Meio ambiente

Ministeriável de Bolsonaro acha que impedir corte de árvores é ‘encher o saco’

General diz sentir falta do tempo (ditadura) em que podia fazer do jeito que quisesse, sem Ministério Público ou Ibama para atrapalhar. Procuradores reagem

Arquivo Agência Brasil

General da equipe do candidato do PSL evoca tempos da ditadura em que se podia derrubar sem impedimentos legais

São Paulo – Cotado para o Ministério dos Transportes em um governo Bolsonaro, Oswaldo Ferreira é mais um general em uma equipe repleta de militares do candidato do PSL. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele se referiu aos tempos em que era um “tenente feliz na vida”, na época da ditadura.

“Quando eu construí estrada, não tinha nem Ministério Público, nem o Ibama. A primeira árvore que nós derrubamos (na abertura da BR-163), eu estava ali… Derrubei todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco. Hoje, o cara, para derrubar uma árvore, vem um punhado de gente para encher o saco”, declarou Ferreira.

A BR-163 é uma estrada entre Mato Grosso e Pará, também conhecida como “Cuiabá-Santarém”, aberta nos anos 1970. A reportagem lembra que se trata da principal rota rodoviária de escoamento de grãos do país e que ainda tem quase 100 quilômetros de terra, além de ser conhecida “por seus atoleiros e filas intermináveis de caminhões” – a engenharia do Exército trabalha em obras de pavimentação. “O traçado de quase toda a estrada, principalmente no Pará, é marcado pela ocupação irregular e desmatamento ilegal”, diz o jornal.

Ex-chefe do Departamento de Engenharia e Construção do Exército, o general Ferreira afirma que “ninguém é maluco de ser contra o meio ambiente, mas precisamos esclarecer logo o que pode e o que não pode ser feito”. De acordo com o Estadão, o plano de governo de Bolsonaro “já deixou clara sua intenção” de juntar as estruturas dos ministério da Agricultura e do Meio Ambiente, o que também aconteceria entre o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).

Ouvida pelo jornal, a subprocuradora-geral da República Sandra Cureau afirmou que as propostas representam “a maior possibilidade de retrocesso na área ambiental da história” e que o país corre o risco “de ter um Ministério Público amordaçado”. Ela considera ainda “absurda” a ideia de juntar os ministérios.

“São áreas que sempre se chocaram. É natural que seja assim. Fazer isso significaria, na prática, acabar com o Ministério do Meio Ambiente. Os interesses do setor produtivo vão sempre prevalecer, não há dúvida disso.”

Sem citar nomes, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) divulgou nota para afirmar que “a defesa do meio ambiente, das populações tradicionais e suas culturas e a proteção dos direitos da pessoa humana são valores universais, previstos como cláusulas pétreas na Constituição de 1988”. Segundo o presidente da entidade, José Robalinho Cavalcanti, o desenvolvimento do país “não é  incompatível com esses valores e com o respeito integral às leis que os protegem e que foram democraticamente aprovadas nos termos da Constituição”.


Leia também

Últimas notícias