Mídia

‘Uma igreja não pode pretender tomar o poder no país’, diz Haddad no ‘Pânico’

Na rádio Jovem Pan, petista questiona ligação entre Igreja Universal de Edir Macedo e TV Record: 'Vamos virar um Estado teocrático?”

Reprodução

Candidato petista participa de programa ao lado do deputado federal eleito Alexandre Padilha

São Paulo – Entrevistado no Pânico, da Rádio Jovem Pan, o candidato petista à Presidência da República, Fernando Haddad, falou no conhecido ambiente descontraído do programa, mas não deixou de ser questionado sobre temas polêmicos. Ao lado do deputado federal eleito Alexandre Padilha (PT-SP), ele falou sobre a relação do seu adversário, Jair Bolsonaro (PSL), com a Igreja Universal e a Rede Record. “Uma igreja não pode pretender tomar o poder no país.” Ele condenou o fato da igreja “fazer campanha aberta, sendo dona de uma emissora”.

Sobre o fato de os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff terem recebido apoios evangélicos, respondeu. “Uma coisa é escolher um candidato que vai te representar, outra coisa é (usar) uma candidatura para fazer você chegar ao poder. Isso deveria ser considerado uma ilegalidade.”

Ele lembrou o episódio em que a Record colocou no ar uma entrevista com Bolsonaro durante o debate da TV Globo. “Não acho certo o que a Record fez. Abrem o microfone para ele ficar meia hora, e sete candidatos seguindo regra, com um minuto para falar cada um? Fomos à Globo e o cara me aparece meia hora, esvaziando o debate, com ele exclusivo na rede do Edir Macedo?”

Segundo o candidato, o simbolismo da atual conjuntura é preocupante. “Vamos virar um Estado teocrático?”, questionou. Sobre violência, afirmou que “o Brasil precisa mudar de atitude, fazer um gesto. Acho que fui escolhido (como candidato) por transitar e ser respeitado por todas as tribos”.

Haddad foi também perguntado sobre o chamado “kit gay”, e lembrou que o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que Bolsonaro está proibido de citar essa notícia falsa. E que há tantos vídeos falsos que a Justiça não consegue acompanhar. “Ele (Bolsonaro) pega um livro de um radical qualquer, e diz que é meu.”

O petista lembrou outras fake news, como a de que seria dono de uma Ferrari, e outras de mais baixo nível. “Minha mulher, Ana Estela, tem carro. Mas eu nem tenho carro. Uso bike, uso Uber, uso metrô.”

O petista comentou sobre a chamada “alternância do poder” num regime democrático. “Não tenho nada contra a alternância. O problema é o que aconteceu a partir de 2016, na verdade a partir de 2014.” Após a reeleição de Dilma Rousseff, setores do PSDB liderados pelo candidato derrotado Aécio Neves questionaram a legitimidade do pleito e iniciaram o movimento golpista que culminou com o impeachment.

“A Dilma errou? Na época, eu critiquei medidas como desoneração de setores econômicos, o que gerou problemas nas contas públicas. Mas o pessoal começou a bombardear. Aécio e Eduardo Cunha não pensaram no país, pensaram neles próprios, no poder. Se não fosse o lance de 2014, o PSDB teria chance de ganhar a eleição.”

Os integrantes do Pânico quiseram saber se o programa de governo continha alguma proposta de “censura” ou controle dos órgãos de comunicação. Haddad explicou que uma sociedade democrática não pode conviver com a propriedade cruzada, o domínio, por um mesmo grupo ou família, de vários meios, como rádio, TV e televisão. “Não é controle, é desconcentração.”

“O Maranhão estava há 50 anos governado pelo Sarney porque ele detinha o monopólio das comunicações”, disse. Segundo Haddad, é preciso, por meio de licitação, “evitar que o cidadão fique sujeito à mesma família”.

O apresentador do programa, Emilio Surita, justificou-se dizendo que as perguntas mais polêmicas vinham de sua tia, em alusão às fake news disseminadas por WhatsApp. “Desculpe a sua tia, mas estou aqui pra responder a ela também”, afirmou o candidato.

Leia também

Últimas notícias