programa Municipal de Fomento à Dança, os profissionais da área enfrentam dificuldades, pois a lei não tem dotação orçamentária. “Todo ano nos organizamos para pedir apoio dos vereadores e impedir que haja algum corte de verba”, diz Sandro Borelli. 

Para a Cooperativa de Música de São Paulo, o padrão a ser seguido para uma lei de fomento é o que já existe para o teatro. Criada em 2002, a Lei de Fomento ao Teatro (13.279/02) seleciona um máximo de 30 projetos por ano, cujos grupos organizadores recebem recursos da prefeitura para executá-los. São abertos dois editais por ano, um em cada semestre. Em 2011, o valor chegou a R$ 8,2 milhões. Em 2012, foram R$ 8,4 milhões.

Porém, o presidente da cooperativa, Luis Felipe, afirma que o valor da verba a ser pleiteada pela classe ainda não foi definido: “Ainda não temos esse número. Mas o importante neste primeiro momento é discutir o conceito da lei e analisar a produção musical na cidade hoje. A área da música envolve uma grande quantidade de profissionais de outros setores, então uma lei de fomento traria impactos econômicos importantes.”

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