Ame ou deixe

Generais de Bolsonaro colecionam ideias e propostas antissociais

Do fim do 13º ao criacionismo, passando pelo desmatamento sem limites, eles dão ideia do que pode acontecer a partir de 2019

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Chagas, candidato derrotado ao governo do Distrito Federal, também já tentou intimidar institutos de pesquisa

São Paulo – A ascensão eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL) trouxe um grupo significativo de militares que acompanham o candidato ou que também tentaram uma vaga parlamentar. Seis generais disputaram neste ano, e dois foram eleitos. E o presidenciável conta no seu entorno com outros que têm garantido uma dose de ideias e propostas polêmicas, algumas de viés antissocial. A mais famosa foi a de seu vice, general Hamilton Mourão (PRTB), contra o 13º salário – além da Constituinte sem povo –, mas não a única. 

Ontem, por exemplo, o general Eliéser Girão Monteiro Filho, deputado federal eleito pelo PSL no Rio Grande do Norte (81.640 votos), defendeu o impeachment e mesmo a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) responsáveis pela libertação de políticos acusados de corrupção. Trata-se, segundo ele, de um “plano de moralização” das instituições.

Posteriormente, em rede social, ele reiterou: esse plano “nada mais é do que o funcionamento PLENO das instituições”. Segundo o militar, não há negociação “com quem se vendeu para o mecanismo”, disse, em alusão a uma série sobre a Operação Lava Jato. 

Da turma de 1976 da Academia Militar das Agulhas Negras, Girão foi para a reserva em 2009, durante o governo Lula, por discordar da política sobre demarcação de terras na Amazônia. Ele protestou contra a retirada de fazendeiros da área de reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Também defende que ocupações de terra e propriedades sejam classificadas como “terrorismo”. 

Candidato derrotado ao governo do Distrito Federal, o general Paulo Chagas fez alerta, quase ameaça, aos institutos de pesquisa, caso apontassem mudança da tendência favorável a Bolsonaro. “Se, nos próximos dias, houver mudança nas pesquisas, teremos que por as barbas de molho. Será o prenúncio da fraude. A opinião pública não muda de uma hora para outra, assim como um ateu não se converte ao Catolicismo e, num átimo, se transforma em um papa-hóstias!”, escreveu, para reação do diretor do instituto Datafolha, Mauro Paulino.

Dias depois, Chagas respondeu: “Ele (Paulino), sem vergonha, afirma que vai continuar a usar a sua sempre duvidosa “isenção” para retratar a sua opinião (ou interesse?) com o rigor técnico e informativo (ou indutivo?) de sempre. Convivamos com isso!”.

Segundo o site Sociedade Militar, Chagas é bastante ligado, além de Bolsonaro, a “ativistas de redes sociais, como a procuradora Bia Kicis, que iniciou nas redes ligada ao grupo anti-pt (escrito assim, em letra minúscula) Revoltados Online”. A ex-procuradora federal, que chegou a acusar a senadora petista Gleisi Hoffmann (PR) de incitar o terrorismo, foi eleita pelo PRP para deputado federal.

Às armas

“Silenciado” pelo cabeça de chapa, Mourão comentou recentemente sobre a proposta de armar a população. “Tenho certeza que Bolsonaro possui meios para defender a sua própria família! Mas e você? Como guardará seus filhos quando eles chegarem com facões, foices e machados na beira da sua cerca?”, questionou.

O general da reserva Oswaldo Ferreira, cotado para o Ministério dos Transportes, contou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que foi um “tenente feliz na vida”, lembrando dos tempos em que não havia Ministério Público e nem Ibama para atrapalhar a construção de estradas. Lembrou da BR-163, entre Mato Grosso e Pará. “Derrubei todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco. Hoje, o cara, para derrubar uma árvore, vem um punhado de gente para encher o saco.”

A aposta é de que um governo Bolsonaro junte os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura, além do Ibama e o Instituto Chico Mendes. Proposta já criticada por especialistas da área e pela subprocuradora-geral da República Sandra Cureau, não exatamente uma adepta do petismo, que falou na possibilidade de “maior retrocesso da história” na área ambiental.

O general Aléssio Ribeiro Souto declarou em entrevista que é “muito forte” a ideia de rever processos e bibliografias curriculares, para evitar influências ideológicas. Segundo ele, livros que não falam “a verdade” sobre o que aconteceu em 1964 devem ser “eliminados” das escolas. 

O militar também defendeu o ensino do criacionismo, segundo qual a vida e o universo provêm de Deus. Hoje, as escolas falam da teoria da evolução, desenvolvida por Charles Darwin. “A questão toda é que muito da escola na atualidade está voltada para a orientação ideológica, tenta convencer de aspectos políticos e até religiosos. Houve Darwin? Houve, temos de conhecê-lo. Não é para concordar, tem de saber que existiu”, diz o general.

Candidatos

Também foi eleito o general Roberto Peternelli, que chegou a ser cotado para presidir a Fundação Nacional do Índio (Funai) na gestão Temer. Agora, com 74.190 votos, tornou-se deputado federal eleito por São Paulo.

Em Minas Gerais, o general Marco Felício (PSL) recebeu 15.151 votos e não conseguiu ser eleito. O general Mário Araújo (PSL) teve um pouco mais, 20.140, mas também não conseguiu vaga.

No Ceará, o general Guilherme Theophilo, que foi recentemente para a reserva, não conseguiu passar para o segundo turno na eleição para o governo estadual. Exceção entre os militares, concorreu pelo PSDB.

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