Editorial

Não faça de voto branco, nulo e abstenção uma arma. A vítima pode ser você

Quem acha que está “protestando” ao votar nulo ou ao não ir votar precisa estar consciente de que seu gesto tem, sim, consequências

Tânia Rêgo EBC/Reprodução

Estão em jogo propostas marcadas pela diferença entre a continuidade do golpe contra trabalhadores ou a reconstrução dos direitos

São Paulo – A imprensa comercial brasileira tem patrocinado, desde a década passada, uma onda de criminalização e satanização da política. A promoção sistemática do descrédito serviu para levar multidões às ruas e para derrubar uma presidenta da República. Serviu ainda para expor Brasil ao ódio, à intolerância e ao risco do fascismo.

O crescimento dos índices de votos nulos, em branco e abstenções é também uma das consequências desse comportamento. A pretexto de combater a corrupção e de desqualificar o partido vencedor das quatro últimas eleições presidenciais – contrariando a ideologia econômica que move os interesses dos donos e patrocinadores da mídia –, os meios de comunicação acabaram também restringindo o acesso dos brasileiros à informação e ao debate de ideias.

O primeiro turno das eleições presidenciais deste ano apresentou um crescimento do número de brasileiros desinteressados em escolher um candidato. O total de votos em branco, nulos e abstenções correspondeu a 40 milhões (29% dos eleitores).

O suposto “protesto”, no entanto, não impede que Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputem o segundo turno e que um deles assuma a Presidência da República em 2019.

Para se ter ideia de experiências anteriores, também não impediu que Aécio Neves fosse ao segundo turno com Dilma Rousseff em 2014, embora tenha “perdido” a eleição no primeiro turno para os brancos, nulos e abstenções. O tucano obteve menos de 35 milhões de votos, ante quase 39 milhões que não votaram em ninguém.

Isso, no entanto, não o impediu de ir ao tira-teima com Dilma e, depois, desrespeitar a decisão das urnas e liderar, ao lado da mídia, de Eduardo Cunha e de Michel Temer, primeiro a sabotagem ao governo, depois o golpe que a derrubou.

Nas eleições municipais de 2016, perder para o tal “nenhum/ninguém” não impediu Marcelo Crivella de assumir a prefeitura do Rio de Janeiro. Nem João Doria de assumir a prefeitura de São Paulo – onde encontrou contas saneadas, mas permaneceu apenas por 15 meses para interromper a execução de um Plano Diretor Estratégico discutido com toda a sociedade e sucatear a cidade.

Voltando a 2014, sob o raciocínio de que os políticos “são todos iguais” e “nenhum presta”, nada menos do que 45,5 milhões de cidadãos não votaram em nenhum deputado e 53,4 milhões não escolheram nenhum senador.

Nada disso, entretanto, impediu que Eduardo Cunha comandasse o golpe contra a democracia antes de ser preso por corrupção.

E se 296 deputados votaram a favor da “reforma” trabalhista que destruiu a CLT e apenas 177 votaram contra, é sinal de que não são todos iguais. Se 50 senadores votaram contra seus direitos e apenas 26 estavam para defendê-los, fica comprovado que foi um erro não se informar melhor antes de votar e permitir que uma maioria do Congresso Nacional agisse contra os interesses dos trabalhadores.

Em resumo, quem acha que está “protestando” votando nulo ou não indo votar precisa estar consciente que seu gesto tem, sim, consequências.

Hoje, quando os leitores tomarem conhecimento das últimas pesquisas, poderão deparar também com esta imprecisão: os institutos de pesquisa nunca acertam as previsões de brancos e nulos e muito menos os que decidem não ir votar.

Neste domingo (28), estarão em jogo mais do que duas propostas diferentes. Estará em jogo se o Brasil vai continuar aprofundando – com Jair Bolsonaro – o golpe de Temer contra os trabalhadores e contra a soberania nacional. Ou se o país de dará a oportunidade de reconstruir seus direitos com a revogação da reforma trabalhista, da emenda do congelamento de gastos com saúde e educação e a interrupção imediata da reforma da Previdência – propostas que estão contempladas na candidatura de Fernando Haddad.

Estará em jogo um projeto de diálogo com todas as diferentes correntes de pensamento da sociedade em nome da reconstrução da economia e do respeito internacional do Brasil – representando por Haddad; em oposição a uma ideia de autoritarismo, que ameaça submeter o país aos interesses da mesma elite atrasada que deu as cartas durante 500 anos.

Está em jogo se o Brasil vai recuperar seu processo de desenvolvimento com criação de empregos e redução das desigualdades ou vai se permitir mergulhar num abismo de violência e obscurantismo que assusta não só uma parte importante dos brasileiros com deixa o mundo todo estarrecido.

Por esse embate decisivo entre a retomada do avanço civilizatório e o advento da mais imprevisível barbárie – sob a qual se ameaça calar opositores à forca e estimular a formação de milícias repressivas –, em nome da democracia, da educação e do respeito a todas as religiões, raças, culturas, homens e mulheres que compõem essa rica nação, a Rede Brasil Atual recomenda o voto em Fernando Haddad e Manuela D’Ávila.